segunda-feira, 9 de março de 2009
Repentes e Repentistas (livro) - Parte 10
Um detalhe que não poderia passar despercebido neste trabalho é, sem sombra de dúvidas, as riquezas como são feitos os motes colocados diante dos poetas repentistas para serem desenvolvidos. Vale a pena destacar alguns que tenho ouvido através de repentistas famosos. Vejamos que beleza de mote cantado por Sebastião da silva e Geraldo Amâncio: “Se eu pudesse comprava a mocidade
Nem que fosse pagando à prestação.”
Outro mote de extraordinária grandeza é este que, infelizmente, não consegui memorizar os poetas que o cantaram: “Quem passar no sertão corre com medo
das caveiras dos bois que a seca mata.”
No Primeiro Congresso de Poetas Repentistas da Região do Araripe, realizado na cidade de Araripina e que eu tive a honra de promover, um dos motes que despertou a atenção do público foi de autoria do poeta Zé Morais. Vejam que coisa maravilhosa: “O pecado do crime é tão pesado, Que a balança de Deus fica tremendo.”
Vejamos outros motes extraordinários cantados por grandes poetas, cujos autores ainda desconheço:
• “Nosso mundo soluça agonizante no abismo da guerra nuclear.”
• “Quem odeia a sagrada poesia, não entende das coisas que Deus fez.”
• “As lembranças que guardo do passado me confortam para viver o presente.” (A.C.P.)
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No século XVI, existiu em Portugal, mais precisamente na Vila de Trancoso, Distrito de Guarda, um escritor, cujo nome era Gonçalo Fernandes Trancoso. Chega-se a dizer que foi ele o primeiro escritor de novelas em Portugal e na Espanha.
O nome “Trancoso”, por sinal, não é nada desconhecido. Geralmente, ouvimos alguém dizer: “isso é história de trancoso”, o que significa afirmar que se trata de uma lenda, de uma história de autor desconhecido. Se realmente as histórias de trancoso são apenas lendas ou crendices, de uma coisa estamos certos: elas eram contadas freqüentemente pelos pais aos filhos, muitas vezes para fazê-los dormir, ou para servir de exemplos contra a prática do mal.
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Achei interessante a biografia do grande e inesquecível poeta Manoel d´Almeida Filho, contida em uma de sua obras publicadas pela Luzeiro Editora Limitada, a quem peço permissão para transcrevê-la aqui. Assim é descrito o poeta:
“Manoel d´Almeida Filho nasceu em Alagoa Grande – PB, em 13 de outubro de 1914. Ainda adolescente, versava as histórias de Trancoso, contadas por seu pai, mas só publicou seu primeiro folheto em 1936 (A menina que nasceu pintada com unhas de pontas e sobrancelhas raspadas). Também foi cantador. Já versou mais de cento e cinqüenta obras, sendo considerado o maior poeta da Literatura de Cordel de todos os tempos. É autor do mais longo romance em versos até hoje escrito: O Direito de Nascer, em 719 estrofes; deve, porém, seu renome não à quantidade de suas obras, mas à qualidade, pois sempre muito inspiradas e caracterizadas pela correção da linguagem (...). Em sua obra (a mais extensa da literatura popular brasileira) distingue-se Os cabras de Lampião, onde, a par da fidelidade histórica (fruto de minuciosas pesquisas), encontra-se inspiração viva e espontânea – é a melhor obra de cordel sobre o famoso cangaceiro.”
UM HOMEM IGUAL A TODOS
Na cidade de Patos, na Paraíba, cheguei a ter vários empregos, como: Assessor de Imprensa da Prefeitura, da Câmara Municipal, do III BPM, professor, árbitro de futebol, além de radialista.
Certa vez, alguns colegas chegaram a sugerir minha candidatura à Presidência da Associação de Imprensa de Patos – AIP, criada pelo meu grande amigo e jornalista Inácio Bento. Assim já era demais! Com tantas tarefas a realizar paralelamente, seria até absurdo aceitar tão espinhosa função.
Hoje, ao lembrar deste fato, resolvi fazer este trabalho, objetivando mostrar que sou um homem normal, igual a qualquer ser humano normal. Dei-lhe o título de:
SOU UM HOMEM IGUAL A TODOS
Não pense que sou gigante;
Eu sou um homem normal
Que sente dores, que chora,
Homem por dentro e por fora,
De vida sentimental.
Não pense que sou de ferro,
Sem alma, sem coração;
Sinto fome e sinto sede,
Me balanço numa rede
Quando a força me diz “não”.
Não pense que eu não sou nada,
Que vivo aqui por acaso;
Sinto calor, sinto frio,
Se tenho medo, desvio,
Se perco as forças, me atraso.
Não pense que eu sou de aço,
Que não preciso de amor;
Eu não vivo sem carinho,
Quando me vejo sozinho
Choro de mágoa e de dor.
Não pense que eu sou de chumbo;
Eu sou igual a você:
Eu tenho o que você tem,
Já fui criança também
E um dia hei de morrer.
Não pense que sou de gesso,
Que sou um homem qualquer.
Tenho honra e sou honesto,
Quando quero sou modesto
Meu ponto fraco é mulher.
Não pense que sou estátua
Que não tem vida, nem sente;
Eu sou um ser que nasceu,
Chorou, sorriu e cresceu
E que tem vida decente.
Não pense que eu vivo à toa
Sem um lar pra ser feliz;
Eu tenho mulher, tenho filhos,
Nunca vou sair dos trilhos
Querendo o que ninguém quis.
Não pense que sou rebelde
Quando alguém me trata mal.
Gosto de ser respeitado,
E quando sou maltratado
Reajo de forma brutal.
Não pense que sou cretino,
Um homem sem sentimento,
Que ao ser humilhado
Se mantém triste e calado
Alimentando esse tormento.
Não pense que sou ingrato,
Que sou mal agradecido;
Se recebo um favor,
Retribuo com amor,
Não me faço de esquecido.
Não pense que sou de pedra,
De corpo frio e estático.
Eu sou muito carinhoso,
Mas às vezes sou teimoso,
Orgulhoso e antipático.
Pode pensar tudo de mim;
Pense de bem ou de mal,
Pode apontar meus defeitos,
Imitando os meus trejeitos;
Falou de mim!... Tá legal!
(Adalberto Claudino Pereira)
Os poetas repentistas, quando solicitados, também cantam canções que chegam a deixar o público emocionado, dependendo da história. Muitas dessas histórias são baseadas em fatos verídicos; outras são frutos da imaginação do autor.
Eu sempre aproveitava algumas cantorias para solicitar uma canção bastante emocionante, que conta a história de um garoto que arranhou o carro do pai e, como castigo, teve suas mãos decepadas. No final, ele olha para o pai e diz, numa demonstração de inocência, que quando as mãozinhas dele crescerem, nunca mais vai arranhar o carro do pai. O poeta José Melquíades, sempre que eu pedia, cantava no seu programa. Infelizmente, não lembro do título, nem do autor deste trabalho extraordinário.
Não são todos os poetas repentistas que gostam de cantar essas canções. Certa vez, conversando com um deles, fiquei sabendo que cantar canções não faz parte do seu gênero de preferência. Outro chegou a dizer-me que prefere trabalhos que exijam mais de seus conhecimentos, de seus reflexos. Para ele, essas canções de autores diversos, exigem mais a chamada “decoreba”, o que não mostram a capacidade do poeta. Cada um com suas preferências. Quem sou eu para condená-los ou absolvê-los? O certo é que devemos respeitar os direitos dos poetas.
Para os que gostam da literatura de cordel, principalmente os folhetos com histórias fantásticas, aqui vão algumas dicas: “O Pavão Misterioso”, de José Camelo de Melo Rezende; “O Jogador na Igreja”, de Antônio Teodoro dos Santos; “Rei Orgulhoso na Hora da Refeição”, de Pedro Rouxinol; “O Filho do Herói João de Calais”, de Caetano Cosme da Silva; “A Disputa de Bocage com um Padre”, de Manoel D´Almeida Filho; “O Cavaleiro das Flores”, de Severino Borges da Silva; “Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum”, de Firmino Teixeira do Amaral; “A Traição de Dalila e a Força de Sansão”, de Manoel D´Almeida Filho; “O Filho de Evangelista do Pavão Misterioso”, de Manoel Apolinário Pereira; “Os Cabras de Lampião”, de Manoel D´Almeida Filho; “O Capitão do Navio”, de Silvino Pirauá de Lima; “Zé Bico Doce, o Rei da Malandragem”, de Paulo Nunes Batista; “Vida, Tragédia e Morte do Presidente Getúlio Vargas”, de Antônio Teodoro dos Santos; “A Princesa Anabela e o Filho do Lenhador”, de Severino Borges da Silva; “Lampião e sua história contada em Cordel”, de Antônio Américo de Medeiros; “A Batalha de Oliveiros com Ferrabras” (A prisão de Oliveiros), de Leandro Gomes de Barros.
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