domingo, 15 de fevereiro de 2009

As lembranças que eu guardo do passado... (cordel)

O mote em decassílabo é construído da seguinte forma, considerando-se o modelo de rimas: A – B – B – A – A – C – C – D – D – C, totalizando dez (10) versos em cada estrofe, sendo que os dois últimos versos representam o próprio mote escolhido. Para uma maior objetividade, apresentamos um exemplo, levando em consideração o mote: “As lembranças que guardo do passado me confortam para viver o presente”.

Fui criança e vivi muito feliz / recebendo carinhos dos meus pais,
Os brinquedos ficaram para trás, / e também outras coisas que eu fiz,
Sempre tive tudo aquilo que eu quis, / nunca tive momentos descontentes,
Estudei, sempre fui inteligente, / também fui por meus pais bem educado,
As lembranças que guardo do passado / me confortam para viver o presente.

Sempre fui um exemplo na escola, / estudando história e português,
Dava show em desenho e francês, / pra passar nunca precisei de cola,
No esporte também fui bom de bola, / mas agora não dou um passo à frente,
A velhice atrapalha muita gente / e é por isso que sempre estou lembrado,
As lembranças que guardo do passado / me confortam para viver o presente.

Quando eu era pequeno eu vivia / mais feliz, com amor por todo o lado,
Pelas moças eu era bajulado, / em seus braços babava de alegria,
Dava pulos, dançava e sorria, / pois ali eu ficava mais contente,
Mas agora, já velho e descontente, / na bengala eu vivo escorado,
As lembranças que guardo do passado / me confortam para viver o presente.

Na infância a vida é mais gostosa, / apesar dos momentos de castigos,
Não esqueço também os meus amigos / e mamãe cada vez mais carinhosa,
A vizinha andando bem charmosa, / meu cachorro, pequeno mas valente
E meu pai, que falava duramente, / parecendo estar mal humorado,
As lembranças que guardo do passado / me confortam para viver o presente.

Era bom namorar a menininha / e brincar de peteca nas calçadas,
Beliscar as meninas assanhadas / e sonhar com a filha da vizinha,
A tristeza era coisa que eu não tinha, / apesar de ser pouco inocente,
A certeza de ser velho é patente, / mas ninguém se declara conformado,
As lembranças que guardo do passado / me confortam para viver o presente.

Se nós somos crianças inseguras, / nosso sonho é ganhar a liberdade,
E lutar para ter felicidade / e viver uma vida de fartura.
Não sabia que havia a amargura / de ser velho, caduco e impotente,
É melhor ser criança novamente, / para ser outra vez babaricado,
As lembranças que guardo do passado / me confortam para viver o presente.

Vi meu pai comentando certa vez: / “sinto falta da minha mocidade,
Ai, meu Deus, como eu tenho saudade / quando eu tinha apenas vinte e três,
Eu invejo esta vida de vocês, / mas espero encontrá-los lá na frente,
Como eu, velho, fraco e impotente / e dizendo assim desesperados:
As lembranças que guardo do passado / me confortam para viver o presente”.

(Adalberto Claudino Pereira)

Nenhum comentário:

Postar um comentário