04 – “Martelo Miudinho” (em desafio)
Pra ferir sou pior do que machado, quando canto estremeço o firmamento,
Desaforo de ninguém eu não agüento, cabra ruim comigo sai machucado,
Come cru e corre desesperado, já venci uma batalha sozinho,
Derrubei quem passava em meu caminho, deixei sangue espalhado pe-
la terra,
Estou pronto para enfrentar outra guerra, nos dez pés de Martelo Miudinho.
Já cuspi na cara de um valente, se duvidas também cuspo na sua,
E arrasto os seus trapos pelas ruas, só ataco cabra macho pela frente,
Pois comigo o negócio é diferente, nunca trato marmanjo com carinho,
Quebro o braço e machuco o fucinho, se duvidas é só me provocar,
Eu garanto que não vou me assustar nos dez pés de Martelo Miudinho.
05 – “Brasil Caboclo” (regional)
Meu Nordeste brasileiro tem muita mulher cheirosa,
Tem cabra que conta prosa e diz ter muito dinheiro,
Tem viola e violeiro, tem samba, xote e baião,
E tem noites de São João com fogos dando pipôco,
Neste meu Brasil Caboclo de Mãe Preta e Pai João.
Neste meu Brasil Caboclo de Mãe Preta e Pai João.
Terra de cabra da peste, valente por natureza,
Terra que só tem tristeza quando a chuva não vem,
Mas o povo diz “amém!” no final da oração
E pede com devoção pro feijão não nascer pouco,
Neste meu Brasil Caboclo de Mãe Preta e Pai João.
Neste meu Brasil Caboclo de Mãe Preta e Pai João.
06 – “Quadrão à Beira-Mar”
Já estou bem preparado, sou cantador afamado,
Canto o presente e o passado sem ter medo de errar,
Não quero desafiar meu ilustre companheiro,
Que é homem verdadeiro no quadrão à beira-mar.
Beira-mar, beira-mar, beira-mar,
Quadrão só presta quando é feito à beira-mar
Não me perco no repente, vou mostrar pra essa gente
O passado e o presente para a todos agradar,
Vou agora improvisar para que o pessoal
Veja como é legal o quadrão à beira-mar.
Beira-mar, beira-mar, beira-mar,
Quadrão só presta quando é feito à beira-mar.
Sou cantador de primeira e não vou dizer besteira,
Canto de qualquer maneira, seja em qualquer lugar,
Pois não gosto de brincar quando estou trabalhando
Deixo o barco e vou nadando no quadrão à beira-mar.
Beira-mar, beira-mar, beira-mar,
Quadrão só presta quando é feito à beira-mar.
Afinei minha viola, pois não vim pra jogar bola,
Só o jogador rebola para a torcida vibrar.
Cantador faz é cantar com a viola no peito,
Canta bem, rima direito no quadrão à beira-mar.
Beira-mar, beira-mar, beira-mar,
Quadrão só presta quando é feito à beira-mar.
ZÉ LIMEIRA, “O POETA DO ABSURDO”
Na Literatura de Cordel, um nome deve ser lembrado, pela sua coragem de superar toda e qualquer estrutura da nossa poesia. Trata-se de José Limeira, conhecido como “O Poeta do Absurdo”.
Para ele, o importante era chegar até o mote, sempre indiferente à coordenação de palavras ou fatos que eram usados para as devidas métricas e rimas.
William Tejo, um escritor paraibano, fez uma coletânea de trabalhos do poeta José Limeira, colocando-os num livro bastante interessante. Apesar dos meus esforços, nunca consegui adquirir esta valorosa obra.
Como eu sempre fui um admirador incondicional dos poetas repentistas, acompanhando-os em algumas cantorias em Patos, na Paraíba, e em outras cidades circunvizinhas, como São José do Bonfim, Mãe D´Água, Olho d´Água, Quixaba, São Mamede e outras, consegui de alguns poetas, entre eles Sebastião da Silva e Severino Feitosa, alguns exemplos dos trabalhos do “Poeta do Absurdo”.
Portanto, não poderia deixar de, usando a minha criatividade, mostrar para vocês, como José Limeira brincava com os fatos, fazendo uma mistura sadia, alegra e agradável aos nossos ouvidos. Para isso, escolhi o mote “Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida”, em forma de mote em sete sílabas.
QUERO VER QUEM SABE MAIS NO VESTIBULAR DA VIDA
(Mote em 7 sílabas, à moda de José Limeira, o poeta do absurdo)
(Produzido por Adalberto Claudino Pereira)
I
A princesa Isabel se casou com Rui Barbosa,
Mas por causa de uma prosa viajou para a Bahia.
Como ela não queria dar adeus de despedida,
Foi temperar a comida para dar ao capataz.
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
II
Dom João Sexto se banhou na praia de Ipanema,
Mas brigou com Iracema que lhe chamou de caduco,
Por isso Joaquim Nabuco chamou Sansão de querida
Acertaram na ferida do calcanhar de Caifaz,
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
III
Juscelino Kubitschek, descobridor do Japão,
Resolveu comer o pão que o diabo amassou.
A enchente no metrô deixa a cidade falida
Toda mulher enxerida não deixa o homem em paz
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
IV
A mulher de Frankstein foi rainha da beleza,
Mas para sua tristeza não recebeu o troféu.
A sopa caiu no mel, e bagunçou a comida,
Meu tio deu na partida no carro de Barrabás,
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
V
A mulher que fez as tranças nos cabelos de Sansão
Foi a mesma que Adão expulsou do seu jardim.
Na minha terra é assim: ninguém paga a bebida,
Fizeram com a Margarida o que pouca gente faz,
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
VI
Foi no cavalo de Tróia que viajei pro Nordeste,
Onde tem caba da peste e muié macho, sim, senhô.
O homem que tem valor não se perde na corrida,
A laranja espremida, pra suco não serve mais,
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
VII
O profeta Isaias, inventor da impressora,
Jogou a calculadora na cabeça de Jacó.
A guerra de Bodocó, deixou a nação ferida
Minha musa preferida desfilou nos carnavais
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
VIII
Quando Dom Pedro I invadiu a Palestina,
Ainda era menina a Princesa Isabel.
Encontrei Maquiavel com a perna encolhida
Vi Joana D´Arc escondida, com medo de Barrabás.
Quero ver quem sabe mais no vestibular da vida.
Vejamos agora como seria o trabalho do poeta José Limeira, caso lhe fosse dado o seguinte mote em decassílabos:
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente
(Mote em decassílabos, à moda do poeta José Limeira, o “poeta do absurdo”)
(Produzido por Adalberto Claudino Pereira)
I
Encontrei na Antiga Alexandria o tesouro de Nabucodonosor.
Daniel, que as feras enfrentou, deu um pulo e caiu ajoelhado,
Luiz XV foi por ele procurado, para dar um conselho àquela gente.
A cidade ficou toda diferente quando Judas informou que ia embora
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente.
II
Quando Nero chegou na Argentina, dançou tango com D. Antonieta,
Constantino comprou uma lambreta para uma exposição lá em Brasília.
Chapeuzinho convocou sua família para ver uma peça diferente.
O vaqueiro viu o gado pela frente e meteu no cavalo a sua espora,
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente.
III
Rui Barbosa foi estudar Português lá em Patos, no sertão paraibano,
Super-Man, como bom pernambucano, fez xixi no Congresso Nacional.
Desfilou com Mandrake, seu rival, e deixou revoltada muita gente.
Quando o homem se encontra impotente, vai em busca de remédio sem demora.
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente.
IV
Quando Adão e Eva se casaram, houve festa em toda a Galiléia,
Só quem não gostou daquela idéia foi Moisés que saía do Egito.
Tarzan chamou Jane com um grito, que mostrou seu sorriso atraente.
O pirata, provou ter boa mente, navegando por este Brasil afora.
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente.
V
No Mar Morto eu vi um navegante resgatando um peixe engasgado
Iracema olhou para o coitado e disse: nunca vi um peixe assim.
Charles Chaplin, olhando para mim, lamentou por não ser o “João Valente”.
A História não mostra para a gente os segredos existentes na aurora.
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente.
VI
Vi Davi numa luta com Golias, disputando o amor de Julieta.
Vi Caim escrevendo na prancheta a história da Guerra dos Cem Anos.
Também li a história dos tiranos, que mataram Jesus, um inocente.
Só não vi quem matou o Tiradentes, tirou dele a carteira e foi embora,
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente.
VII
Um vaqueiro montou num dinossauro, na fazenda do pai de Salomão,
Me disseram que Abel tinha razão quando disse que a terra era redonda.
Quem temer a polícia que se esconda porque ela detesta delinqüente
Josué ficou muito deprimente, porque tava com febre e catapora.
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente.
VIII
Deus falou pra Adão no Paraíso: não confie nos políticos brasileiros,
Faraó contratou dez pistoleiros pra guardar suas terras em Goiás.
Os romanos escolheram Satanás para ser o seu novo presidente.
Quem quiser encontrar cabra valente, escolha homem forte que não chora.
Quero ver nossa fauna e nossa flora preservadas pelo homem inteligente.
(Adalberto Claudino Pereira)
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