domingo, 15 de fevereiro de 2009

Reforma Ortográfica para quê?

Reforma Ortográfica para quê?

O que dizer da recente reforma ortográfica? Qual o seu objetivo maior? O que seria da nossa gramática sem ela? Por que tanta preocupação com a permanência ou não dos acentos em determinadas palavras?
Estas perguntas são algumas das muitas feitas por estudiosos da Gramática Normativa. Uns chegam até a afirmar que não foi uma idéia feliz e que nenhuma contribuição trouxe para o estudo da Língua Portuguesa. Outros arriscaram dizer que isso só causou prejuízos aos bolsos dos pais de alunos, principalmente os de classe baixa, que se viram obrigados a comprar novas gramáticas.
Recentemente, fiquei pasmado diante de uma pesquisa realizada na capital da República, considerando a situação de insegurança por que passam os professores, diretores e outros funcionários da rede pública de ensino. Faço questão de repassar para os que ainda alimentam a esperança de mudanças no nosso sistema educacional.
A estarrecedora pesquisa diz que 76% dos alunos das escolas públicas de Brasília afirmam ter acesso às armas; 36% deles disseram já terem ouvido tiros dentro ou nas imediações das escolas públicas; 40% dos professores da rede pública de ensino dizem que os maiores problemas por eles enfrentados são as gangues dentro das escolas; 40% dos diretores chegam a admitir a existência de drogas nas escolas públicas. Acredito que em outros Estados a situação não é diferente.
Em Brasília, o professor Carlos Mota, de 44 anos de idade, diretor da CEF 4 (Centro de Ensino Fundamental 4) no Lago Oeste, foi assassinado na porta de sua casa, sem a mínima chance de se defender. Sabem por quê? Por estar combatendo o tráfico de drogas em sua escola. O crime aconteceu em junho de 2008.
Um tal de Gilson de Oliveira, mais conhecido como “Gaúcho”, que fora impedido pelo professor Carlos Mota, de entrar no CEF 4 para vender drogas, não pensou duas vezes para contratar os serviços de três assassinos: Carlos Lima do Nascimento, conhecido como “Gabiru” (22 anos), Benedito Alexandro do Nascimento (20 anos) e Alessandro José de Sousa (19 anos).
Em São Paulo, segundo pesquisa recente, 80% dos professores da rede pública de ensino já foram agredidos pelos alunos. Um percentual bastante preocupante, principalmente quando se leva em consideração o valor e o respeito que o professor deveria ter pelo que ele representa no contexto sócio-cultural do país.
Mas, infelizmente, justamente no momento em que sentimos uma necessidade premente de leis severas contra os perseguidores dos professores, a preocupação maior dos “intelectuais” é adequar a nossa gramática ao “avançado” nível cultural de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Guiné Equatorial, Macau, Timor Leste e São Tomé e Príncipe.
Para um melhor esclarecimento, faço questão de mostrar a população de alguns desses famigerados países: Cabo Verde tem cerca de 500.000 habitantes; Guiné Equatorial, 617.000; Macau, 538 .000, São Tomé e Príncipe, 157.000. Se somarmos as populações desses quatro países, chegaremos a um resultado impressionante de 1.812.000 habitantes, ou seja, o equivalente à metade da população de Salvador.
A grande verdade é que a Reforma do Sistema Educacional Brasileiro, imposta não sei por quem, teve como objetivo principal espoliar a autoridade daqueles que fazem a história da nossa educação. Nunca em toda a história do Brasil, os docentes estiveram tão inseguros e tão expostos aos bandidos travestidos de estudantes, que invadiram as nossas escolas públicas, colocando em pânico os que nelas TRABALHAM com amor e dignidade.
Causa-nos admiração ao saber que, até o presente momento e mesmo diante de tantos fatos horripilantes envolvendo as escolas da rede pública, o Governo não tenha se pronunciado a respeito. Desde as primeiras denúncias (e isso já faz muito tempo), esperava-se uma posição rígida da Presidência da República, no sentido de coibir tamanho desmando e garantir a preservação da integridade moral e física dos professores.
Diante de tudo isso, chega-se a uma lógica, evidente e concreta conclusão: não precisamos de reformas ortográficas e sim de uma reforma imediata no nosso Sistema Educacional, devolvendo aos professores o direito de viverem em segurança, dando a sua família a certeza de que voltarão para casa depois de uma longa e cansativa jornada de trabalho.

(Adalberto Claudino Pereira – Brasília, 11/02/2009)

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