domingo, 15 de fevereiro de 2009

Zé Limeira, o poeta do absurdo (cordel)

ZÉ LIMEIRA, “O POETA DO ABSURDO”

Na Literatura de Cordel, um nome deve ser lembrado, pela sua coragem de superar toda e qualquer estrutura da nossa poesia. Trata-se de José Limeira, conhecido como “O Poeta do Absurdo”.
Para ele, o importante era chegar até o mote, sempre indiferente à coordenação de palavras ou fatos que eram usados para as devidas métricas e rimas.
William Tejo, um escritor paraibano, fez uma coletânea de trabalhos do poeta José Limeira, colocando-os num livro bastante interessante. Apesar dos meus esforços, nunca consegui adquirir esta valorosa obra.
Como eu sempre fui um admirador incondicional dos poetas repentistas, acompanhando-os em algumas cantorias em Patos, na Paraíba, e em outras cidades circunvizinhas, como São José do Bonfim, Mãe D´Água, Olho d´Água, Quixaba, São Mamede e outras, consegui de alguns poetas, entre eles Sebastião da Silva e Severino Feitosa, alguns exemplos dos trabalhos do “Poeta do Absurdo”.
Portanto, não poderia deixar de, usando a minha criatividade, mostrar para vocês, como José Limeira brincava com os fatos, fazendo uma mistura sadia, alegra e agradável aos nossos ouvidos. Para isso, escolhi o mote “Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida”, em forma de mote em sete sílabas.

QUERO VER QUEM SABE MAIS NO VESTIBULAR DA VIDA
(Mote em 7 sílabas, à moda de José Limeira, o poeta do absurdo)
(Produzido por Adalberto Claudino Pereira)
I
A princesa Isabel se casou com Rui Barbosa,
Mas por causa de uma prosa viajou para a Bahia.
Como ela não queria dar adeus de despedida,
Foi temperar a comida para dar ao capataz.
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
II
Dom João Sexto se banhou na praia de Ipanema,
Mas brigou com Iracema que lhe chamou de caduco,
Por isso Joaquim Nabuco chamou Sansão de querida
Acertaram na ferida do calcanhar de Caifaz,
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
III
Juscelino Kubitschek, descobridor do Japão,
Resolveu comer o pão que o diabo amassou.
A enchente no metrô deixa a cidade falida
Toda mulher enxerida não deixa o homem em paz
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
IV
A mulher de Frankstein foi rainha da beleza,
Mas para sua tristeza não recebeu o troféu.
A sopa caiu no mel, e bagunçou a comida,
Meu tio deu na partida no carro de Barrabás,
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
V
A mulher que fez as tranças nos cabelos de Sansão
Foi a mesma que Adão expulsou do seu jardim.
Na minha terra é assim: ninguém paga a bebida,
Fizeram com a Margarida o que pouca gente faz,
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
VI
Foi no cavalo de Tróia que viajei pro Nordeste,
Onde tem caba da peste e muié macho, sim, senhô.
O homem que tem valor não se perde na corrida,
A laranja espremida, pra suco não serve mais,
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
VII
O profeta Isaias, inventor da impressora,
Jogou a calculadora na cabeça de Jacó.
A guerra de Bodocó, deixou a nação ferida
Minha musa preferida desfilou nos carnavais
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
VIII
Quando Dom Pedro I invadiu a Palestina,
Ainda era menina a Princesa Isabel.
Encontrei Maquiavel com a perna encolhida
Vi Joana D´Arc escondida, com medo de Barrabás.
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.

Um comentário:

  1. Maravilha Adalberto. Eu também conheci Zé Limeira por acaso. Desde então estou sempre brincando "seu estilo" com meus colegas.

    Foi num porto da Bahia
    Que Dom João chegou bem cedo
    Dava pra contar no dedo
    A bagagem que trazia
    Uma dúzia de bacia
    Dois fardos de algodão
    Gasolina de avião
    Do café trouxe a semente
    Duas bíblias uma de crente
    Outra do rei Salomão

    Cristo enforcou Jesus
    Na beira do rio Jordão
    Na noite de São João
    Num galho de cipó-cruz
    Comeu pirão com cuzcuz
    No meio da cabroeira
    Na noite de sexta-feira
    Cantou prosa e rezou missa
    José e Maria castiça
    Diria assim Zé Limeira

    No tempo da ditadura
    Eu rezei pro pai eterno
    Fez sol mas deu bom inverno
    Plantei fava e rapadura
    Veja só que formosura
    A “muié” de Barbosinha
    Se ela tivesse sozinha
    E o cachorro amarrado
    Eu levava ela prum lado
    E uma cuia de farinha

    O pai da aviação
    Por nome Drumon Andrade
    Sem dó e nem piedade
    Se atracou com Lampião
    Na bainha um facão
    Na matula um castiçal
    Gritou pra São Nicolau
    Acuda-me nessa hora
    Disse isso e foi-se embora
    Deixando um cartão postal

    Por causa da Ditadura
    O Brasil foi descoberto
    Um navio chegou perto
    Da curva da ferradura
    Dom Pedro fez a leitura
    Na borda da ribanceira
    Cabral trouxe uma cadeira
    Sem dó e sem ter clemência
    Proclamou a independência
    Diria assim Zé Limeira

    Jesus tirou diplomança
    De doutor em curamento
    No primeiro atendimento
    Passou a faca na pança
    Da mulher do rei da França
    Pra curar a joanéte
    Cego estando o canivete
    A mulher sentiu cosquinha
    Jesus com a cara lisinha
    Disse: "nega se aquete" !!

    Adão foi feito do barro
    Da beira do Rio da Anta
    Parou, bebeu uma Fanta
    Depois fumou um cigarro
    Tava passando um carro
    Com Madalena e João
    Ela tocando pistão
    Ele com a mão nos "joeio"
    Ergueu o dedo do meio
    E apontou pra Adão!

    O pai da "filosomia"
    Por nome Tristão da Cunha
    Teve encravada uma unha
    Prumodi um bãi d'água fria
    Gritô pra Virgem Maria:
    "Valei-me meu Pai Eterno
    Se não fizer bom inverno
    E meu feijão não vingá
    Vendo tudo que sobrá
    Vou pra feira e compro um terno"

    Dom Pedro e Napoleão
    Combinaram casamento
    Compraram apartamento
    Levaram cama e fogão
    Sem luz na escuridão
    Foi aquela "bagunceira"
    Funhaharam a noite inteira
    Depois ficaram de mal
    Hoje é um tal de quebra-pau
    Diria assim Zé Limeira

    Foi quando Napoleão
    Se elegeu Rei do Egito
    Menelau passou-lhe "um pito"
    Abolindo a escravidão
    Dom Pedro com um facão
    Disse: "O Brasil tá liberto"
    Lampião lá no deserto
    Achou aquilo engraçado
    Contratou um advogado
    Seu nome era Zé Roberto

    São João evangelista
    Rezou a missa do galo
    Foi no lombo dum cavalo
    Que Jesus cruzou a pista
    Desceu e mostrou a lista
    Com os quinze testamento
    Assoprou um pé de vento
    Rasgou cinco folha escura
    Só restou dez escritura
    Eu digo falo e sustento


    Um dia no paraiso
    Vi Caim chamando Adão
    Dizendo que o sacristão
    Na missa deu prejuizo
    Da cobra cortou o guizo
    Vendeu por cem mil cruzeiro
    Depois comprou um carneiro
    Assou porém não comeu
    Ouvi de um amigo meu
    Vai chover o mês inteiro

    Na cidade de Belém
    Por volta de meio-dia
    Vi passando uma cotia
    Com um bilhete de trem
    Deu duas notas de cem
    Prum vendedor de peneira
    Eu que voltava da feira
    Vi tudo e fiquei calado
    Mais um dia e tô casado
    Diria assim Zé Limeira

    Um artista aleijadinho
    D'um pau fez esculturança
    Mandou entregar na França
    No lombo de um jumentinho
    Não achando o lugarzinho
    Se livrou do carregado
    E passando num mercado
    Comprou vinho queijo e pão
    Passagem de avião
    Com o dinheiro arrecadado

    Um dia na Galeléia
    Tava Pedro acocorado
    Fazendo força um bocado
    Nisso passou uma "véia"
    "Sai pra lá sua mocréia"
    Disse Pedro em alvoroço
    Foi quando caiu um trôço
    E Pedro desenxavido
    Disse a velha: "ô trem fidido"
    E saiu pisando grosso

    Do cantar, foi no terceiro
    que o galo deu, quando Judas
    se enforcou em duas mudas
    grandes d'um abacateiro.
    Jesus foi quem viu primeiro,
    e fingiu saber de nada.
    Passou Pedro em disparada
    e gritou pra São Thiago:
    "Corre aqui e traz um trago,
    da cachaça amarelada."

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