quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Aprenda Português em um mês - Parte 4

POSSÍVEL / SÓ

Como e quando devemos usar as palavras POSSÍVEL e SÓ? Há alguma dificuldade? Para respondermos as perguntas feitas, não só por alunos, como também por outras pessoas e até por universitários, vamos por etapa. Comecemos por POSSÍVEL.
Ao acompanhar expressões superlativas como O MAIS, A MENOS, O MELHOR, A PIOR, OS MAIORES, AS MENORES, a palavra possível deve sofrer as variações necessárias, de conformidade com o artigo dessas expressões. Vejamos os exemplos:
a) “Dos carros, eu quero O MAIS barato possível!”
b) “Eles alimentam AS MELHORES idéias possíveis, para o bem-estar de todos.”
c) “Eu quero que você escolha O MELHOR momento possível para seus filhos.”
d) “AS MENORES idéias não serão possíveis num momento como este.”
e) “Recebeu OS MAIORES elogios possíveis.”
f) “As previsões para o dia seguinte foram AS PIORES possíveis.”
Queremos fazer uma ressalva, quanto ao uso da expressão QUANTO POSSÍVEL. É que se trata de uma expressão invariável. Vejamos esses exemplos:
a) “Proporcionou-lhes todo o conforto quanto possível.”
b) “Obteve bons resultados quanto possível.”
Quanto ao uso da palavra SÓ, podemos ficar diante de duas situações distintas: a primeira, quando ela aparece como um adjetivo. Nesse caso, ela equivale a sozinho e concorda normalmente com o nome a que se refere; a outra situação é quando ela aparece como um advérbio. Nesse caso, ela equivale a somente e, naturalmente, não sofre qualquer tipo de alteração, ou seja, é uma palavra invariável. Vejamos alguns exemplos:
a) “Durante todo o dia ela resolveu ficar só, sem a presença de amigos.”
b) “Durante todo o dia elas revolveram ficar sós, sem a presença de amigos.”
c) “Depois do terremoto só restaram ruínas e cadáveres espalhados pela cidade.”
d) “Eles só esperam que os pais sejam menos exigentes e mais tolerantes.”
No caso de termos uma locução adverbial, a palavra a sós é invariável, conforme podemos ver nos exemplos seguintes:
a) “Nós gostaríamos de ficar a sós com o réu, por um instante!”
b) “Sabemos que os noivos precisam ficar a sós.”
c) “Eu fiquei a sós com o visitante para tratarmos da viagem de volta.”

FAZ ou FAZEM?

Você sabia que ainda existem pessoas que não sabem como escrever o verbo fazer em algumas circunstâncias? Pois é verdade! Muita gente ainda tem dúvidas no momento de escrever ou pronunciar, por exemplo, a frase “Faz muitos anos que não te vejo!”. Por isso é que muitos preferem dizer “Faz muito tempo que não te vejo!”. Fica bem mais cômodo, não!!!
Bem, em primeiro lugar precisamos saber que os verbos HAVER (no sentido de existir) e FAZER (no sentido de tempo decorrido), são verbos impessoais. Por isso, devem permanecer na terceira pessoa do singular. Vejamos os exemplos:
a) “Havia grandes compromissos a serem cumpridos.”
b) “Fazia vinte anos que meus pais estavam fora do Brasil.”
c) “Vai fazer três anos, amanhã, que nos conhecemos. Lembra-se?”
d) “Deve haver muitos problemas para serem solucionados!”

COMO USAR O VERBO SER?

O uso do verbo SER ainda é um sério problema para muita gente. Sempre há uma dúvida no momento de falar ou escrever frases como “Hoje são dez de dezembro de 2005”. Essa dúvida pode acabar a partir do momento em que você aprender que o verbo SER deve concordar, obrigatoriamente, com o seu predicativo quando este indicar tempo, data ou distância, como podemos ver nos exemplos seguintes:
a) São cinco horas da tarde. / É uma hora da tarde.
b) São dez quilômetros de distância. / A distância é de apenas um quilômetro.
c) Hoje são cinco de junho de 2005. / Hoje é primeiro de abril de 2005.
Uma observação importante: quando o verbo SER indicar tempo ou distância, ele deve concordar com o primeiro numeral que aparecer. Vejamos os seguintes exemplos:
a) É uma hora e quarenta minutos.
b) Já são vinte para as oito.
c) É mais de uma hora da manhã.
d) Já são mais de onze hora da noite.
e) Serão mais de vinte quilômetros até a próxima cidade.
f) É mais de um quilômetro de árvores plantadas.
Para muitas pessoas, inclusive professores, o uso do verbo SER é um tanto complicado. Certo dia, numa livraria na cidade do Gama, DF, duas pessoas discutiam quanto ao uso correto da frase: “Fulano e Beltrano são a esperança de Brasília”. Um dizia que a expressão estava correta, enquanto o outro contestava. De repente, chega uma professora de Português. Os dois se dirigem a ela: “Que bom, você chegar, professora! Nós estamos numa dúvida quanto ao uso desta frase (repetiram a frase para a professora). Sem pensar duas vezes, a “mestra” respondeu: “A frase está errada. A forma correta é Fulano e Beltrano é a esperança de Brasília”. Um deles, mostrando uma certa euforia comentou: “O negócio é falar com quem sabe!”.
Vocês perguntariam: A professora estava com a razão?”. Eu responderia que não, visto que, ao substituir “Fulano e Beltrano” por ELES, diríamos: “Eles são a esperança de Brasília” e não “Eles é a esperança de Brasília”. Com certeza aquela professora deu um grande fora, demonstrando que precisa ter mais intimidade com a disciplina que leciona. Quem sabe, ao fazer uma rápida pesquisa, ela não tenha descoberto o “fora” que deu naquele momento!
A língua Portuguesa é cheia de expressões que deixam muita gente “a ver navios”. Vejamos, como exemplos algumas afirmativas por nós captadas em programas de televisão:
No dia 22 de setembro de 2006, às 12:48, durante o “Jornal Hoje”, da Rede Globo de televisão, o apresentador Evaristo Costa falou: “Um trem bate a 200 quilômetros por hora na Alemanha”. Veja que a manchete dá a entender que a Alemanha foi atingida por um trem que vinha a duzentos por hora. E como deveria ficar a redação da manchete? – perguntariam vocês. Bem. Vamos refazê-la da seguinte forma: “Na Alemanha, um trem bate a 200 quilômetros por hora”. E agora! Notaram alguma diferença? Se tem alguma dúvida, leia mais uma, duas, três vezes, se necessário.
No dia 06 de agosto de 2006, antes de um jogo amistoso da Seleção Brasileira de Futebol contra a Seleção da Noruega, ao ser entrevistado por uma emissora de TV, o técnico Dunga assim se expressou: “Será um jogo dificilíssimo...”. Veja como ele exagerou no superlativo que, na realidade seria dificílimo.
Muitas frases são usadas de forma a colocar-nos diante de situações que nos levam a interessantes questionamentos. Vejamos o que captamos durante a apresentação de uma das audições do programa “Barra Pesada”, levada ao ar no dia 12 de maio de 2006: “Foi preso por porte ilegal de moedas falsas...”. Á primeira vista, vocês poderiam perguntar onde estaria o erro. Mas se atentarmos para a realidade, chegaremos à conclusão de que não existe porte legal para moedas falsas. Neste caso, a notícia ficaria assim: “Foi preso por porte de moedas falsas...”. Dispensa-se a palavra ilegal.
No dia 05 de setembro de 2006, durante o jogo Gama X Sport do Recife, no Estádio Mané Garrincha, o comentarista Carlos Alberto Remo, da Rádio Planalto, ao fazer comentários a respeito de uma substituição, assim se expressou: “Eu faria o contrário”. Pergunta-se: como fazer o contrário? Certamente ele quis dizer que faria diferente.
Vocês já ouviram com atenção aquela música que o Roberto Carlos canta, fazendo parceria com a dupla Chitãozinho e Xororó, quando ele diz: “... eu penso nela mas ela também pensa em mim...”? Bem, se vocês atentarem bem para a conjunção coordenada adversativa MAS, descobrirá que não existe na frase nenhuma adversidade, uma vez que assim como ele pensa nela, ela também pensa nele. Logo, a adversativa MAS só caberia se ele dissesse: “... eu penso nela MAS ela não pensa em mim...”. Considerando-se a afirmativa inicial, a frase correta seria: “... eu penso nela E ela também pensa em mim...”.
OBS.: A conjunção coordenativa E pode substituir a adversativa MAS. No entanto, a adversativa MAS em hipótese alguma pode substituir a aditiva E. Vejamos os exemplos:
a) O aluno estudou E não conseguiu boas notas. (adversativa)
b) O aluno estudou MAS não conseguiu boas notas. (adversativa)
c) O aluno estudou E conseguiu boas notas. (aditiva)
No início desse estudo, falamos sobre Pleonasmo, lembra-se? Agora, resolvemos rememorar o assunto para mostrar algumas colocações que costumamos usar, sem percebermos que estamos fazendo uso de Pleonasmos. Quantas vezes você chegou em algum restaurante e pediu uma canja de galinha, não? Pois fique sabendo que não existe canja que não seja de galinha. Logo, bastaria pedir uma canja e pronto.
Quantas vezes você disse para um amigo ou uma amiga que havia muita gente na rinha de galo? Agora, pergunta-se: por acaso você já viu rinha que não seja de galo? É, mas as coisas não param por aí! Já ouvi alguém dizer: “Vamos formar um elo de ligação!”. Seria ridículo se formássemos um elo que não fosse de ligação, não acha?
Quer mais? Então lá vai outra: você já ouviu alguém dizer “quero uma cocada de coco”? Toda cocada é de coco. Portanto, peça apenas uma cocada e nada mais.
Você já escreveu uma carta alguma vez? Então vejamos: se carta é “um escrito que se envia a alguém com cumprimentos, pedidos, ordens, notícias, etc.” (dicionário Larousse Cultural), por que escrevê-la novamente? Então, diga apenas vou escrever à minha prima; ao meu primo; ao meu irmão, etc. A carta você apenas envia. OK?
Não dê muita importância às pessoas que dizem: “Você tem um futuro promissor pela frente!”. Se futuro só pode ser pela frente, logo, basta dizer: “Você terá um futuro promissor!” e pronto.
É por essas e muitas outras que precisamos ter bastante cuidado com o que falamos e com o que escrevemos. Podemos, por negligência, ser criticados por pessoas que não suportam esse tipo de comportamento.
Existem perguntas que pessoas inteligentes nem devem escutá-las, quanto mais respondê-las. Sei que você já ouviu alguém perguntar, por exemplo: “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”. Para dar uma resposta sem dar oportunidades a possíveis contestações, citaremos as revelações bíblicas:
“... Assim Deus criou os grandes monstros do mar, e todas as espécies de seres vivos que em grande quantidade se movem nas águas, e criou também todas as espécies de aves (...) Ele abençoou os seres vivos do mar e disse: - Aumentem muito em número e encham as águas dos mares! E que as aves se multipliquem na terra! (Gênesis 1:21, 22).
Ora, Deus não fez primeiro o ovo. Ele fez todas as aves, ou seja, fez galinhas, galos, perus, gansos, águias, avestruzes, pombos, etc. Os ovos são células que resultam de uma fecundação, responsáveis pela vida de novos seres. Logo, eles se formam depois de uma relação íntima entre macho e fêmea. Conclui-se que o ovo é um produto da galinha e não a galinha um produto do ovo.
O que você diria se alguém lhe perguntasse: “Quem nasceu primeiro, o ovário ou a mulher?”. Considerando que a mulher é uma criação Divina, certamente você responderia que a mulher nasceu primeiro. Esta lógica não é nada diferente da lógica do ovo e da galinha. Tenha plena certeza disso!
Certa vez minha filha perguntou como se escreve a palavra ôxe. Respondi-lhe perguntando se ela sabia a origem daquela palavra. Ela respondeu não.
Bem. Acredito que muitos também não sabem. Portanto, aqui vai uma explicação: Diante de uma admiração, as pessoas mais cultas costumam usar a expressão “Oh, gente...!” Essa expressão chegou até à zona rural das cidades interioranas do Nordeste, onde uma parte das pessoas ainda não alcançaram um nível cultural. Assim, ela passou a ser pronunciada: “ô xente...!”. Como parte da nossa população gosta de resumir as coisas, chegamos ao tão usado “ôxe...!”
Vocês perguntariam: “e qual delas é a mais adequada para usarmos?” Eu diria que, para quem pretende usar uma linguagem culta, o mais correto será pronunciar, por exemplo: “Oh, gente, por que tanta preocupação, se a vida nos oferece tantas oportunidades!”.
Se quisermos imitar aquelas pessoas menos cultas, utilizando uma linguagem coloquial, tanto faz dizermos “ô xente!”, como “ôxe!” Vejamos os exemplos seguintes:
a) “Ô xente! Deixem de tanta gritaria! Tem gente dormindo!”
b) “Ôxe! Falem baixo! Essa gritaria tá me incomodando!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário