quinta-feira, 5 de março de 2009

Repentes e Repentistas (livro) - Parte 06



Existe um outro estilo muito interessante, conhecido como “Rojão Pernambucano”, e que ainda não tínhamos destacado ao longo deste trabalho. Ele também é bastante solicitado, devido a um trocadilho em forma de antítese, cantado no final de cada estrofe.

Quando eu lecionava Língua Portuguesa na Escola Luiz Gonzaga Duarte, mais conhecida como CERu, resolvi mostrar aos meus alunos a importância da Literatura de Cordel, oportunidade em que sugeri a presença de uma dupla de poetas repentistas, o que foi aceito de imediato pelos alunos.

Dias depois, levei a idéia ao conhecimento da Direção da escola que, “in loco”, autorizou colocá-la em prática. Para isso, convidei os poetas José Melquíades e Reinaldo Ribeiro, que haviam vencido o Primeiro Festival de Poetas Repentistas da Região do Araripe, realizado em Araripina.

Na impossibilidade de estar presente, o Reinaldo Ribeiro foi substituído pelo também poeta Assis Rosendo, que já fora professor em épocas passadas. A aula foi um verdadeiro sucesso, ao ponto de levar a diretoria a liberar as outras turmas para assisti-la.

E foi justamente naquele momento que os poetas cantaram o “Rojão Pernambucano”. Eis algumas partes:

J. M. – Eu namorei uma moça / que era muito engraçadinha,
Eu da porta da cozinha / gritava: - filha me ouça!
Mas eu só beijava à força. / Quando ela percebia,
Numa porta ela fugia, / pela outra eu entrava.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.

A. R. – Arranjei um casamento / com uma moça já idosa,
Que não gostava de prosa, / mas tinha consentimento,
Aí, naquele momento / sempre ela me dizia
Que a mim não me queria / e nem também me amava.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.

J. M. – Eu fui dar com Gabriela / um passeio de avião,
No campo de aviação / foi peleja minha e dela,
Para entrar eu e ela / o avião não cabia,
Eu ficava e não subia, / depois ela embarcava.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.

A. R. – Arranjei um casamento / com uma bela menina,
Na cidade de Campina / ela fez um juramento
Porém naquele momento / todo mundo já dizia
Que ela não me queria, / pois a outro ela amava.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.

J. M. – Namorei Aparecida, / mas mãe não gostava dela,
Eu só namorava ela / na casa da Margarida,
Minha mãe, muito sabida, / ia lá pra ver se via,
Por uma porta eu saia, / por outra mamãe entrava.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.

A. R. – Namorei uma menina, / filha de um pai valente,
O seu nome era Vicente / e morava em Petrolina,
Porém em Araripina / ela chegou certo dia,
Quando a mãe dela sabia, / o amor ela negava.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.

J. M. – Viajei num trem de feira / com minha noiva Raimunda,
Quando eu ia de segunda / ela ia de primeira,
Eu pulava pra terceira, / pra segunda ela corria,
Quando eu pra primeira ia, / pra segunda ela voltava.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.
Quando eu ia ela voltava, / quando eu voltava ela ia.

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Em homenagem aos grandes poetas repentistas, que eu vira ou ouvira cantar, resolvi realizar um trabalho que já fora registrado em outro trabalho nosso. O título, modéstia à parte, foi bastante sugestivo, pelo menos é o que muitos têm dito por aí: “Os Heróis do Repente”. Vejamos como ficou:

Eu reservei este espaço com bastante alegria
Pra prestar uma homenagem ao mundo da poesia
E falar sobre os poetas que eu vi cantar um dia.

É bonito ouvir repentes de cantadores famosos,
O repicar das violas e os versos preciosos,
Enaltecendo os valores de repentistas ditosos.

É bonito ouvir sextilhas e Galope à Beira-mar,
Um Coqueiro da Bahia que nos faz até lembrar
O velho Brasil Caboclo, retrato do meu lugar.

Tem também a Gemedeira, que é do poeta o lamento,
O Martelo Alagoano, outro grande sentimento,
E o Martelo Miudinho, inspiração do momento.

O repentista é um gênio, tem passado e tem presente,
Penetra na economia e fala do Onipotente,
Entende até de esportes, a paixão de muita gente.

Não esquece as ciências e as coisas da natureza,
Lembra a tecnologia com toda a sua clareza,
Da política vê as falhas e da mulher, a beleza.

Agora, caros poetas, grandes heróis do repente,
Quero citar alguns nomes que guardo na minha mente,
Cantadores do Nordeste, orgulho de minha gente.

Velho Pinto do Monteiro, exemplo de inteligência,
Ivanildo Vila Nova, um poeta com essência,
E Moacir Laurentino, acervo de eloqüência.

Oliveira de Panelas, grande improvisador,
Com Sebastião da Silva, um poeta de valor,
Orgulhando a poesia, cantando com destemor.

Valdir Teles, Zé Galdino, Louro Branco, Zé Morais,
Barra Azul e Ney Ricardo, grandes profissionais,
Divulgam filosofia herdada dos ancestrais.

José Melquíades também canta as coisas do Sertão,
Com o Reinaldo Ribeiro, fruto desta geração,
Levando pelo Nordeste sua improvisação.

A beleza dos repentes de Otacílio Batista
Resplandece no horizonte o valor do grande artista,
Ao lado do irmão Dimas, que nunca foi egoísta.

Vou citar José Gonçalves e Borboleta do Norte,
O Severino Ferreira, que é também um braço forte,
Adalberto de Carvalho, um xará de muita sorte.

Tem Severino Feitosa, outro jovem de valor,
Assis Rosendo que canta pra chapeado e doutor,
E Vitorino Bezerra, que da arte é professor.

Lembro Cícero Bernardes, um orgulho pra Campina,
E o Antônio Lacerda, herança de Araripina,
Dois nomes que a poesia diante deles se inclina.

Sebastião Dias está entre os grandes repentistas,
Com o Edvan Ricardo e também o João Batista,
Grandes vultos incluídos no rol dos grandes artistas.

Antônio Ricardo canta com muita sinceridade,
E Carlos Antônio ganha força e prosperidade,
Transformando a viola na arma da lealdade.

Falo em Francion da Silva, repentista competente.
E em Francisco Sobrinho, outro cidadão decente
Que, a exemplo dos demais, cantas as coisas da gente.

Não esqueço Antônio Américo, cantador das madrugadas,
Que na Rádio Espinharas dizia coisas sagradas,
Citando o Santo do dia nas sextilhas bem rimadas.

Deusdethte Bandeira tem o seu jeito diferente,
Pra cantar com lealdade as belezas do repente,
Colando a viola fria nas carnes do corpo quente.

Patativa do Assaré, fazendo seus trocadilhos,
Representa o Ceará sem nunca sair dos trilhos,
Mostrando da poesia os incandescentes brilhos.

Manuel Xudu que partiu para um mundo diferente,
Já me prestou homenagens cantando belos repentes,
Com Cancão, na Eternidade, só canta em sonhos pra gente.

Foram estes os poetas que eu vi cantar um dia
Representando a cultura com coragem e ousadia,
Registrando nos seus versos a sua filosofia.

OBS.: Aproveito este espaço para prestar uma sincera homenagem a todos os milhares de poetas repentistas, espalhados por este imenso país e que, por motivos justificáveis não foram aqui citados. Eles também estão entre os grandes “HERÓIS DO REPENTE”.
(Adalberto Claudino Pereira)

Você, como nordestino, ou simplesmente admirador da Literatura de Cordel, já pensou nos desejos de um cidadão que vive na roça, enfrentando o sol causticante e sofrendo com a falta de chuvas para a manutenção da família, dos animais e das próprias culturas? Se você perguntasse ao agricultor, ao roceiro, ao fazendeiro ou ao granjeiro qual o seu maior desejo, com certeza você ouviria deles os seguintes “DESEJOS DE SERTANEJO”:

Queria viver na roça sob a luz de um lampião,
Ver meu cavalo pastando e um caipira cantando
Sob o som de um violão!

Queria tá numa rede balançando na varanda,
Vendo as águas do riacho descendo de morro abaixo
Como a Natureza manda!

Queria ver a cabrocha com um vestido de chita
Mostrando a cintura fina, no seu jeito de menina,
Desfilando como artista!

Queria ouvir os poetas rimando com perfeição
E num trabalho preciso, cantando de improviso
As coisas do meu sertão!

Queria ver o meu gado desfilando nas estradas,
Ver o vaqueiro Tião montando num alazão,
Sendo herói das vaquejadas!

Queria ver minha roça com batata e macaxeira,
Ver o milho e o feijão se arrastando pelo chão
E subindo a ribanceira!

Queria ver os açudes com as águas cristalinas,
Ver pescadores pescando e os poetas se inspirando
Nas estrelas matutinas!

Queria ver nas fazendas gloriosas vaquejadas,
Cavalos emparelhados em duelos arrojados
Nas poeiras levantadas!

Queria ouvir o abôio e o som de um berrante,
Comer um feijão tropeiro, carne assada no braseiro
E um pirão bem picante!

Queria ver a sanfona tocando no meu sertão,
Ver as fogueiras queimando e as cabrochas dançando
Nas noites de São João!

Queria ver dona Joana fazendo crochê e tricô,
Ver a vovó na calçada, numa cadeira sentada.
Abraçada com o vovô!

Queria fazer serenatas nas noites enluaradas,
A morena na janela e eu cantando pra ela
As canções apaixonadas!

Queria ouvir o gemido do velho carro de boi,
Ver o sorriso de alguém, a alegria de quem vem
No lugar de quem se foi!

Queria ver “seu” Fulgêncio preparando a cangalha,
O jumento relinchando e o velho Bento enrolando
O seu cigarro de palha!

Queria ouvir o abôio do vaqueiro varonil,
Os repiques das violas, o bê-a-bá nas escolas,
Futuro do meu Brasil!

Queria ver o Nordeste de homem forte e valente,
Um forró de pé-de-serra, a paz vencendo a guerra
No sertão sério e decente!

Queria ver Zé Vicente arrancando mandioca,
Ir pra casa de farinha, depois levar pra cozinha
Pra fazer a tapioca!

Queria ver o roçado repleto de plantação,
Ver limpeza nas cidades e a nossa humanidade
Longe da poluição!

Queria ver mais respeito ao homem trabalhador,
Ver o fim da delinqüência, o combate à violência,
Seja do jeito que for!

Queria ver gente séria no Congresso Nacional,
Acabar com o “mensalão” e mandar para a prisão
O político marginal!

(Adalberto Claudino Pereira)

3 comentários:

  1. parabéns pelo blog.
    Realizamos o I Encontro de repentistas Evangélicos de Olinda, no dia 17 de Novembro de 2009, em Olinda(Capital Nacional da Cultura).
    Presença de:
    Repentista Embolador - Irmão Tomaz(Ex-Caximbinho);
    Repentistas Violeiros:
    Isaias Olimpio(PE.) e André Luis(PB.);
    João Batista Sobrinho(CE.) e Aparecido Ribeiro(CE.);
    João Luiz(PB.) e Francisco Emidio(CE.);
    Apresentação do encontro: Silvano Lyra.
    Iniciativa: UPH das Igrejas Presbiterianas de Peixinhos - Olinda-PE.
    Em breve faremos o lançamento do DVD que será vendido ao preço de R$ 15,00 e enviaremos para todo o Brasil.
    Pedidos Silvano Lyra: (81) 99790989(Tim); (81) 92725192(Claro); (81) 32420272 fixo.
    Veja no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=xK9vPQrlMNY

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  2. Confirmado:
    Lançamento do DVD do I Encontro de Repentistas Evangélicos de Olinda;
    Dia 30 de Janeiro às19:30 horas.
    Local: Nascedouro(antigo Matadouro) Peixinhos Olinda-PE.
    Venha conhecer Olinda- Capital Nacional da Cultura.
    (81) 32420272 99790989 92725192 Silvano Lyra

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  3. II Encontro de Repentistas Evangélicos de Pernambuco
    30 de Janeiro 2010
    19horas Teatro do Nascedouro Peixinhos- OLinda-PE.
    Presença de 14 poetas
    (81)99790989 92725192 Silvano Lyra

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