domingo, 15 de fevereiro de 2009

Desejos de Sertanejo (cordel)

Você, como nordestino, ou simplesmente admirador da Literatura de Cordel, já pensou nos desejos de um cidadão que vive na roça, enfrentando o sol causticante e sofrendo com a falta de chuvas para a manutenção da família, dos animais e do próprio roçado? Se você perguntasse ao agricultor, ao roceiro, ao fazendeiro ou ao granjeiro qual o seu maior desejo, com certeza você ouviria deles os seguintes “DESEJOS DE SERTANEJO”:

Queria viver na roça sob a luz de um lampião,
Ver meu cavalo pastando e um caipira cantando
Sob o som de um violão!

Queria tá numa rede balançando na varanda,
Vendo as águas do riacho descendo de morro abaixo
Como a Natureza manda!

Queria ver a cabrocha com um vestido de chita
Mostrando a cintura fina, no seu jeito de menina,
Desfilando como artista!

Queria ouvir os poetas rimando com perfeição
E num trabalho preciso, cantando de improviso
As coisas do meu sertão!

Queria ver o meu gado desfilando nas estradas,
Ver o vaqueiro Tião montando num alazão,
Sendo herói das vaquejadas!

Queria ver minha roça com batata e macaxeira,
Ver o milho e o feijão se arrastando pelo chão
E subindo a ribanceira!

Queria ver os açudes com as águas cristalinas,
Ver pescadores pescando e os poetas se inspirando
Nas estrelas matutinas!

Queria ver nas fazendas gloriosas vaquejadas,
Cavalos emparelhados em duelos arrojados
Nas poeiras levantadas!

Queria ouvir o abôio e o som de um berrante,
Comer um feijão tropeiro, carne assada no braseiro
E um pirão bem picante!

Queria ver a sanfona tocando no meu sertão,
Ver as fogueiras queimando e as cabrochas dançando
Nas noites de São João!

Queria ver dona Joana fazendo crochê e tricô,
Ver a vovó na calçada, numa cadeira sentada.
Abraçada com o vovô!

Queria fazer serenatas nas noites enluaradas,
A morena na janela e eu cantando pra ela
As canções apaixonadas!

Queria ouvir o gemido do velho carro de boi,
Ver o sorriso de alguém, a alegria de quem vem
No lugar de quem se foi!

Queria ver “seu” Fulgêncio preparando a cangalha,
O jumento relinchando e o velho Bento enrolando
O seu cigarro de palha!

Queria ouvir o abôio do vaqueiro varonil,
Os repiques das violas, o bê-a-bá nas escolas,
Futuro do meu Brasil!

Queria ver o Nordeste de homem forte e valente,
Um forró de pé-de-serra, a paz vencendo a guerra
No sertão sério e decente!

Queria ver Zé Vicente arrancando mandioca,
Ir pra casa de farinha, depois levar pra cozinha
Pra fazer a tapioca!

Queria ver o roçado repleto de plantação,
Ver limpeza nas cidades e a nossa humanidade
Longe da poluição!

Queria ver mais respeito ao homem trabalhador,
Ver o fim da delinqüência, o combate à violência,
Seja do jeito que for!

Queria ver gente séria no Congresso Nacional,
Acabar com o “mensalão” e mandar para a prisão
O político marginal!

(Adalberto Claudino Pereira)

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