quinta-feira, 5 de março de 2009
Repentes e Repentistas (livro) - Parte 02
PRIMEIRO CONGRESSO DE POETAS REPENTISTAS DO ARARIPE
No Primeiro Congresso de Poetas Repentistas do Araripe, realizado na cidade de Araripina, Pernambuco (de 05/07 a 07/07/1986) e que eu tive a felicidade de promover, vários foram os gêneros e os temas cantados pelos participantes. Entre eles, escolhi alguns que foram registrados ao longo do evento. Vejamos os temas e seus respectivos gêneros:
• SEXTILHAS: “O mentiroso”; “Uma noite de São João”; “A seleção brasileira”; “O repentista sem sorte”; “Um rico avarento”; “Uma noite de Natal”; “Uma mãe desprezada”; “A reforma agrária”; “Um bodegueiro ladrão”; “Uma mulher ciumenta”; “Uma Igreja abandonada”.
• MOTES EM SETE SÍLABAS: “Muita gente se escondeu com medo de Lampião”; “Vamos construir amor no lugar da violência”; “Depois do caso passado, não adianta chorar”; “A mulher que gosto dela, faz é tempo que não vejo”; “O mau vizinho é a fera maior que pode existir”; “Eu estou apaixonado pela filha do patrão”; “Só morre minha esperança depois que eu falar com ela”; “Pra não morrer de saudades, vou voltar pra meu lugar”; “Meu cavalo bom de gado, morreu numa vaquejada”; “Quem é cristão sente pena da criança abandonada”; “No bem da mulher amada está o bem da criação”; “Um prefeito preguiçoso deixa o povo revoltado”
• MOTES EM DECASSÍLABOS: “Sua jura quebrada pareceu com o fim do romance de amor”; “O suor do candango nordestino fez São Paulo aumentar sua riqueza”; “A campanha política está chegando para o povo escolher seu candidato”; “Nosso mundo soluça agonizante no abismo da guerra nuclear”; “O pacote econômico agora fez a pobreza sorrir de alegria”; “A TV brasileira tem mostrado terrorismo, amor e violência”; “Não devaste a floresta brasileira, pra não ver nossa terra destruída”; “O pecado do crime é tão pesado, que a balança de Deus fica tremendo” (Zé Morais); “A velhice é doença que não tem medicina que possa lhe curar”; “A cascata chorava sem parar na primeira chuvada de janeiro”; “Quem odeia a sagrada poesia, não entende das coisas que Deus fez”.
• OUTROS GÊNEROS: Quadrão à beira-mar; Martelo agalopado; Gemedeira; Me responda, cantador!; Rojão pernambucano (Quando eu voltava, ela ia); O cantador de vocês; Dez de queixo caído; Dez pés a quadrão; Mourão voltado; “Brasil caboclo”.
OS CRITÉRIOS PARA A REALIZAÇÃO DO PRIMEIRO CONGRESSO DE POETAS REPENTISTAS DA REGIÃO DO ARARIPE:
1)- Foram oito (8) envelopes numerados, de 01 a 08;
2)- Cada envelope continha um papel com a numeração idêntica à do envelope, contendo os estilos que seriam desenvolvidos pelas duplas de poetas participantes;
3)- Cada dupla de poeta teria cinco (5) minutos para desenvolver os temas contidos no envelope sorteado;
4)- As notas seriam dadas pelos jurados, de 01 a 05;
5)- Quatro (4) duplas se apresentaram em cada noite, sendo classificadas três delas para a finalíssima;
6)- Concorreriam as oito (8) duplas inscritas legalmente, totalizando dezesseis (16) poetas repentistas;
7)- Os prêmios foram anunciados e comunicados aos concorrentes, quarenta e oito (48) horas antes do início do Congresso;
8)- Somente estariam legalmente inscritos aqueles que concordassem com os critérios do Congresso;
9)- Todos os gêneros, motes e seleção dos envelopes, bem como de todos os materiais utilizados no Congresso foram supervisionados e preparados por uma comissão formada por poetas e acompanhados pelo promotor do evento;
l0)- O Primeiro Congresso de Poetas Repentistas da Região do Araripe teve como local a Associação Recreativa e Cultural de Araripina – ARCA – ficando a comissão na obrigação de comunicar com antecedência, qualquer mudança de local, em caso de necessidade.
OBS: O Congresso foi aberto pelos poetas repentistas Moacir Laurentino e Raimundo Borges, que tiveram o patrocínio exclusivo do “Mercadão dos Tecidos”, através do seu gerente Normando Sóracles Gonçalves, que também esteve presente na apresentação do evento.
No primeiro dia se apresentaram as duplas: Borboleta do Norte e Assis Rosendo; João Batista e Vitorino Bezerra; José Melquíades e Reinaldo Ribeiro; Antônio Ricardo e Nei Ricardo.
Dessas quatro duplas, três seriam classificadas para a fase seguinte, ficando apenas uma dupla desclassificada.
• OS PATROCINADORES: O Primeiro Congresso de Poetas Repentistas do Araripe aconteceu graças ao patrocínio de algumas prefeituras e de empresas, cujos proprietários eram grandes admiradores dos cantadores de violas.
• Prefeitura Municipal de Ouricuri (Prefeito Carlos Alberto Muniz Coelho);
• Prefeitura Municipal de Trindade (Prefeito Francisco de Carvalho Leite);
• Prefeitura Municipal de Araripina (Prefeito José Valmir Ramos Lacerda);
• ARTEFIL (Araripina Tecidos e Fios Ltda.) > Valdeir Batista;
• ICOASA (Indústria e Comércio de Óleo Araripina Sociedade Anônima) > Antônio Lacerda;
• Mercadão dos Tecidos (Normando Sóracles Gonçalves – gerente);
• Rádio da Grande Serra Ltda. (Adalberto C. Pereira – gerente
Eu sempre fui um admirador incondicional dos poetas repentistas e os acompanhava em suas cantorias, fossem elas ingressadas ou de pé-de-parede. Para não perder os maravilhosos trabalhos por elas apresentados, levava comigo um gravador, que passou a ser o meu companheiro inseparável. Essa admiração fez com que eu sempre promovesse apresentações de violeiros nos colégios onde lecionei Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
Infelizmente, os professores não se interessam muito por este estilo, uns por não terem ainda descoberto a beleza dos versos improvisados, outros por acharem que isso é negócio pra “gentalha” e que não deve ser levado às nossas elites. Sinto pena daqueles que assim pensam, pois a Literatura de cordel é algo sensacional, maravilhoso, espetacular. Ouvir uma boa dupla de poetas repentistas é, realmente, uma das melhores opções.
Certa vez, numa aula de Literatura Brasileira em um dos colégios por onde passei, resolvi promover um encontro entre meus alunos e os poetas repentistas José Melquíades e Assis Rosendo. O negócio foi tão bom que a direção do Colégio pediu para que outras turmas participassem daquele momento, que marcou época na história daquele estabelecimento de ensino. Naquele dia, apresentei alguns trabalhos feitos por mim, os quais faço questão de inserir neste trabalho:
01 – “O Cantador de Vocês” (desafio)
Você não conhece a lei, não sabe o que é verdade
E não tem capacidade de saber o que eu sei.
Na sua terra sou rei e mando nos coronéis,
É treze com doze, é onze com dez, é nove com oito, é sete com seis,
É cinco, é quatro, mais um, mais dois e mais três,
Pra mim você não é nada e eu vou dar uma lapada
No cantador de vocês.
Êta bichinha safada, que não sabe o que quer,
Bota chifres em mulher, vive levando pôrrada,
Essa bicha desgraçada só vive pelos bordéis.
É treze com doze, é onze com dez, é nove com oito, é sete com seis,
É cinco, é quatro, mais um, mais dois e mais três,
Eu já tô ficando grosso e vou torcer o pescoço
Do cantador de vocês.
02 – “Gemedeira”
A mulher que eu amava disse adeus e foi embora,
Me deixou assim sozinho e saiu estrada afora.
Eu que vivia sorrindo, ai, ai, ui, ui,
Só canto gemendo agora.
Eu lhe dei todo carinho, lhe beijava toda hora,
Sem saber que aquela ingrata já pensava em ir embora
E eu deixei de ser feliz, ai, ai, ui, ui,
Só canto gemendo agora.
03 – “Coqueiro da Bahia”
Vou cantar uma canção que é das outras diferente,
Vou fazê-la num repente que eu improvisei agora,
Pois eu canto toda hora, é de noite e é de dia:
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu,vambora!
Eu também quero cantar junto com meu companheiro,
Que é poeta verdadeiro e faz versos sem demora,
Por esse Brasil afora, sigo em sua companhia,
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Pode seguir ao meu lado, que eu não posso ir sozinho,
Vamos no mesmo caminho pra saber onde ela mora,
Só assim você decora o endereço de Maria,
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Eu preciso encontrá-la pra dizer que lhe adoro,
Vou dizer onde é que moro e beijá-la sem demora,
Só não quero levar “fora” dos parentes de Maria,
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Se você não se der bem com os parentes da menina,
Se cortarem sua “sina”, eu dou um jeito na hora,
Pegue ela e vá embora, pode me deixar na fria,
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, Vambora!
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Se eu me casar com ela vou realizar meu sonho,
Já não fico tão tristonho, como estou aqui, agora,
Eu abraço sem demora o corpinho de Maria,
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Acredito nesse amor que você sente por ela,
Porque sei que a donzela já provou que lhe adora,
Ela chora e você chora, toda noite e todo dia,
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Eu amo com lealdade tudo que Maria tem,
E gosto de ver também quando ela me implora:
“Meu amor, me beije agora, faça tudo que eu queria,
Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
Quer ir mais eu, vamos; quer ir mais eu, vambora!
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