Foto da cidade de Campina Grande - a Rainha da Borborema
CORRERIA NO CEMITÉRIO
Eu estudava no Colégio Estadual da Prata (Campina Grande) e numa terça-feira, aproveitando a ausência dos pais de Carminha, minha namorada, residente na
Rua Ceará, “queimei” as últimas aulas para encontrar-me com a garota, em sua residência que ficava em frente ao cemitério do Carmo. Estávamos no “terraço” da casa dela quando notamos uma movimentação na rua. Algo estranho estava acontecendo e, curioso como sempre fui, procurei saber o que estava causando tanto tumulto.
Ao sair para a calçada deparei com Alcides (um dos responsáveis pelo “campo santo”. Perguntei o que acontecia e fiquei sabendo que se tratava de um sepultamento. Mas, sepultamento à noite! Fiquei atônito. Olhei para o relógio e vi que eram 21:30 horas. Disse para a Carminha que me esperasse e saí em disparada. Queria saber de todos os detalhes. Mas o que Alcides me disse foi apenas que se tratava de um caso especial e que o sepultamento teria que ser urgente.
Não pensei duas vezes e entrei no cemitério. Afinal, era a primeira vez (e não sabia se teria outras) que participava de um funeral noturno. Deveria ser romântico. Acompanhei algumas pessoas, em sua maioria curiosos, até chegar ao local do sepultamento. Uma cova próxima ao muro das casas da rua Olegário Maciel, quase em frente ao necrotério. Para quem não sabe, necrotério é um local onde se colocam os mortos sem parentes, para um posterior sepultamento.
O coveiro ainda terminava de cavar a sepultura quando uma moça, despertada pelo barulho das pessoas e das ferramentas do coveiro, subiu ao muro de sua casa (o cemitério do Carmo é cercado de casas por todos os lados) e, ainda de camisola, gritou espantada: “Quem foi que morreu, héim?!”.
Foi uma correria sem precedentes. As pessoas se espalharam por dentro do cemitério apavoradas. Umas até gritaram por “socorro”. Um rapaz pisou numa cova e afundou um dos pés. Quanto mais ele gritava para que alguém o tirasse daquela situação incômoda, mais as pessoas corriam e gritavam. A moça, tentando entender o que estava acontecendo, pedia calma e dizia: “O que está acontecendo, gente? Eu estou viva. Eu moro aqui!”
Para não ser pisoteado, acompanhei aquelas pessoas e consegui sair do cemitério ileso, mas suado como tampa de chaleira. Cheguei à casa da namorada e pedi um copo com água. “Querida! Nunca vi coisa igual. Parecia uma guerra. Era gente pra todos os lados. As únicas pessoas que não correram foram o coveiro, a defunta e a moça do muro!”. Carminha ouvia tudo calada. Mesmo sem ter presenciado a cena, ela demonstrava estar com muito medo. Depois eu soube que ela dormiu no quarto dos pais.
OUTRA VEZ NO CEMITÉRIO
Aproveitando este acontecimento, vou contar-lhes outro fato que aconteceu no mesmo cemitério, cujo administrador era o Sr. João, casado com D. Ambrozina. Ela era mais conhecido como “João Coveiro”.
“Seu” João tinha um sobrinho, chamado de Cláudio, que costumava dormir no cemitério, aproveitando os túmulos vazios. Ele era um rapaz de cor branca, com pelo menos 80 quilos e gostava de tomar uma “pingas”, sem, no entanto, embriagar-se com facilidade.
Havia na cidade de Campina Grande um Vereador bastante querido, o Félix Araújo, assassinado nas proximidades da Mesa de Renda, pertinho da Prefeitura Municipal. A notícia da morte do Vereador abalou a cidade. Eu fiquei sabendo quando ia para a Rádio Borborema assistir ao programa “O Domingo Alegre”, apresentado por Leonel Medeiros.
Dias depois, o assassino foi encontrado. Tratava-se de João Alves de Brito, mais conhecido como “João Madeira”. Ele fora encontrado escondido no jardim da residência do Prefeito Plínio Lemos, e levado para a Cadeia Pública, que ficava por trás de minha casa.
Numa noite, a cela de João Madeira foi invadida por presos de outras celas e o assassino de Félix Araújo foi linchado ali mesmo. Há quem diga que alguém facilitara a invasão, abrindo as celas para que o crime fosse consumado. Os gritos foram ouvidos por grande parte dos moradores da Rua Monte Santo.
No dia seguinte, era grande a movimentação nas imediações da Cadeia Pública. Uma viatura da Polícia Militar levou o corpo de João Madeira, seminu, para o necrotério do cemitério do Carmo, onde Cláudio dormia tranqüilamente. Ele bebera acima da conta e nem notou que ali, bem pertinho dele, estava um defunto.
Era grande a quantidade de pessoas que se acumulavam dentro e fora do cemitério. Muitos escalavam uma parede para chegar até uma das janelas do necrotério, ansiosos para verem o defunto. Do lado de fora, uma fila era organizada pela polícia. De repente, a porta se abre e Cláudio aparece sem camisa e se espreguiçando.
Quem estava em cima do muro despencou como se tivesse sido empurrado por uma força estranha. Os que estavam na fila, ao verem a correria, nem esperaram para saber o que estava acontecendo: dispararam rua abaixo. Foi um momento de pânico dentro e fora do cemitério. Alcides ainda tentou acalmar a multidão, mas quanto mais gesticulava, mais era empurrado pela multidão descontrolada.
Eu passara a noite com muita febre. Mesmo assim, arrisquei chegar até o cemitério. Aliás, minha casa era bem próxima e não dava muito trabalho chegar até lá. Antes mesmo de me aproximar, senti que as coisas não estavam acontecendo dentro de sua normalidade. Voltei para casa às pressas antes de ser “massacrado” por aquela massa humana.
E você, o que faria numa situação idêntica? Pare um pouco e pense naquela cena. No seu pensamento, ocupe um lugar naquela parede ou até mesmo naquela fila e diga para você mesmo (a) qual seria a sua reação.
UMA NOITE COM UM CADÁVER
Bodocongó é um bairro de Campina Grande, conhecido até musicalmente: “Bodó-bodó-bodó-bodocongó, o meu barquinho tinha um remo só...”. Sempre aos domingos, pela manhã, lá estava eu à beira do famoso Açude de Bodocongó, para presenciar os atletas fazendo malabarismos em cima de skis, puxados por lanchas em alta velocidade. Nadadores profissionais se desafiavam nas travessias do açude. Eram momentos maravilhosos. Aliás, eu conhecia bastante aquele populoso bairro, uma vez que já jogara várias vezes no campo do Têxtil, contra o Humaitá de Icário, Lelé e Adaltinho, e contra o Madureira.
No quartel, nós tínhamos soldados para tudo, inclusive para disputas de natação. E foi numa manhã ensolarada de domingo que dois deles resolveram partir para um desafio: eles teriam que atravessar o açude, indo e retornando ao ponto de partida. Não se sabe se apostaram alguma coisa. Sabe-se apenas que na volta apenas um deles retornou. Alguém disse que vira quando uma pessoa acenava com uma das mãos pedindo socorro, mas não repetir o pedido pela terceira vez, o que tirava quaisquer possibilidades de tentativa de salvamento.
De imediato, o fato foi comunicado ao Comando do Batalhão de Serviços de Engenharia (BSvE), que deslocou alguns soldados para o local. Foram muitas as tentativas, sem resultados positivos. Somente três dias depois, numa terça-feira, é que um mergulhador conseguiu localizar o corpo do colega. Ele estava com uma das pernas presas entre algumas pedras numa parte não muito funda daquele açude.
No mesmo dia, o corpo foi preparado e levado para ser velado na Capela do cemitério do Carmo, ficando à disposição para visitas a partir da tarde e por toda a noite. O corpo, colocado no centro da Capela, foi acompanhado por uma guarda especial, da qual eu fiz parte. Fiquei de 14:00 às 16:00; de 20:00 às 22:00; de 24:00 às 02:00; e de 06:00 até a hora de saída do corpo para o sepultamento, que ocorreu por volta das 08:30 da manhã da quarta-feira.
Se você me perguntar qual a sensação de estar junto a um defunto, sozinho, durante a madrugada, eu responderia que, de início é uma sensação de desânimo, tristeza e receio. Muitas perguntas passam por sua cabeça: “já pensou se ele levantasse a cabeça e desse boa noite?”; “o que seria de mim se ele perguntasse o que estava fazendo ali, naquele caixão?”; “porque as horas não passam mais rápido, meu Deus?”.
Havia momentos em que eu olhava em direção à minha casa e pensava “lá com os meus botões”: “nesse momento meus pais e meu irmão estão num sono profundo, bem agasalhados, enquanto eu fico aqui, vigiando um defunto, como se fosse uma coisa de muito valor”. Minha casa ficava a poucos metros do cemitério do Carmo. Eu morava na rua Monte Santo, 82.
No dia seguinte, ao ver o sol raiar, nascia em mim uma sensação de alívio ao saber que muitas pessoas estariam ali para o sepultamento. Aliás, sepultamento de militar é diferente e chama a atenção das pessoas. É executado um toque de silêncio pelo corneteiro oficial e, em seguida, uma salva de vinte e um tiros (de festim, é claro). Depois, tudo fica por conta dos germes.
Mesmo sabendo que vida de militar não era um “mar de rosas”, eu sempre sonhei com o Exército Brasileiro. Quando criança, eu ficava boquiaberto quando via um desfile militar. Aquelas armas, os carros blindados, a cadência dos soldados com passos firmes. Tudo me levava ao delírio. A grande verdade é que eu sempre pensei em ser um oficial.
UMA ADMIRAÇÃO PELO RÁDIO
Quando somos crianças muitas coisas passam por nossa cabeça. Vejam que enquanto eu sonhava em fazer “carreira” no Exército, Deus reservava algo totalmente diferente: ser jornalista. Isso nunca passou por minha cabeça, embora eu fosse um participante assíduo dos programas da Rádio Borborema de Campina Grande.
Lembro com muitas saudades dos programas “Retalhos do Sertão”, apresentado todas as manhãs por Juracy Palhano e que contava com a participação dos poetas repentistas José Gonçalves e Cícero Bernardes, e do cômico “capitão Mané Coió”, que apelidou os poetas de “cupim” e “coruja”.
Aos domingos, eu tinha cadeira cativa no programa “Domingo Alegre”, apresentado por Leonel Medeiros e que contava com a participação da Orquestra Borborema, dirigida pelo maestro Nilo Lima, e do conjunto regional formado por Jaime Seixas (piano), Arlindo (pistão), Zé Maria (violão), Abdias (acordeão), além das cantoras Maria das Neves e Maria do Carmo.
No programa “Domingo Alegre” eram realizados vários sorteios, mas a grande sensação eram os bingos patrocinados pelo café São Braz. Para concorrer, era necessário juntar cinco pacotes vazios do café São Braz e trocá-los por uma cartela. Em um desses bingos eu ganhei uma cama de solteiro “patente faixa azul” (a melhor da época), um colchão, alguns produtos São Braz e uma foto da Martha Rocha, Miss Brasil. Foi uma alegria total.
Ainda aos domingos, pela manhã, sempre que podia eu assistia ao programa infantil “Clube Papai Noel”. Não lembro bem o nome do apresentador. Sei apenas que era um bom programa com a presença de muitas crianças, não faltando palhaços e diversas brincadeiras.
Naquela época, um grande profissional despontava no cenário artístico da rádio Borborema e, conseqüentemente, de Campina Grande: o cantor Genival Lacerda, um jovem magro que cantava músicas de Jackson do Pandeiro. Ele trouxe consigo duas características próprias: a munganga e o chapéu de abas curtas. No seu repertório incluíam-se as músicas “Mulher do Aníbal” e “Comadre Sebastiana”.
A Rádio Borborema também tinha seu “cast” de excelentes atores e atrizes, que participavam das novelas ali apresentadas. Nunca fui chegado a novelas, mas arrisquei assistir a alguns capítulos de “O Anjo Negro”, uma história baseada na escravidão. Lembro que foi uma novela cheia de grandes emoções. O garoto Benjamim Blay era uma das atrações daquela novela.
Outros nomes de profissionais da Rádio Borborema, pertencente aos Diários Associados, são inesquecíveis, entre eles destaco: Hilton Motta, Palmeiras Guimarães, os irmãos cantores Gilson e Geiza Reis, Genésio de Sousa, Temístocles Maciel, os cantores Geraldo Andrade, Ronaldo Soares, filho de Genésio de Sousa, e Silvinha de Alencar, que era titular do programa diário “A Estrela do Meio-Dia”.
Bonito mesmo eram os pastoris representados pelos “cordões” azul e encarnado. A disputa era ferrenha e lá estava eu torcendo e vibrando pelo “cordão” azul, a minha cor preferida. O ritmo era bastante convidativo. As pastoras, independente das cores que representavam, cantavam mais ou menos assim: “Boa noite, meus senhores todos, boa noite, senhoras também, somos nós as pastorinhas belas, que alegremente vamos a Belém”.
As pastorinhas eram bem vestidas. Suas vestes eram coloridas de azul e branco para as representantes do azul, e vermelho, e branco para as representantes do encarnado. À frente do azul ficava a “mestra” e à frente do encarnado ficava a “contra-mestra”. Entre as duas alas ficava a “Diana” que, como ela mesma cantava, não tinha partido. Não lembro as músicas mas ainda recordo o “grito de guerra” do azul: “Azul é o céu, azul é o mar, azul é a rainha que nós vamos coroar”.
As pessoas davam seus votos através de donativos. Cada cruzeiro representava um voto. Nós, torcedores do “cordão” azul fazíamos uma “vaquinha” para ajudar o nosso “partido”. Esta era a palavra usada pela “Diana” em sua cantata: “Sou a Diana, não tenho partido. O meu partido são os dois cordões. Eu peço palmas, peço fita e flores. Oh, meus senhores...”.
O programa humorístico mais ouvido naquela época era “A Escolinha do Nicolau”. Era interessante quando os atores entravam em cena, caracterizados, cantando a música da escola: “Na escola do Nicolau, nóis vai desaprender, alegre-gre-gre, cantando-do-do (...). Salva a escola ideal do ignorante Nicolau (do Nicolau), quem não quizé aprender, no fim do ano leva pau, pa-ra-ra-pa-pau, pa-pau”. Os personagens eram. Chico, um aluno ignorante que xingava sempre o professor; Bobozinho, um aluno ingênuo, que sempre fazia perguntas idiotas; Afreu, um aluno que sempre defendia o professor, aprovando tudo o que ele dizia; e Linda, uma aluna inteligente, que sempre corrigia o professor.
Também lembro do programa CLUBE DO PAPAI NOEL, apresentado aos domingos, pela manhã, com a presença de cantores mirins, entre eles os irmãos Gilson e Geisa Reis. Eram distribuídos muitos brindes entre as crianças presentes. O programa era repleto de atrações que levavam os presentes ao delírio.
Era assim a Rádio Borborema de Campina Grande. Seus programas eram espetaculares. Seu auditório sempre estava superlotado e grandes artistas eram revelados. Os apresentadores eram grandes profissionais, dignos dos maiores aplausos. Naquela época o rádio era feito com amor, dedicação e muito profissionalismo.
UMA PAIXÃO PELO FUTEBOL
O único clube de futebol de renome era o Treze Futebol Clube, conhecido como o “Galo da Borborema” e o maior narrador esportivo era Palmeiras Guimarães. Depois, surgiu o Centro Esportivo Campinense Clube, formado por pessoas da elite de Campina Grande e, por isso, passou a ser chamado de “O time aristocrático”, com o uniforme com as cores da Paraíba (vermelho e preto). Como o Treze era o “galo”, passaram a chamar o Campinense de “raposa”.
Minha vida em Campina Grande era bastante alegre. Quando não estava na Rádio Borborema, assistindo aos programas de auditório, estava jogando bola no campo denominado “cova da onça”. Entre os amigos da época, lembro muito bem do Antônio Correia, do galego Nivaldo, Zé Costa Barros, Zé Costa Lima, Nóca, Inácio Pelado (goleiro) e Edson. O Nóca morreu em um acidente automobilístico e Edson, vítima de tétano. Foram duas perdas que não consigo esquecer, por terem sido bons amigos.
Desses amigos, três chegaram a jogar comigo no Vasco da Gama do Monte Santo: Antônio Correia, Zé Costa Barros e Nivaldo. Zé Costa Lima formou-se em Direito (soube depois que ele havia morrido), e do Inácio “Pelado” não tenho notícias. Eram os bons tempos da minha adolescência.
Eu jogava no juvenil do Vasco e, certa vez, quando jogávamos contra o Madureira, num campo próximo ao “César Ribeiro”, fomos observados pelo treinador Sr. Guilherme e pelo Diretor de Futebol Sr. Silva. Eles precisavam de três jogadores para os aspirantes (2º quadro) do Vasco. No final do jogo, eu, Gringo e Raimundinho fomos escolhidos.
Meu primeiro jogo foi contra o Bangu, um time que representava o bairro “Casa de Pedra”. No final da partida, eu fui abordado pelo Sr. Guilherme que me disse: “Garoto, pegue o material com o roupeiro. Você vai jogar no time principal. Carboreto, o lateral direito está doente e você vai ter a oportunidade de substituí-lo”.
Aquela era uma grande reponsabilidade, uma vez que o jogador Carboreto (era este o apelido do jogador Arnaldo) era um atleta completo e estava sendo pretendido por outros clubes, pela sua versatilidade. Entrei em campo um tanto nervoso, principalmente ao saber que deveria marcar o jogador Josias (ponta-esquerda titular do Treze, que aproveitava os domingos de folga para jogar “pelada”).
Eu tinha apenas 17 anos e já era um atleta respeitado pela Diretoria do Clube. Por isso, fui escolhido para, no jogo entre Clube de Regatas Vasco da Gama (Rio) e Treze Futebol Clube, partida amistosa, entregar ao “capitão” Bellini, um troféu do seu co-irmão de Campina Grande.
Neste jogo fizemos a preliminar contra os aspirantes do Treze Futebol Clube e vencemos por 3 X 2. Nosso centro-avante Paulinho encheu os olhos dos Diretores do Vasco, que o convidaram para ir até o Rio de Janeiro, para fazer um “teste” no clube de são Januário. Disseram que o Paulinho treinou bem, mas não foi aprovado por motivos que desconheço.
Tivemos grandes adversários, mas os que mais nos deram trabalho foram o Leão do Norte, por ser do mesmo bairro, e o 15 de Novembro. Quando esses clubes se encontravam eram verdadeiros clássicos. Cito outros times difíceis, como: Humaitá e Têxtil, ambos do bairro de Bodocongó, e o Madureira.
Vendo-me jogar na preliminar de Vasco da Gama e Treze, o presidente do “galo da Borborema”, Sr. José Lira Braga, convidou-me para treinar no Presidente Vargas. Ele estava interessado em mim, mas eu era torcedor fanático do Centro Esportivo Campinense Clube, principal adversário do Treze, e não me sentiria bem vestindo a camisa de outro time, e muito menos a do Treze.
Ainda cheguei a treinar no Campinense Clube, mas nunca fui aproveitado pelo treinador Buarque Gusmão. Para mim, foi a maior frustração. Eu sempre sonhei em vestir a camisa 2 do Campinense, que na época tinha grandes jogadores. Ser o terceiro reserva já era uma grande vitória na minha vida como atleta. O importante era ser jogador do meu clube preferido. Como os sonhos nem sempre são realizados, temos que nos contentar com aquilo que o destino nos reserva. E o destino reservou-me o direito de ser jogador amador.
Campina Grande, a “rainha da Borborema”, oferece aos seus filhos o direito de se orgulhar por ter nascido numa cidade tão maravilhosa. Alí, tudo é lindo e maravilhoso: o estádio “Amigão”, construído no governo Ernani Sátyro; Os estádios “Presidente Vargas” e “Plínio Lemos”; o açude Velho; os cinemas “Capitólio”, “Babilônia”, “Avenida” e “São José”; são pontos inesquecíveis, tantas vezes por mim freqüentados na minha infância e adolescência. Jamais deixaria de dizer que sinto saudades do “Açude Novo”, outro motivo das minhas lembranças, que acharam por bem destruir.
Se Campina Grande não me deu a oportunidade que tanto sonhava: ser um jogador profissional, pelo menos me proporcionou outras oportunidades: a de conhecer uma nova realidade da vida servindo ao Exército Brasileiro; viver uma infância feliz, uma adolescência brilhante e um pouco de minha juventude junto de bons amigos; desfrutar das belezas naturais da cidade; e de conhecer excelentes bairros como Bodocongó, José Pinheiro, Monte Castelo, Palmeiras, Monte Santo, Quartel do 40, Liberdade e outros.
OS CONTATOS COM O MUNDO ARTÍSTICO
No mundo artístico, tive contatos com diversos cantores. Quando funcionário da rádio Espinharas de Patos, na Paraíba, eu apresentava o programa “O Domingo é Nosso”, onde divulgava os cantores da época (l973/79). Isso me aproximou do empresário “Pinga”, que sempre levava atrações para aquela cidade. Por conta dessa amizade, eu fui escolhido pelo empresário para entrevistar os cantores e apresentá-los nos seus shows.
Entre esses cantores, eu apresentei: Agnaldo Timóteo, Fernando Mendes, José Augusto, Teixeirinha, Paulo Sérgio, Roberto Leal, Ronnie Von, Perla, Roberto Carlos, Silvio Brito, Odair José, Altemar Dutra, Antônio Marcos, Sérgio Reis, Waldick Soriano e outros.
O “Pinga” tinha tanta confiança na minha pessoa que sempre que tinha um cantor para apresentar na cidade de Patos, ligava para mim, anunciando a data do show e pedindo que eu providenciasse local e propaganda. Ele apenas mandava os cartazes e eu escolhia os locais onde afixá-los. No dia do show tudo estava pronto. Na maioria das vezes, os espetáculos eram apresentados no Cine São Francisco, cujo gerente Almir, tornou.se um grande parceiro nosso.
Desses cantores citados, apenas o Roberto Carlos não se apresentou no Cine São Francisco, uma vez que ele fez algumas exigências quanto ao palco, que deveria ter determinadas medidas a fim de evitar uma possível invasão dos fãs. Este também foi um show onde eu tive que me apresentar em traje passeio formal, outra exigência do cantor. A expectativa de um número gigante de pessoas fez com que o show fosse apresentado no Estádio Municipal José Cavalcanti, no Bairro do Belo Horizonte.
O empresário “Pinga” também levou para a cidade de Patos o Clube de Regatas Vasco da Gama, que jogou contra o Nacional Atlético Clube. Um fato interessante a ser registrado foi a exigência que o Pinga fez para que eu atuasse naquela partida. Ao saber
que eu era árbitro de futebol, pertencente à Liga Patoense de Futebol, filiada à Federação Paraibana de Futebol, Pinga fez questão de ver-me atuando. Eu não poderia faltar ao amigo e formei o trio de arbitragem ao lado de Silvaneto Firmino e Mário Leitão.
No ano de 1974, nos meses de março e abril, a cidade de Patos recebeu, respectivamente os cantores Odair José e Fernando Mendes, levados pelo empresário “Pinga”. As apresentações, como sempre acontecia, tiveram como local o Cine São Francisco, sob a direção do Almir.
As duas apresentações marcaram época na cidade, pelo grande sucesso que ambos faziam com suas músicas bastante solicitadas pelos ouvintes da Rádio Espinharas.
Como jornalista, tive momentos de glórias e um deles foi quando recebi da Câmara Municipal de Patos, o título de “Cidadão Patoense”, numa deferência do Vereador Polion Carneiro, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Francamente, não esperava que uma cidade como Patos, tão importante no cenário político do estado da Paraíba, chegasse a prestar-me uma homenagem de tamanha significância. Isso fez com que nascesse dentro de mim um amor incomparável por aquela gente.
A Sessão Especial realizada no Patos Tênis Clube, com a presença das figuras mais importantes da região das Espinharas, marcou época na minha vida profissional. Foi realmente uma noite memorável, que culminou com um jantar no Hotel JK, oportunidade em que eu fui convidado a usar da palavra para os agradecimentos. Apesar de ter preparado um discurso para aquele momento, o improviso foi algo inevitável, devido as exigências das circunstâncias e da minha própria maneira de sempre querer dizer mais do que o previsto.
Documento expedido pela Câmara Municipal de Patos, confirmando o título de cidadania outorgado ao autor (Lei nº 1.219 de 10 de abril de 1978).
(Foto do autor discursando durante solenidade em que recebia o título de “Cidadão Patoense”, no Hotel JK, em Patos – Paraíba)
UM RETORNO À INFÂNCIA E À ADOLESCÊNCIA
Na minha infância, sempre fui um garoto tímido, mesmo porque fui educado com muita rigidez por minha mãe, principalmente. Aliás, meu pai só me bateu uma vez em toda a minha vida. Ao contrário, minha mãe era durona e qualquer falha cometida por mim, a palmatória entrava em ação. Eu não lembro se algum dia eu passei “em branco”, ou seja, se eu dei uma folguinha àquele maldito pedaço de madeira pintado de preto e que recebeu de minha mãe o nome “carinhoso” de maricota.
Mesmo sendo criado desta forma, eu sempre dei meus “pulinhos” quando estava longe dos olhos vigiadores de D. Eudócia. Quando eu era desafiado por alguém, sempre mostrava o meu lado de briguento. Foram muitas as vezes em que eu briguei com Mailton, um colega de classe, no Colégio Alfredo Dantas. Nosso palco era sempre o lado dos Correios e Telégrafos, na Praça da Bandeira.
Nossos colegas já estavam tão acostumados com nossas brigas que, durante as aulas, ficavam fazendo comentários que nos colocavam como desafiantes. Eles sempre diziam: “O Mailton disse que tá doido pra te pegar lá fora!”. Aquilo me irritava e fazia com que eu olhasse para ele e fizesse um jeito com a mão, como se estivesse dizendo: “espera a aula terminar que eu te pego!”. Era uma estratégia dos colegas que sempre dava certo. Vocês podem até perguntar quem saia vencendo nessa história. Eu diria que dependia muito da “inspiração” de cada um, ou seja, um dia eu batia mais, no outro batia menos.
Nas brigas com o Mailton havia uma certa vantagem: todas as vezes que eu batia mais nele, no dia seguinte ele, para reconquistar minha amizade, pagava o lanche na cantina de D. Júlia, uma negrinha franzina que vendia um pão com doce bastante gostoso.
Em parte, essas brigas trouxeram algumas vantagens para nós dois e uma delas estava na certeza de que éramos considerados os valentões do colégio e com a gente ninguém mexia.
Naquela época, nós gostávamos de, ao sair do colégio, ir até o edifício dos Correios e Telégrafos para usar o elevador. Aquilo tornou-se uma brincadeira diária, da qual participavam cinco estudantes e eu estava entre eles. Certa vez, quando estávamos no interior do elevador, faltou energia. Foi um Deus nos acuda. Nós gritávamos como um bando de malucos e chutávamos o elevador como se ele mudasse a situação. Depois que tudo voltou ao normal, saímos em disparada e nunca mais quisemos repetir a brincadeira. Eu tive que dar explicações a minha mãe sobre os motivos que me fizeram chegar tarde em casa. Recebi, como recompensa, uma surra daquelas que nem queiram imaginar.
Ainda cheguei a namorar a irmã do Mailton, cujo nome infelizmente não lembro. Sei apenas que ela era bastante bonita. Aliás, eu sempre escolhia meninas bonitas para namorar. A beleza feminina era indispensável para se estar de bem com a vida. Lourdinha, Célia, Maria do Carmo (Carminha), Hilda (a baianinha), Joana D’Arc, Selma, Ruth, Maria do Socorro (Corrinha), foram algumas das namoradas do meu tempo de adolescência, todas de uma beleza invejável.
Por falar em namoradas, lembro de um fato não muito confortável: minha mãe mandou que eu fosse ao açougue comprar carne para o almoço. Eram 09:00 horas da manhã e, por coincidência, o açougue ficava na rua Getúlio Vargas, justamente a rua onde morava o Mailton. Aproveitei e dei uma passadinha por lá para conversar um pouco com a mana do colega. A conversa foi tão gostosa que esqueci o tempo e, quando dei conta de que deveria levar a carne para o almoço, eram 11:30 horas. Sai em disparada e, ao chegar em casa, fui recebido com uma bela surra. Minha namorada nunca soube desse fato.
Ter muitas namoradas às vezes dá problemas. Antes de servir ao Exército (eu tinha 17 anos), eu estava com cinco namoradas. Era uma para cada bairro (Bodocongó, Zé Pinheiro, Palmeiras, Monte Santo e Monte Castelo). Eu costumava ir ao cinema e sempre levava uma namorada diferente. Uma vez eu ia com a Célia, outra, com a Hilda, e assim por diante. Certa vez, resolvi ir ao Cine Capitólio com uma delas. Eu estava na fila para comprar os ingressos, quando, de repente, apareceu outra namorada. Foi um “ Deus nos acuda”: houve discussão e terminei perdendo as duas e voltando para casa sem assistir ao filme. Eu jamais esperava que aquilo chegasse a acontecer. Dias depois, a Hilda pediu para reatar o namoro, mas eu não quis. Para mim, namoro acabou, não havia mais clima para recomeçar.
Todas as vezes que eu ia ao Cine Capitólio, o porteiro olhava para mim e fazia um sorriso irônico, como se estivesse a dizer: e agora, já tomou vergonha na cara? Talvez ele nem estivesse com este pensamento, mas era o que eu pensava. É tanto que eu sempre evitava ir àquele cinema, preferindo o Cine Babilônia, que ficava mais abaixo, na mesma rua. Aliás, eu nunca imaginaria que namorando meninas de bairros tão distantes, um dia elas viessem a flagrar aquilo que muitos chamavam de “traição”, mas que eu preferia chamar de “aventuras”.
Apesar da educação rígida, eu sempre aprontava. Muitas vezes eu mentia para minha mãe, dizendo que ia ao cinema, quando na verdade eu ia mesmo era jogar futebol. Para isso, eu levava escondido o material necessário. Certa vez, eu disse que ia ao Cine Avenida e fui jogar futebol no campo do “Cova da Onça”. Quando terminou o jogo, alguém havia roubado os meus sapatos que meu pai havia comprado e que eu calçara pela primeira vez. Isso foi horrível. Eu me escondi num matagal com a intenção de, no dia seguinte, fugir para bem longe. Meu pai saiu à minha procura juntamente com os vizinhos. Lembro que minha vó, que estava passando uns dias conosco, gritava quase chorando: “Volte, Adalbertinho! Volte, meu filho”. Eu fui encontrado e levado para casa sob a promessa de que não seria castigado pelo ato praticado.
Quando eu fui jogar no Vasco da Gama, do Monte Santo, “seu” Silva, Diretor de Futebol, sempre lembrava aquele acontecimento dizendo: “volta, Adalbertinho”. Por sinal, algumas pessoas passaram a falar comigo dessa maneira. Não era uma provocação, mas uma maneira carinhosa que essas pessoas acharam para falar comigo. Por sinal, eu era muito querido por todos no clube, pela maneira como meus pais me educavam. Outro fator que me favorecia era que minha família dava exemplo de uma família bem estruturada.
Naquela época, conheci o Salomão, um rapaz que fora seminarista e que se destacava como um verdadeiro craque. Ele pertencia a uma família pobre, mas tinha um caráter invejável. Seu pai vendia água nas casas, conduzindo um “galão” com duas latas, num verdadeiro sofrimento. Seu irmão, o Bastinho, era mecânico. Salomão, por sua vez, trabalhava num armazém que comercializava couro. Estudante do Colégio Estadual da Prata, muitas vezes, antes de ir para o colégio, ele passava em nossa casa onde jantava conosco.
Salomão jogava no Estudantes, um time muito bom, composto por jovens talentosos. Ocupando a posição de médio-volante, Salomão era peça indispensável no time e sua ausência fazia grande diferença. Vascaíno de coração, ele costumava dizer que seu maior sonho era vestir a camisa do Vasco da Gama. Brincando com ele, eu respondia: “É muito fácil. Venha pra cá que tem vaga pra você no nosso time.”
Salomão cresceu merecidamente no futebol: foi para o Centro Esportivo Campinense Clube, de onde saiu para o Clube Náutico Capibaribe. De lá, transferiu-se para o Santos Futebol Clube, de onde foi para o Clube de Regatas Vasco da Gama, realizando o seu grande sonho. Formou-se em medicina e abandonou o futebol no auge de sua carreira. Foi um dos maiores volantes do futebol brasileiro.
Lembro que certa vez, em conversa com alguns amigos, na cidade de Patos, na Paraíba, falei sobre a amizade que tinha com o jogador Salomão. Foi uma gozação geral. Ninguém podia acreditar que eu conhecesse um jogador tão famoso. Um dia, o Centro Esportivo Campinense Clube foi jogar em Patos, contra o Esporte, no campo do Colégio Estadual. Eu via alí uma oportunidade para calar aquelas pessoas. Fui até o Hotel Santa Terezinha, onde o Campinense estava hospedado e convidei o Salomão para almoçar em minha casa. O técnico Buarque Gusmão deu a permissão para a visita, mas exigiu que o atleta voltasse ao hotel para o almoço.
Eu estava bastante feliz. Saí com Salomão desfilando pelo centro da cidade e, à proporção em que encontrava os colegas, apresentava o craque como meu amigo. Salomão bastante simpático, embora um pouco tímido, dava toda a atenção às pessoas a quem eu o apresentava. Minha maior alegria era ver no rosto de cada amigo um sinal de admiração. Talvez eles até pensassem intimamente: “Pois não é que eles são amigos mesmo!!!”. Depois daquele dia, ninguém mais teve a ousadia de duvidar de mim e quando os jornais publicavam matérias com Salomão, sempre aparecia alguém para mostrar-me o jornal dizendo: “Olha aqui, Adalberto! Saiu uma reportagem com teu amigo!”.
Aí está o meu amigo Salomão (o segundo da esquerda para a direita), quando atuava no Santos Futebol Clube. Depois, ele foi para o Vasco, o clube do seu coração.
Cheguei na cidade de Patos no início do ano de 1960, quando fui licenciado do Exército. A viagem foi uma aventura. Eu e meu pai saímos de Campina Grande de trem. Aliás, foi a primeira vez na vida que utilizei aquele meio de transporte. Fiquei meio temeroso, pois os vagões se jogavam de um lado para o outro, dando a impressão de que ia sair dos trilhos. Em Patos, fiquei alguns dias hospedado no hotel Santa Terezinha, de um cidadão conhecido como Vicente. O hotel ficava a uns cem metros da estação ferroviária.
Para mim, aquilo tudo era muito estranho. A primeira diferença foi a temperatura. Para quem estava acostumado com os 20ºC de Campina Grande, enfrentar os 38º de Patos não era brincadeira. Depois, veio o tamanho da cidade e as opções para os finais de semanas. Em Campina Grande o número de campos de futebol, cinema, boates, praças e outras opções era bem diferente de Patos, cidade onde o domingo se transformava num verdadeiro deserto. Para mim, não poderia existir castigo maior.
As coisas melhoraram quando passei a trabalhar na firma Anderson & Clayton, uma multinacional especializada na fabricação de óleo comestível e sabão. Eu era responsável pela conferência das cargas que ali chegavam: pesava todas as cargas e conferia os produtos (algodão e caroços de algodão), para depois liberar os veículos. Era um serviço legal e tudo ia às mil maravilhas, até que veio uma ordem da matriz para demitir alguns funcionários, com prioridades para os mais novos. Eu estava entre eles.
Em 1962, iniciei minha vida radiofônica, na Rádio Espinharas de Patos, na época, a única existente na cidade de Patos, na Paraíba. Luiz Pereira (chefe dos locutores) e José Augusto Longo da Silva acharam que meu nome não era muito legal para o cargo que ocuparia. Resolveram optar por Carlos Alberto, como um nome artístico. De início achava ridículo quando alguém me chamava por este nome. O tempo fez com que me acostumasse.
Naquela época, a Rádio Espinharas, que pertencia ao então Senador Drault Ernani de Melo e Silva, tinha como gerente o Sr. Maurício Leite, que não era lá essas coisas mas dava para se tolerar.
Não ganhava bem mas, na falta de outra opção, o jeito era levar as coisas com paciência. Com a saída do Maurício e a chegada de um novo gerente, o Sr. Rackson Torres, a situação mudou. Apesar das falhas administrativas, Maurício Leite era bem mais humano. Uma simples discussão com o novo diretor, levou-me a sair da empresa.
Apesar de trabalhar em uma emissora de rádio, a única da cidade, eu não era muito conhecido. Aliás, o meu trabalho ainda não era tão valorizado. Os programas que apresentava não eram famosos. Daqueles que levam você ao ponto culminante da profissão. Mas isso não me preocupava. Como profissional, eu era muito ingênuo para saber o que era estar em alta com o IBOPE.
Sem emprego, a única saída era aceitar os conselhos de meu pai para trabalhar com ele numa oficina de fundição, lá mesmo, na cidade de Patos. Era um trabalho duro, muito diferente de estar diante de um microfone. Agüentei até 1969, quando fui chamado para trabalhar na Difusora Rádio Cajazeiras, na cidade de Cajazeiras, também na Paraíba.
Ali, tive como diretores os senhores Mozart e José Adegildes. Uma das primeiras orientações recebidas foi não visitar a outra emissora. É que eles alimentavam uma “guerra” pessoal anti-profissional, que não fazia parte dos meus ideais. Eu sempre fiz amizades com todos os colegas que integravam o mundo das comunicações e achei aquilo ridículo e anti-ético.
Indiferente às advertências, resolvi fazer uma visita aos colegas da outra emissora. Por sinal, ao saberem onde eu trabalhava, eles ficaram um tanto espantados e perguntaram se eu não sabia que os funcionários da Difusora Rádio Cajazeiras eram proibidos até de passarem pelas calçadas daquela rádio. Respondi que sabia, mas que não estava ali para “comprar” as brigas dos diretores, mas para estar de bem com os colegas.
No dia seguinte, fui “convidado” a comparecer à Direção da empresa para explicar a minha atitude, para os diretores, desafiadora. Eu disse apenas que, como profissional, preferia agir assim a aceitar os caprichos de quem pensa que audiência se conquista com intrigas e com concorrências desonestas e desastrosas.
A partir daquele dia, eu fui perseguido de forma sucinta, fato este que me fez optar por um pedido de demissão. Trabalhar com pessoas que não sabem o que significa profissionalismo não é tarefa fácil. Aliás, um dos fatos que me fez diferente foi o respeito aos meus colegas jornalistas, independente da empresa a que eles pertenciam. Para mim, o companheirismo é fator primordial para o crescimento profissional. Foi assim que eu sempre fui respeitado pelos colegas.
Desempregado, tive que voltar ao trabalho duro da fundição. Somente em 1973 resolvi enfrentar a vida árdua de jornalista, retornando à Rádio Espinharas, na época dirigida pelo Cônego Joaquim de Assis Ferreira (Padre Assis). Eu havia passado num teste que fizera na Rádio Cariri de Campina Grande, mas preferi continuar em Patos. Por isso, aceitei ao convite que me fora feito pelo Padre Assis.
Meu nome explodiu e a fama apareceu como que por encanto. Assim, fui convidado a integrar os quadros da Emissora Rural a Voz do São Francisco, em Petrolina. Ali, exerci a função de Redator e Locutor e, como tinha bastante experiência no esporte, fui, de imediato, convidado por Teones Batista, para fazer parte do Departamento Esportivo.
Em Petrolina, integrei também os quadros de árbitros da Liga Petrolinense de Desportos, atuando em grandes clássicos como árbitro central. Minhas boas atuações me levaram a apitar uma partida decisiva do campeonato de Juazeiro da Bahia, entre Carranca X Veneza. Foi a minha consagração. Motivo para que passasse a ser respeitado naquela região, deixando o meu nome como “marca registrada” no futebol de Petrolina e Juazeiro.
Voltei a Patos para dirigir o Departamento de Jornalismo da Rádio Panati, onde permaneci até ser convidado para retornar à Rádio Espinharas de Patos, onde exerci a mesma função. Ali também fiz parte do Departamento Esportivo, comandado pelo saudoso Edleuson Franco de Medeiros, fazendo dupla com o também saudoso Juarez Farias. Nós éramos a “menina dos olhos” do Edleuson.
Com a implantação da Rádio do Grande Rio, os diretores sonhavam com uma equipe impecável para fazer frente à Emissora Rural (Petrolina) e a Rádio Juazeiro (Juazeiro da Bahia) que, diga-se de passagem, eram dois ossos duros de roer. Daí, a escolha de dois nomes para integrarem os quadro de Jornalismo: Juarez Farias e Adalberto Pereira. Graças a Deus, ganhamos a audiência pela nossa competência profissional.
A situação da Rádio da Grande Serra, em Araripina, Pernambuco, não era das melhores. A emissora estava “atolada” até o pescoço e, para tirá-la do fundo do poço, o Dr. Geraldo Coelho convidou-me para assumir a direção da empresa. Uma tarefa árdua e, para muitos colegas, impossível.
Aceitei o desafio. Os primeiros dias foram terríveis. Precisava a todo custo, tirar alguns costumes de funcionários acostumados com a “baderna” ali existente. Algumas reuniões e a aplicação de disciplina com advertências e suspensões, fizeram com que as coisas fossem se normalizando. O que era impossível, aconteceu: a empresa saiu do vermelho e passou a trabalhar com lucros impressionantes.
Se isso foi ótimo para a empresa, para mim não passou de sofrimento e angústia. Algumas pessoas passaram a perseguir-me, inclusive pessoas de fora, que nada tinham a ver com a Rádio. Entre essas pessoas estava o Sr. João Ramos que, por não ter conseguido manipular a minha administração, passou a perseguir o meu trabalho.
Uma coisa que eu desconhecia era que o Dr. Geraldo Coelho era dessas pessoas que, como diziam alguns amigos meus, “emprenham pelos ouvidos”. Ele ouvia as mentiras do cidadão e acreditava como se elas fossem verdades. Embora a Rádio da Grande Serra estivesse indo muito bem e com uma programação inovadora, inclusive com duas locutoras: Suely Gomes e Magda Silvana (fato inédito em toda a história da emissora), e profissionais cuidadosamente escolhidos e contratados, nada impediu a minha demissão.
Era questão de honra para Francisco Fernandes, o grande protegido de Aloísio Gomes, colocar Iveraldo Nascimento na direção da Rádio da Grande Serra. Para isso, formaram um complô contra a minha pessoa, culminando na minha demissão. Essa verdade foi confirmada com a imediata ascensão do Iveraldo.
Não sei se por incompetência ou negligência do novo Diretor, a empresa passou a apresentar quedas nos lucros e, segundo foi constatado por auditores do grupo Coelho, o prejuízo girou em torno de 50 mil cruzeiros (moeda corrente na época). O Diretor foi obrigado a se demitir para não ser indiciado.
Castigo ou não, acredito que eles devem ter se arrependido por acreditarem nas palavras de pessoas irresponsáveis. Afinal, tirar um profissional que mudara o conceito negativo da empresa, dando-lhe credibilidade junto à comunidade e resgatando o respeito perdido pela incapacidade administrativa de alguém e colocar uma pessoa inexperiente e incompetente para o cargo, não deixa de ser uma atitude mesquinha e anti-ética, que só poderia ter sido tomada por pessoas alheias à realidade de um veículo de comunicação.
Certa vez encontrei-me com Iveraldo Nascimento, na Rodoviária de Petrolina. Por coincidência, viajamos no mesmo ônibus (Viação Progresso) com destino à Araripina. Durante a viagem, falamos sobre a saída dele da direção da Grande Serra. Mesmo sabendo os motivos da demissão do colega, arrisquei a pergunta: “Você vai sair assim, de graça? Por que você não mete a empresa na justiça para mostrar que você é um homem de respeito e de uma idoneidade inabalada?”. Ele simplesmente respondeu que “não queria criar problemas com a empresa”, preferindo sair “numa boa”. Eu tive vontade de dar uma gostosa risada, mas me contive e deixei que ele pensasse que eu acreditava na sua justificativa.
Num encontro casual que mantive com a Maria das Graças (do Departamento Pessoal da Rádio da Grande Serra), nos corredores da Faculdade de Formação de Professores de Araripina, esta perguntou se eu sabia o que havia acontecido com o colega Iveraldo Nascimento. Eu disse que não e que estava totalmente por fora do que ocorria naquela empresa. Detalhadamente ela falou: “Pois bem, Iveraldo pagou caro o que ele fez contigo. Os homens chegaram lá na rádio e imprensaram ele na parede pra ele dizer onde estava o dinheiro da rádio. Eles disseram: ‘onde está o dinheiro da rádio, seu ladrão?’. Olha, Adalberto, foi humilhante, só tu vendo como ele ficou.”
Acreditar nas palavras da Graça era uma coisa a se pensar. Mesmo porque ela, durante a minha gestão, havia embolsado o dinheiro que a Madame Marily havia pago e que fora deixado por mim em sua mesa de trabalho, local em que somente nós dois tínhamos acesso. Além disso, ela havia passado alguns recibos “frios” para clientes, sem prestar contas à empresa. Por isso, ela foi chamada a atenção e só não a demiti em consideração a sua filhinha, de menos de um ano, uma vez que ela dependia do emprego para sustentar a casa.
A grande verdade é que o rádio deu-me muitas alegrias, mas também foi motivo de grandes decepções, principalmente quando tive que enfrentar “patrões” incompetentes, daquele tipo de gente que tem dinheiro para comprar uma concessão, mas não tem inteligência para administrar uma empresa da área de comunicação. Eu os considero como autênticos “penetras”. Sou da opinião de que o rádio deveria estar nas mãos de quem conhece os segredos que envolvem os meios de comunicações.
Foi com grande tristeza que deixei a profissão que eu mais amava e que mais me deixava orgulhoso como profissional. Afinal, foram mais de 25 anos de trabalho, sempre fazendo o possível para fazer o melhor, olhando os meus ouvintes como o alvo principal. Foi assim que recebi, por dois anos consecutivos (1982 e 1983), o título de “Melhor Redator do Ano”. Foi assim que recebi o título de “Cidadão Patoense”. Foi assim que fiz grandes amigos e que deixei saudades por onde passei.
Apesar de tudo, ainda guardo alguns fatos interessantes na lembrança. São fatos até certo ponto engraçados, como um que envolve “Ferré”, proprietário de um bar no final da Avenida Epitácio Pessoa, e Firmino, um jovem guitarrista do conjunto “Z-7”.
Firmino fazia seus lanches no bar do “Ferré” e pagava no final de cada mês (quando pagava). O débito estava acumulado em 20 cruzeiros (moeda da época). Certo dia, Firmino ia com a namorada e quando viu, de longe, “Ferré” na porta do bar, tentou levar a moça por outra rua, mas como ela insistiu em ir por ali, perguntando por que ele evitava aquele trajeto, o jeito foi enfrentar o velho “credor”.
Para não ser visto pelo “Ferré”, Firmino colocou a namorada no lugar oposto e, por todo o trajeto, tentou se esconder do dono do bar. Não teve jeito. Do outro lado da rua, “Ferré” gritou: “Firmino! E aqueles 20 cruzeiros?”. Sem pestanejar, Firmino respondeu: “Não se preocupe, Ferré, depois você me paga!!!”. E, virando-se para a namorada cochichou: “Coitado! Ele me deve 20 cruzeiros e eu não tenho coragem de cobrar...”
O Bar do “Ferré” não era muito higiênico. Vez por outra, as baratas corriam pelos cantos das paredes, fazendo com que os “fregueses” mais freqüentes chamassem a atenção do proprietário, que sempre levava aquilo na brincadeira.
Firmino entrou no bar, sentou-se em uma das meses próximas da parede (propositadamente), pediu uma vitamina de abacate e uma fatia de bolo fôfo. Como as vitaminas eram feitas e guardadas durante vários dias, o pedido do Firmino não demorou muito. Depois de tomar quase todo o conteúdo do copo, Firmino pegou uma baratinha nova e, num movimento rápido, colocou-a dentro do copo. Foi aí que ele chamou o “Ferré”:
- Êi, Ferré! Venha aqui! Rápido, Ferré! Venha aqui correndo!
“Ferré” foi até à mesa onde estava o Firmino e perguntou o que tinha acontecido que ele o chamava com tanta insistência, ao que Firmino respondeu:
- Veja! Tem uma barata dentro da vitamina e eu só vi agora, quando já estava terminando o meu lanche. Isso é uma seboseira, “Ferré”! Eu não vou pagar por isso, vou?”.
Olhando firme para Firnimo, “Ferré” disparou:
- Pra cima de mim, Firmino! Essa vitamina tem quinze dias. Como é que essa barata ainda está viva?! Vai logo pagando a conta, garoto, que eu posso ser tudo, menos besta!”
A cidade de Patos, na Paraíba, foi e sempre será palco de histórias fascinantes e uma delas é a do barbeiro João da Cruz, um cidadão semi-analfabeto que, ao terminar de tirar a barba do cliente fazia a seguinte pergunta: “Qué áico, táico ou qué qui múi?”.
Esse comportamento chamou a atenção de colegas da época, que resolveram fazer uma marchinha de carnaval, apenas para a diversão da “turma da gozação”. A música ficou assim: “Qué áico, táico ou qué qui múi? É esse o lema do barbeiro João da Cruz”. O pior é que a turma resolveu cantar bem em frente à barbearia do homem, que ficou uma fera e botou todo mundo pra correr, ameaçando-os com uma navalha.
Há fatos que não conseguimos esquecer. Um exemplo disso foi o trágico acidente ocorrido na localidade conhecida como “Serrotão”, próximo ao bairro de Bodocongó, em Campina Grande, envolvendo o avião da Loyde Aéreo, prefixo PP-LDX. O avião procedia do Recife com destino à Fortaleza, com conexão em Campina Grande. Eram mais ou menos 19:30 horas (não lembro o dia e o mês), provavelmente no ano de 1958, quando o referido avião sobrevoou a cidade por várias vezes, por não conseguir localizar o aeroporto João Suassuna. O piloto resolveu arriscar uma aterrissagem forçada. Tudo ia às mil maravilhas quando o aparelho foi ao encontro de uma grande pedra que estava entre a mata. Os dois motores e mais duas outras partes do aparelho ficaram em lugares diferentes. Várias pessoas morreram. Outros passageiros saíram ilesos. Esse fato ficou registrado na história daquela cidade paraibana. Eu fiquei impressionado ao ver, pela primeira vez em minha vida, um avião naquelas condições. Dizem que no local foi construída uma capela.
Em Patos, onde cheguei logo após sair do Exército, fiquei surpreso com um fato inédito, pelo menos para mim: nomes estranhos de jogadores de futebol (amadores e profissionais). Veja esta lista: Pistola, Banana, Tripa, Farinha, Buchada, Canário, Colher, Cocada, Chico Garrote e João Grilo. Por sinal, os amigos costumavam dizer que Patos era a única cidade onde se podia encontrar um locutor gago e um mudo que falava. Eles se referiam ao locutor esportivo Edleuson Franco (narrador esportivo da Rádio Espinharas), e a uma figura folclórica conhecida como “o mudo do cinema” (um cara que trabalhava no antigo Cine El Dorado). Este cinema estava localizado na Av. Pedro Firmino e era lá onde se apresentavam os grandes cantores que por ali passavam (Nelson Ned, Duo Ciriema, Caubi Peixoto, Waldik Soriano, entre outros).
Também guardo na memória outros nomes estranhos como: Tempestade, goleiro do Treze Futebol Clube; João Pipoca, goleiro do Humaitá, de Bodocongó; Arrepiado, também jogador do Treze Futebol Clube de Campina Grande.
Foi em Campina Grande onde eu tive meu primeiro contato com o mundo da política. Eu tinha, na época (1957/58), quando, de passagem pela residência do Sr. Severino Bezerra Cabral, na Rua Getúlio Vargas, resolvi entrar. O portão estava aberto e na varanda da casa, estava D. Anita Cabral, bem sentada numa cadeira. Perguntei pelo Sr. Severino Cabral e ela indicando a porta que dava acesso à sala, mandou que eu entrasse e me dirigisse até a cozinha, onde o encontrei diante de um saboroso cuscuz de milho e uma vasilha com leite. Gentilmente, ele mandou que eu me servisse. “seu” Cabral era assim mesmo: atencioso e cortês, apesar de ser analfabeto nato.
A partir daquele momento, passei a participar de todos os comícios de Cabral, candidato a prefeito de Campina Grande. Por sua estatura e pela maneira de andar sem muita elegância, ele recebeu o apelido de “pé de chumbo”. Aliás, um apelido que o acompanhou durante toda a sua campanha.
Eu jogava no Vasco da Gama, time que representava o bairro do Monte Santo e tinha apenas 17 anos de idade. O Sr. Silva, Diretor de Futebol do Vasco, sabendo eu era bem próximo de Cabral, pediu que pedisse alguma ajuda para o clube. Falei com ele que, de imediato, foi comigo até a “Casa dos Esportes”, onde autorizou a compra de todo o material do Vasco, inclusive duas bolas novinhas. A entrega foi feita num sábado à noite, durante reunião na sede do clube. Foi uma verdadeira festa com a presença de Cabral.
Foi uma campanha bastante acirrada. Era um candidato “matuto”, um verdadeiro “pé de chumbo”, contra Newton Rique, dono do Banco Industrial de Campina Grande. Cabral fazia passeatas nas poeiras das antigas ruas da cidade. Newton Rique, ao contrário, fugindo das poeiras, fazia carreatas. Ganhou o “pé de poeira”, o “matuto”, o “pé de chumbo”, mostrando que a humildade é um dos pontos que conduzem um candidato à vitória.
Só voltei a ver Severino Cabral quando eu estava no Exército. Eu integrava a banda marcial quando, no dia 7 de setembro de 1960, estávamos em forma e ele, juntamente com o tenente-coronel Otávio Ferreira de Queiroz, comandante do BSvE, passou em vista a nossa tropa, momentos antes de ser iniciado o desfile, que percorreria parte da rua Monte Santo, rua das Areias até a Praça da Bandeira, onde estava o palanque oficial, com as autoridades campinenses, entre elas o prefeito Severino Cabral e sua mulher, D. Anita Cabral. O palanque ficava próximo aos Correios e Telégrafos.
Houve época em que eu resolvi brincar de compositor. Foi aí que fiz umas músicas para participar de um Festival de músicas carnavalescas. Eu tinha um amigo chamado Baiano e, certo dia, em época de carnaval, nós fomos ao Comercial Campestre Clube, onde seria realizado um “grito de carnaval”. Ao sair de casa, olhei para minha mulher e disse: “querida, até quarta-feira!”. De imediato, Baiano disse: “porque você não faz uma música com esse título?”. Olhei para ele e respondi: “não fale comigo por um instante, que eu vou fazer a música!”. Menos de meia hora depois estava pronta. Fiz um leve sorriso e Baiano desconfiou que eu havia terminado a música. Foi então que ele perguntou: “já posso falar?”. Eu disse que sim e cantei a música, que ficou assim:
ATÉ QUARTA-FEIRA
Meu bem, até quarta-feira,
Não vá se preocupar,
Eu volto de qualquer maneira,
Na quarta-feira pode me esperar (meu bem) (2 x)
O domingo é da lourinha,
A segunda de quem aparecer,
A terça é da moreninha,
Na quarta-feira eu volto pra você (meu bem).
Ao chegarmos no Campestre, Baiano foi falar com o maestro Saraiva, dizendo-lhe que eu tinha uma música que poderia fazer sucesso. Sem que eu esperasse, lá para o meio do baile, Saraiva tomou microfone e me convidou a subir ao palco para cantar a minha música. Até que as pessoas gostaram e cantaram comigo. Empolgado, inscrevi esta música no Festival e me saí muito bem com um honroso terceiro lugar. Mas como cada compositor era obrigado a inscrever três músicas, fui obrigado a “queimar as pestanas” e fazer outras duas: “A marcha da peteca” e “Saudades dos carnavais”, que ficaram assim, pela ordem:
A MARCHA DA PETECA
Como é chato o velho careca, só veio atrapalhar meus planos,
Jogou fora a minha peteca, sem respeitar os seus sessenta anos.
Careca, careca, devolva a minha peteca!
Careca, careca, eu quero a minha peteca!
O que é que eu vou fazer com esta confusão
Para brincar o carnaval?
Eu tenho que fazer outra peteca para jogar no velho careca.
Careca, oh, velho careca, devolva a minha peteca!
Careca, oh, velho careca, eu quero a minha peteca!
-x-x-x-x-x-x-x-x-
SAUDADES DOS CARNAVAIS
Ai quem me dera os carnavais passados
Das lindas fantasias, dos mascarados!
Onde estão o Pierrot e a Colombina,
Os blocos pelas ruas, os confetes e serpentinas.
Quantas saudades guardo comigo,
Tempos passados que não voltam mais;
Os anos passam e eu não consigo
Matar minhas saudades dos velhos carnavais.
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
Como era muito fácil e bem gostosa de cantar, a música “Até quarta-feira” se transformou em marchinha de salão, como eram conhecidas as músicas consideradas simples e de mensagens rápidas. Eram músicas que se cantava até sem acompanhamento.
A música “Saudades dos carnavais” foi apresentada ao cantor Altemar Dutra, quando de sua passagem por Patos. Ele gostou bastante e pediu minha autorização para gravá-la. Como ainda estava longe do carnaval, comprometi-me de mandá-la na época em que começassem as gravações das músicas carnavalescas. Infelizmente, Altemar Dutra morreu sem que eu tivesse a honra de ter minha música gravada por ele. Coisas do destino.
(Aguardem a continuação.....)
terça-feira, 31 de março de 2009
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