terça-feira, 31 de março de 2009
Valdemar Florentino de Souza Irmão e Louraci Freitas são dois amigos que não são conceituados por palavras, mas pelo carinho como tratam seus amigos.
MEMÓRIAS DE UM SOLDADO SEM MALÍCIAS - (Livro) - Continuação
Aqui, eu estou na plataforma da rodoviária de Brasília. Ao fundo, o Teatro Nacional.
UMA AVENTURA PROFISSIONAL
Minha primeira aventura profissional foi em 1979, quando me transferi para a emissora Rural A Voz do São Francisco, em Petrolina. Para mim foi um risco dos maiores. Afinal, eu nunca havia pensado em sair de Patos, onde chegara há pelo menos 18 anos e havia construído um círculo de amizade bastante firme.
Lembro que Edleuson Franco, Nestor Gondim e José Augusto Longo disseram que eu nunca chegaria perto de um microfone da Emissora Rural, uma vez que o pessoal de lá era muito bom e eu não iria encontrar espaço além de redigir notícias. Confesso que fiquei triste e preocupado, pensando comigo mesmo: “o que é que eu vou fazer lá?”
Sem conhecer ninguém em Petrolina, a não ser o Juarez Farias, cheguei àquela cidade com a cabeça repleta de dúvidas. Afinal, ali era um verdadeiro “ninho de cobras”, como dissera meus amigos de Patos.
Os dias passaram e, finalmente, recebi a incumbência de apresentar um noticiário. Foi aí que mais lembrei da observação dos amigos patoenses. Parece que foi um teste de fogo, pois no outro lado do vidro, por trás do operador, estavam Monsenhor Gonçalo Pereira Lima (diretor), Vinicius de Santana (diretor artístico), e o pai dele. Ignorei a presença dos três e mandei pro ar as notícias. Foi um sucesso, graças a Deus.
Posso dizer com toda convicção que Petrolina foi um “trampolim” para o meu sucesso como radialista, pois foi de lá que, em 1984, recebi o convite para integrar o quadro da Rádio do Grande Rio, onde amadureci ainda mais na vida profissional. Muito aprendi com profissionais como Teones Batista, Carlos Augusto, Farnézio Silva e outros. Também tive o prazer de orientar outros que iniciavam sua caminhada no mundo do rádio.
Petrolina é uma cidade espetacular. Linda e acolhedora. Ótima para quem gosta de uma vida social completa. Com os amigos Teones Batista, Farnésio Silva e outros, sempre íamos a Juazeiro da Bahia. Era muito fácil: bastava atravessar a ponte e lá estávamos nós curtindo a vida noturna baiana.
Aos domingos, pela manhã, ia à Orla do São Francisco para banhar-me nas águas daquele caudaloso rio. Almoçava no restaurante que ali existia (não existe mais) e paquerava as meninas que alí compareciam em busca de aventuras. Eram baianas e pernambucanas que se misturavam, formando um misto de beleza e sensualidade.
Na Emissora Rural, eram constantes as visitas de mocinhas que iam conhecer os locutores da rádio. Como eu era de outro Estado, as atenções se voltavam para mim. Foi em uma dessas visitas que conheci a Genedite, uma jovem que residia no bairro Atrás da Banca e que trabalhava numa concessionária de automóveis.
Naquela emissora, trabalhei quase dois anos, retornando a Patos para, quatro anos depois, em 1984, voltar para Petrolina, desta vez para a Rádio do Grande Rio, onde fiquei até o ano de 1986, quando fui indicado para gerenciar a Rádio da Grande Serra, em Araripina.
Dali, saí para um desafio maior: ser gerente da Rádio da Grande Serra, em Araripina, onde mostrei a minha capacidade administrativa e a minha competência profissional, mudando a imagem do rádio na região do Araripe. Foi ali que, depois de contribuir com o desenvolvimento da Rádio da Grande Serra, fiz parte de outros órgãos de imprensa: fui fundador da Rádio Arco-Íris FM; fui Assessor de Imprensa da Câmara Municipal “Casa de Joaquim Pereira Lima”; redator-chefe dos jornais “A Notícia” e “Tribuna do Araripe”; e fundador da revista “Olhe”.
Em Araripina, fui professor no Colégio Destak, onde lecionei Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Sociologia, Filosofia, Ensino Religioso e Direito e Legislação. Na Faculdade de Formação de Professores – FAFOPA, lecionei Língua Portuguesa e Língua Latina. No Colégio CERu Luiz Gonzaga Duarte, lecionei Língua Portuguesa e Língua Inglesa. No Colégio Padre Luiz Gonzaga, lecionei Língua Portuguesa e Didática e Prática da Língua Portuguesa – DPLP.
Também fui Diretor do Departamento de árbitros, da Liga Araripinense de Futebol e atuei como árbitro até o ano de 1995. Em 2000, assumi a direção de jornalismo da Rádio Araripina FM, onde fiquei até 2001, quando saí para fixar residência na Capital Federal.
DO NORDESTE PARA A CAPITAL DO BRASIL
Valdim, tio de minha esposa, residia há muitos anos no Paranoá, uma das cidades satélites do Distrito Federal. Todos os anos ele ia ao Nordeste, visitar a família, que morava em Marcolândia, no Piauí. Sabendo que eu achava Brasília uma cidade linda, ele sempre me convidava a visitá-la. Eu prometia mas nunca cumpria o prometido.
No ano de 2001, Valdim deu o golpe final: disse que eu fosse conhecer Brasília, prometendo-me a passagem de volta. A oferta foi tentadora e eu não pensei duas vezes. Em contato com meu amigo Rivaldo Araújo, que já morava no Gama, outra cidade satélite do DF, ele disse que eu me preparasse, pois estava havendo inscrição para professores na Fundação Educacional do Distrito Federal.
Cheguei em Brasília no dia 9 de janeiro de 2001. Três dias depois, estava fazendo a minha inscrição e a da minha esposa. Depois de 15 dias no DF, retornei à Araripina. Mas, quando menos esperava, Rivaldo telefonou comunicando que eu havia sido convocado. Viajei com toda a minha família, em definitivo, para Brasília, onde cheguei na tarde do dia 21 de fevereiro de 2001, assumindo a minha vaga de professor na cidade satélite de Santa Maria, onde lecionei nos colégios 416, 213, 308 e 201.
RELEMBRANDO OS AMIGOS:
Nesta parte final deste livro de memórias, quero relembrar de alguns amigos que fiz dentro e fora do rádio. Quero iniciar com os queridos amigos radialistas e jornalistas:
José Augusto Longo da Silva, Luiz Pereira (in memoriam), Artur Dionísio, José Wilson, Edilson Brandão, o velho e saudoso Zacarias, Bosco “Boró”, Odísia Wanderlei, Corina, Juarez Farias (in memoriam), Louracy Freitas, Souza Irmão, Souza Filho, Virgílio Trindade, Nestor Gondim, José do Bonfim, José Medeiros, Joaquim Pedra, Assis Pedra, Francisco Augusto (Chico Fiapo), Fernando Augusto, José Augusto, Petrônio Gouveia, Edleuson Franco (in memoriam), Waldemar Tude, Waldemar Rui, Roberto Fernandes (Jabiraca), Antônio Vieira, Roberto Fortunato, Hamilton Leite, Zezinho da Panati, Aloisio Araújo (in memoriam). Incluo meus ex-diretores: Maurício Leite, Rackson Torres, Pe. Joaquim de Assis Ferreira (in memoriam), Pe. Waldomiro Batista de Amorim, Pe. Constante Danielewcz, Pe. Luiz Laíres da Nóbrega, Aldo Sátyro Xavier, Pedro Oliveira (Pedro Pedra). A lista segue com Luiz Carlos, Patrício Neto (Patrisson), Roberto Furtunato, Joaquim do Clarinete, Toinho do Bandolim, Valdemar do Pandeiro.
Não poderia faltar espaço para os amigos jornalistas Abraão Teixeira, Inácio Bento e Oswaldo Medeiros, que representavam os principais jornais que circulavam na cidade de Patos naquela época (Correio da Paraíba, A União, O Norte), inclusive o Diário da Borborema, que era representado por mim.
Na Liga Patoense de Futebol (L.P.F.), onde fui Vice-Presidente; Diretor do Departamento de Arbitragem e árbitro, deixei muitos amigos: Juracy Dantas (meu eterno presidente), Mário Lemos, Dimas Alexandrino, Mário Leitão (Maroca), Silvaneto Firmino, Paulo César, Coremas, Geraldo Geraldino (in memoriam), José de Anchieta.
Fora do rádio, também tive colegas maravilhosos, que também merecem destaque neste meu trabalho. São eles: Adão Eulâmpio da Silva, Geraldo Mamede (de saudosa memória), Silvino Lucena e Manoel Ananias (da Bandeirantes), João Moreira, professor Abraão Luiz, João Rodrigues, Titico, Lula, Demétrius (estes quatro do bairro do Salgadinho), Dr. Efigênio Vilar, Aldo das baterias, Francisco de Assis Vieira (Binda) (in memoriam), Joacil de Brito (que assumiu a festa dos destaques, criada por mim em 1977).
(Aguardem a continuação........)
UMA AVENTURA PROFISSIONAL
Minha primeira aventura profissional foi em 1979, quando me transferi para a emissora Rural A Voz do São Francisco, em Petrolina. Para mim foi um risco dos maiores. Afinal, eu nunca havia pensado em sair de Patos, onde chegara há pelo menos 18 anos e havia construído um círculo de amizade bastante firme.
Lembro que Edleuson Franco, Nestor Gondim e José Augusto Longo disseram que eu nunca chegaria perto de um microfone da Emissora Rural, uma vez que o pessoal de lá era muito bom e eu não iria encontrar espaço além de redigir notícias. Confesso que fiquei triste e preocupado, pensando comigo mesmo: “o que é que eu vou fazer lá?”
Sem conhecer ninguém em Petrolina, a não ser o Juarez Farias, cheguei àquela cidade com a cabeça repleta de dúvidas. Afinal, ali era um verdadeiro “ninho de cobras”, como dissera meus amigos de Patos.
Os dias passaram e, finalmente, recebi a incumbência de apresentar um noticiário. Foi aí que mais lembrei da observação dos amigos patoenses. Parece que foi um teste de fogo, pois no outro lado do vidro, por trás do operador, estavam Monsenhor Gonçalo Pereira Lima (diretor), Vinicius de Santana (diretor artístico), e o pai dele. Ignorei a presença dos três e mandei pro ar as notícias. Foi um sucesso, graças a Deus.
Posso dizer com toda convicção que Petrolina foi um “trampolim” para o meu sucesso como radialista, pois foi de lá que, em 1984, recebi o convite para integrar o quadro da Rádio do Grande Rio, onde amadureci ainda mais na vida profissional. Muito aprendi com profissionais como Teones Batista, Carlos Augusto, Farnézio Silva e outros. Também tive o prazer de orientar outros que iniciavam sua caminhada no mundo do rádio.
Petrolina é uma cidade espetacular. Linda e acolhedora. Ótima para quem gosta de uma vida social completa. Com os amigos Teones Batista, Farnésio Silva e outros, sempre íamos a Juazeiro da Bahia. Era muito fácil: bastava atravessar a ponte e lá estávamos nós curtindo a vida noturna baiana.
Aos domingos, pela manhã, ia à Orla do São Francisco para banhar-me nas águas daquele caudaloso rio. Almoçava no restaurante que ali existia (não existe mais) e paquerava as meninas que alí compareciam em busca de aventuras. Eram baianas e pernambucanas que se misturavam, formando um misto de beleza e sensualidade.
Na Emissora Rural, eram constantes as visitas de mocinhas que iam conhecer os locutores da rádio. Como eu era de outro Estado, as atenções se voltavam para mim. Foi em uma dessas visitas que conheci a Genedite, uma jovem que residia no bairro Atrás da Banca e que trabalhava numa concessionária de automóveis.
Naquela emissora, trabalhei quase dois anos, retornando a Patos para, quatro anos depois, em 1984, voltar para Petrolina, desta vez para a Rádio do Grande Rio, onde fiquei até o ano de 1986, quando fui indicado para gerenciar a Rádio da Grande Serra, em Araripina.
Dali, saí para um desafio maior: ser gerente da Rádio da Grande Serra, em Araripina, onde mostrei a minha capacidade administrativa e a minha competência profissional, mudando a imagem do rádio na região do Araripe. Foi ali que, depois de contribuir com o desenvolvimento da Rádio da Grande Serra, fiz parte de outros órgãos de imprensa: fui fundador da Rádio Arco-Íris FM; fui Assessor de Imprensa da Câmara Municipal “Casa de Joaquim Pereira Lima”; redator-chefe dos jornais “A Notícia” e “Tribuna do Araripe”; e fundador da revista “Olhe”.
Em Araripina, fui professor no Colégio Destak, onde lecionei Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Sociologia, Filosofia, Ensino Religioso e Direito e Legislação. Na Faculdade de Formação de Professores – FAFOPA, lecionei Língua Portuguesa e Língua Latina. No Colégio CERu Luiz Gonzaga Duarte, lecionei Língua Portuguesa e Língua Inglesa. No Colégio Padre Luiz Gonzaga, lecionei Língua Portuguesa e Didática e Prática da Língua Portuguesa – DPLP.
Também fui Diretor do Departamento de árbitros, da Liga Araripinense de Futebol e atuei como árbitro até o ano de 1995. Em 2000, assumi a direção de jornalismo da Rádio Araripina FM, onde fiquei até 2001, quando saí para fixar residência na Capital Federal.
DO NORDESTE PARA A CAPITAL DO BRASIL
Valdim, tio de minha esposa, residia há muitos anos no Paranoá, uma das cidades satélites do Distrito Federal. Todos os anos ele ia ao Nordeste, visitar a família, que morava em Marcolândia, no Piauí. Sabendo que eu achava Brasília uma cidade linda, ele sempre me convidava a visitá-la. Eu prometia mas nunca cumpria o prometido.
No ano de 2001, Valdim deu o golpe final: disse que eu fosse conhecer Brasília, prometendo-me a passagem de volta. A oferta foi tentadora e eu não pensei duas vezes. Em contato com meu amigo Rivaldo Araújo, que já morava no Gama, outra cidade satélite do DF, ele disse que eu me preparasse, pois estava havendo inscrição para professores na Fundação Educacional do Distrito Federal.
Cheguei em Brasília no dia 9 de janeiro de 2001. Três dias depois, estava fazendo a minha inscrição e a da minha esposa. Depois de 15 dias no DF, retornei à Araripina. Mas, quando menos esperava, Rivaldo telefonou comunicando que eu havia sido convocado. Viajei com toda a minha família, em definitivo, para Brasília, onde cheguei na tarde do dia 21 de fevereiro de 2001, assumindo a minha vaga de professor na cidade satélite de Santa Maria, onde lecionei nos colégios 416, 213, 308 e 201.
RELEMBRANDO OS AMIGOS:
Nesta parte final deste livro de memórias, quero relembrar de alguns amigos que fiz dentro e fora do rádio. Quero iniciar com os queridos amigos radialistas e jornalistas:
José Augusto Longo da Silva, Luiz Pereira (in memoriam), Artur Dionísio, José Wilson, Edilson Brandão, o velho e saudoso Zacarias, Bosco “Boró”, Odísia Wanderlei, Corina, Juarez Farias (in memoriam), Louracy Freitas, Souza Irmão, Souza Filho, Virgílio Trindade, Nestor Gondim, José do Bonfim, José Medeiros, Joaquim Pedra, Assis Pedra, Francisco Augusto (Chico Fiapo), Fernando Augusto, José Augusto, Petrônio Gouveia, Edleuson Franco (in memoriam), Waldemar Tude, Waldemar Rui, Roberto Fernandes (Jabiraca), Antônio Vieira, Roberto Fortunato, Hamilton Leite, Zezinho da Panati, Aloisio Araújo (in memoriam). Incluo meus ex-diretores: Maurício Leite, Rackson Torres, Pe. Joaquim de Assis Ferreira (in memoriam), Pe. Waldomiro Batista de Amorim, Pe. Constante Danielewcz, Pe. Luiz Laíres da Nóbrega, Aldo Sátyro Xavier, Pedro Oliveira (Pedro Pedra). A lista segue com Luiz Carlos, Patrício Neto (Patrisson), Roberto Furtunato, Joaquim do Clarinete, Toinho do Bandolim, Valdemar do Pandeiro.
Não poderia faltar espaço para os amigos jornalistas Abraão Teixeira, Inácio Bento e Oswaldo Medeiros, que representavam os principais jornais que circulavam na cidade de Patos naquela época (Correio da Paraíba, A União, O Norte), inclusive o Diário da Borborema, que era representado por mim.
Na Liga Patoense de Futebol (L.P.F.), onde fui Vice-Presidente; Diretor do Departamento de Arbitragem e árbitro, deixei muitos amigos: Juracy Dantas (meu eterno presidente), Mário Lemos, Dimas Alexandrino, Mário Leitão (Maroca), Silvaneto Firmino, Paulo César, Coremas, Geraldo Geraldino (in memoriam), José de Anchieta.
Fora do rádio, também tive colegas maravilhosos, que também merecem destaque neste meu trabalho. São eles: Adão Eulâmpio da Silva, Geraldo Mamede (de saudosa memória), Silvino Lucena e Manoel Ananias (da Bandeirantes), João Moreira, professor Abraão Luiz, João Rodrigues, Titico, Lula, Demétrius (estes quatro do bairro do Salgadinho), Dr. Efigênio Vilar, Aldo das baterias, Francisco de Assis Vieira (Binda) (in memoriam), Joacil de Brito (que assumiu a festa dos destaques, criada por mim em 1977).
(Aguardem a continuação........)
MEMÓRIAS DE UM SOLDADO SEM MALÍCIAS - (Livro) - Continuação
Vista da cidade de Patos - PB, a Morada do Sol
PATOS, POR QUE TE AMO!
Quem conhece Patos e quem já conviveu com os patoenses, com certeza sabe por que eu faço tantas referências àquela cidade. A grande verdade é que aprendi a amar aquela gente, como se fosse um patoense de fato. Nos 24 anos em que vivi ali, aprendi uma grande lição: devemos amar as coisas belas e zelar para que elas sejam preservadas, nem que para isso, tenhamos que derramar suor e lágrimas.
É impossível esquecer fatos envolvendo pessoas como Ernany Sátyro, Edvaldo Motta, José Afonso Gayoso, Rui Gouveia, José Cavalcanti, Edmilson Motta, Olavo Nóbrega, Darcílio Wanderley da Nóbrega, Nabor Wanderley, Rivaldo Nóbrega e outros.
Pessoas importantes como Polion Carneiro, Juracy Dantas, Apolônio Gonçalves, Agamenon Borges, Abdias Guedes Cavalcanti, Dr. Geraldo Carvalho, Dr. Manoel Messias, não me perdoariam se chegasse a omitir seus nomes, principalmente pela nossa convivência.
Como autêntico nacionalino, não poderia esquecer o Nacional Atlético Clube, meu querido “Naça”, com seus momentos de glórias, esforçando-me para esquecer as decepções. É o Nacional do Bastinho; do Virgílio Trindade; do Dr. Romero Nóbrega, de saudosa memória; do Da Silva; do Manoel Messias; do Dirsôr; do “Buchada”; do massagista “Jabiraca” e de muitos outros que fizeram a história do alviverde patoense.
Também reservo este espaço para o Esporte Clube de Patos, o “Patinho” do Nestor Gondim; do Vavá Brandão; do Edleuson Franco, de saudosa memória; do saudoso Aloísio Araújo e de muitos outros alvirrubros das espinharas.
Saudades da Banda Marcial “Monsenhor Manoel Vieira”, do Colégio Estadual “Pedro Aleixo”, com apresentações extraordinárias e tantas vezes convidada para exibições em outras cidades. Os toques afinados das cornetas, dos clarins e dos cornetões, acompanhados da cadência dos taróis, das caixas, dos surdos, dos pratos e dos fuzileiros. Os passos dos estudantes desfilando nas avenidas Epitácio Pessoa e Solon de Lucena, sob os aplausos fervorosos das pessoas que lotavam aqueles locais.
As retretas da filarmônica “26 de Julho”, regida pelo querido Hermes Brandão, principalmente quando executava o dobrado “Saudades da Minha Terra”, o de minha preferência. É impossível esquecer coisas assim. Não podemos esquecer as maravilhas que fizeram de nossas vidas, momentos coloridos. Saudades e lágrimas se confundem nesse momento. Dá vontade de parar o tempo e retrocedê-lo até 1974, para viver novamente as alegrias do passado, sob o sol causticante da cidade que nunca deixarei de amar, minha querida Patos.
Não há como esquecer o conjunto “Z-7”, do nosso querido Zito, com suas apresentações inesquecíveis, animando as noites patoenses. Da mesma forma, lembramos do grupo musical “Os Jovens”, com Agnaldo, Antônio de Pádua, Toinho e outros, fazendo sucesso dentro e fora de cidade; do conjunto Ataulfo Alves, com Toinho, Marreco, Waldemar, Antônio Emiliano, Antônio Moreno e Joaquim do clarinete. Vale a pena lembrar de artistas como Cândida Maria, Arlene Nóbrega, Aécio Nóbrega, Tatinha e outros que cantavam os sucessos da época. Lembranças dos grandes e concorridos festivais; das matinées do Cine Eldorado; das apresentações de cantores famosos no Cine São Francisco, sob a direção competente do Almir. Os clássicos no estádio José Cavalcanti e as festas de 21 de setembro, de São João, de Natal e de Fim de Ano.
Dando um retrocesso até a década de 60, vamos lembrar da Viação Ipalma, pertencente aos empresários Ivan e Zéu Palmeira. Depois dela, surgiu a Viação Patoense, do empresário Hardman Cavalcanti Pinto.
Vamos rememorar nomes ilustres que foram orgulho para a cidade de Patos, entre eles,o Cônego Joaquim de Assis Ferreira (Pe. Assis); o coronel Deuslírio Pires de Lacerda; o senador Drauth Ernani de Mello e Silva; Dom Expedito Eduardo de Oliveira, bispo Diocesano; ex-prefeito Bivar Olinto de Mello e Silva; Dr. José Soares de Figueiredo (Zé Tota); Dr. José Gomes; Francisco Antônio de Maria (Chico Bocão), vereador de maior número de mandatos, etc.
Essa é Patos do Fluminense de Tôtô; do Estrela de Nino; do Botafogo e da Sociedade Sportiva São Sebastião (4 esses), de São Sebastião; do Olaria de Titico; do Diocesano, do Flamengo, do Espinharas do Jatobá; Do Charme de Elizardo Crispim; do Central de Binda; do Náutico; do Guanabara da Liberdade.
Não se pode falar das Espinharas sem lembrar da Peixada do Donato; dos Centros Recreativos de São Sebastião, da Liberdade e do Jatobá; do Patos Tênis Clube; do Comercial Campestre Clube; da Churrascaria Buena Brasa; do Tigrão, sob a direção do Severino; do Bar do Ferré; e de tantos outros pontos de atrações.
Quando falamos de Patos, lembramos dos bairros de São Sebastião, Vitória, Enxuí, Pé Rapado, Berra Bode, Jatobá, Monte Castelo, Salgadinho, Belo Horizonte, Palmeira e Brasília. Da mesma forma não esquecemos de figuras folclóricas, como Antônio Tranca Rua, o mudo do cinema e o barbeiro João da Cruz com sua tradicional pergunta ao final do trabalho: “Qué áico, táico ou qué qui múi?”
Ah! Amaury de Carvalho! Você foi muito feliz quando disse em sua extraordinária composição “Patos, te amo Patos!”:
“No cantinho da minha Pátria amada
e dentro do meu coração
está minha terra adorada,
de sonhos e de tradições;
o seu nome foi tirado da lagoa
dos patos tranqüilos de lá,
no mundo, uma terra tão boa,
eu creio, meu Deus, que não há!”
Realmente, Patos está e há de permanecer no coração de seus filhos, orgulhosos de tê-la como a terra que os viu nascer. Eu, que não tive este prazer, peço licença aos irmãos patoenses para dizer: “Ah, Patos! Se eu pudesse colocar-te num cofre, trancar-te com chave de ouro e guardar-te só para mim!”.
Certa vez, ao conversar com amigos na calçada da rádio Espinharas, eu disse que seria muito interessante se formássemos um time com jogadores de nomes estranhos. Pelo menos, teríamos no elenco: Farinha, Buchada, Tripa, Banana, Peba e Pistola.
Há fatos que não podemos deixar sem registros. O que envolveu Firmino, o baterista do conjunto Z-7, e Ferré merece destaque. O fato aconteceu da seguinte maneira: Certo dia, Firmino passeava com a namorada pela Solon de Lucena. De repente, viu que se aproximava do bar do Ferré, a quem ele devia 200 cruzeiros. Imediatamente, Firmino parou e sugeriu à namorada que fossem para Rui Barbosa. Não adiantou insistir. Desconfiada de que aquilo poderia ser uma jogada do namorado para não passar por outra namorada, a moça não cedeu. E lá se foi o casal. De repente, Ferré, que já esperava a aproximação do Firmino, gritou:
- Êi, Firmino! E aqueles duzentos?
Sem pensar duas vezes e como já esperasse pela cobrança, Firmino rebateu:
- Não se preocupe, não, Ferré! Depois você me paga!
A verdade é que o Ferré ficou uma fera, enquanto Firmino seguia tranqüilamente rua a fora, de mãos dadas com a namorada.
Quem ama Patos não pode esquecer as suas tradições. E uma delas é a Difusora do saudoso Otacílio Monteiro. Era um exemplo para aquela época, com auditório e até apresentação de programas aos domingos. Lembro o quanto Otacílio Monteiro se orgulhava ao colocar a difusora no ar.
“A Voz do Comércio”, outra difusora, sendo esta mais recente, tinha seus alto-falantes espalhados pela Solon de Lucena, Epitácio Pessoa e outras ruas centrais da cidade. Era um patrimônio de Patrício Neto (Patrisson) e outro veículo de comunicação que não podemos esquecer.
Pessoas que marcaram época em Patos, são lembradas aqui, enriquecendo este espaço: Dr. João Bosco Melquíades; Clemente da farmácia; Dr. Geraldo Carvalho; Dr. Efigênio Vilar, da CAGEPA; Sebastião, da Casa do Agricultor; Pastor Silas Melo, da Primeira Igreja Batista; Professor Abraão Luiz; Professor Luiz de França e outros.
Quantas saudades do bate-papo nos canteiros em frente à Prefeitura e aos Correios e Telégrafos, onde falávamos de futebol, política e outras coisas. Saudades da Praça João Pessoa e do coreto, onde nos reuníamos para momentos de descontração, contemplando o Hotel JK, com sua estrutura moderna para a época. Vou parar por aqui os momentos de saudades. Afinal, ninguém é de ferro!
Amar a cidade de Patos é mais do que um prazer. É uma obrigação daqueles que a reconhecem como um local ideal para ser feliz, para fazer amigos, para ter motivos para sorrir. É fazer amigos como o saudoso José Peixoto, proprietário do “Fumo Do Melhor”; é rememorar o casal Toinho da banca de revista “A Manchete” e d. Zuleica, que sempre pedia a música “O meu sangue ferve por você”, do Sidney Magal, para oferecer ao marido. Ter amor por Patos é lembrar o Nacional Atlético Clube e o Esporte Clube de Patos, os dois representantes da cidade na Federação Paraibana de Futebol. É não esquecer o Estádio Municipal José Cavalcanti, com seus espetáculos esportivos e com as emoções dos gols marcados por craques como Dirsôr, Menon, Clóvis, Dedé Baixinho, Da Silva, Totinha e Manoel Messias, e as defesas espetaculares de Canário, Zé Pereira, Celimarcos e outros.
Não se pode dizer que ama Patos sem lembras os acordes da sanfona de Jader, o Garoto do Forró Quente; sem lembras o repique do zabumba do Nêgo Ximba; sem lembrar Midian Alves (compositora); sem lembrar as declarações de amor que o Roberto Rack (natural das Guianas Holandesas), ex-técnico do Esporte Clube de Patos, fazia para sua amada Odísia Wanderley (“Odísio, meu querido!”), ao mesmo tempo em que cantava, imitando Nat King Cole, “Aqueles Ojos Verdes”, deixando sua amada com lágrimas nos olhos. É impossível dizer que ama Patos sem lembrar o Tiro de Guerra 07-152, comandado pelo tenente Maurílio e pelo sargento Everaldo; sem lembrar de Vicente Campos, conhecido e respeitado alfaiate da época; sem lembrar Luiz de França, do Ciclo Operário; sem ter na memória o Padre Vieira e o Padre Raimundo, bem como o querido Ariston Ayres, da padaria.
A Patos que eu amo é a Patos do conjunto “Os Jovens”, com Agnaldo Xavier, Antônio de Pádua, Toinho do Pistão e Eliomar do teclado; é a Patos da Cruz da Menina; do açude do Jatobá; do Rio Espinharas; da Praça Getúlio Vargas; do Hotel JK; da ponte do Figueiredo; da Perfumaria Glória, de João Xavier; da Algodoeira Horácio Nóbrega; da Farmácia dos Municípios, de Manuel Barros; de Severino Lustosa; de Genival Brás, da Aguardente Coroa e do vinho São Brás; do Moinho Oriental, de Gerson Nóbrega; de Vital Lins, professor de halterofilismo.
A Patos que eu amo é a Patos do saudoso José Corsino Peixoto, dos fumos “Du Melhor” e “Extra Bom” e de d. Maria José Peixoto (d. Liquinha) e de seus filhos Ronaldo (economista), Ronivaldo (médico), Romildo, Maria Ilda, Robério (militar), Maria do Carmo, , Rivaldo (bioquímico), Rosa Maria, Ana Maria (as gêmeas), Raniere, Robênia e Gilmário (militar). É a Patos do Edifício Pombal, do Dormitório do Josa, da Lanchonete “Chiquitita”, dos táxis de Zireton, Zé Galego e Zé Peri.
Não podemos dizer que amamos Patos se esquecemos nomes ilustres como Aécio Nóbrega, que chegou a integrar o grupo musical “Os Três do Nordeste”; Pinto do Acordeon (Ferreira Pinto), cantor e compositor; Dr. Otávio Pires de Lacerda; Deuslírio Pires de Lacerda, ex-comandante do III BPM; capitão Clementino; professor Durval Fernandes; professor Manoel Messias do Nascimento; José Afonso Gayoso; Rui de Andrade Gouveia; Dr. Amaury Vicente.
Como podemos dizer que amamos Patos, sem lembrarmos o grande feito do Nacional Atlético Clube (o Canarinho do Sertão), conquistando o Campeonato Paraibano de Futebol no ano de 2007, um fato inédito no futebol patoense e que deixa um registro extraordinário na história da cidade “Morada do Sol”.
Eu me sinto orgulhoso de ser “Filho” de Patos, título que guardo com muito carinho, sempre agradecido à egrégia Câmara Municipal de Patos e ao Prefeito Edmilson Fernandes Motta.
(Aguardem a continuação......)
PATOS, POR QUE TE AMO!
Quem conhece Patos e quem já conviveu com os patoenses, com certeza sabe por que eu faço tantas referências àquela cidade. A grande verdade é que aprendi a amar aquela gente, como se fosse um patoense de fato. Nos 24 anos em que vivi ali, aprendi uma grande lição: devemos amar as coisas belas e zelar para que elas sejam preservadas, nem que para isso, tenhamos que derramar suor e lágrimas.
É impossível esquecer fatos envolvendo pessoas como Ernany Sátyro, Edvaldo Motta, José Afonso Gayoso, Rui Gouveia, José Cavalcanti, Edmilson Motta, Olavo Nóbrega, Darcílio Wanderley da Nóbrega, Nabor Wanderley, Rivaldo Nóbrega e outros.
Pessoas importantes como Polion Carneiro, Juracy Dantas, Apolônio Gonçalves, Agamenon Borges, Abdias Guedes Cavalcanti, Dr. Geraldo Carvalho, Dr. Manoel Messias, não me perdoariam se chegasse a omitir seus nomes, principalmente pela nossa convivência.
Como autêntico nacionalino, não poderia esquecer o Nacional Atlético Clube, meu querido “Naça”, com seus momentos de glórias, esforçando-me para esquecer as decepções. É o Nacional do Bastinho; do Virgílio Trindade; do Dr. Romero Nóbrega, de saudosa memória; do Da Silva; do Manoel Messias; do Dirsôr; do “Buchada”; do massagista “Jabiraca” e de muitos outros que fizeram a história do alviverde patoense.
Também reservo este espaço para o Esporte Clube de Patos, o “Patinho” do Nestor Gondim; do Vavá Brandão; do Edleuson Franco, de saudosa memória; do saudoso Aloísio Araújo e de muitos outros alvirrubros das espinharas.
Saudades da Banda Marcial “Monsenhor Manoel Vieira”, do Colégio Estadual “Pedro Aleixo”, com apresentações extraordinárias e tantas vezes convidada para exibições em outras cidades. Os toques afinados das cornetas, dos clarins e dos cornetões, acompanhados da cadência dos taróis, das caixas, dos surdos, dos pratos e dos fuzileiros. Os passos dos estudantes desfilando nas avenidas Epitácio Pessoa e Solon de Lucena, sob os aplausos fervorosos das pessoas que lotavam aqueles locais.
As retretas da filarmônica “26 de Julho”, regida pelo querido Hermes Brandão, principalmente quando executava o dobrado “Saudades da Minha Terra”, o de minha preferência. É impossível esquecer coisas assim. Não podemos esquecer as maravilhas que fizeram de nossas vidas, momentos coloridos. Saudades e lágrimas se confundem nesse momento. Dá vontade de parar o tempo e retrocedê-lo até 1974, para viver novamente as alegrias do passado, sob o sol causticante da cidade que nunca deixarei de amar, minha querida Patos.
Não há como esquecer o conjunto “Z-7”, do nosso querido Zito, com suas apresentações inesquecíveis, animando as noites patoenses. Da mesma forma, lembramos do grupo musical “Os Jovens”, com Agnaldo, Antônio de Pádua, Toinho e outros, fazendo sucesso dentro e fora de cidade; do conjunto Ataulfo Alves, com Toinho, Marreco, Waldemar, Antônio Emiliano, Antônio Moreno e Joaquim do clarinete. Vale a pena lembrar de artistas como Cândida Maria, Arlene Nóbrega, Aécio Nóbrega, Tatinha e outros que cantavam os sucessos da época. Lembranças dos grandes e concorridos festivais; das matinées do Cine Eldorado; das apresentações de cantores famosos no Cine São Francisco, sob a direção competente do Almir. Os clássicos no estádio José Cavalcanti e as festas de 21 de setembro, de São João, de Natal e de Fim de Ano.
Dando um retrocesso até a década de 60, vamos lembrar da Viação Ipalma, pertencente aos empresários Ivan e Zéu Palmeira. Depois dela, surgiu a Viação Patoense, do empresário Hardman Cavalcanti Pinto.
Vamos rememorar nomes ilustres que foram orgulho para a cidade de Patos, entre eles,o Cônego Joaquim de Assis Ferreira (Pe. Assis); o coronel Deuslírio Pires de Lacerda; o senador Drauth Ernani de Mello e Silva; Dom Expedito Eduardo de Oliveira, bispo Diocesano; ex-prefeito Bivar Olinto de Mello e Silva; Dr. José Soares de Figueiredo (Zé Tota); Dr. José Gomes; Francisco Antônio de Maria (Chico Bocão), vereador de maior número de mandatos, etc.
Essa é Patos do Fluminense de Tôtô; do Estrela de Nino; do Botafogo e da Sociedade Sportiva São Sebastião (4 esses), de São Sebastião; do Olaria de Titico; do Diocesano, do Flamengo, do Espinharas do Jatobá; Do Charme de Elizardo Crispim; do Central de Binda; do Náutico; do Guanabara da Liberdade.
Não se pode falar das Espinharas sem lembrar da Peixada do Donato; dos Centros Recreativos de São Sebastião, da Liberdade e do Jatobá; do Patos Tênis Clube; do Comercial Campestre Clube; da Churrascaria Buena Brasa; do Tigrão, sob a direção do Severino; do Bar do Ferré; e de tantos outros pontos de atrações.
Quando falamos de Patos, lembramos dos bairros de São Sebastião, Vitória, Enxuí, Pé Rapado, Berra Bode, Jatobá, Monte Castelo, Salgadinho, Belo Horizonte, Palmeira e Brasília. Da mesma forma não esquecemos de figuras folclóricas, como Antônio Tranca Rua, o mudo do cinema e o barbeiro João da Cruz com sua tradicional pergunta ao final do trabalho: “Qué áico, táico ou qué qui múi?”
Ah! Amaury de Carvalho! Você foi muito feliz quando disse em sua extraordinária composição “Patos, te amo Patos!”:
“No cantinho da minha Pátria amada
e dentro do meu coração
está minha terra adorada,
de sonhos e de tradições;
o seu nome foi tirado da lagoa
dos patos tranqüilos de lá,
no mundo, uma terra tão boa,
eu creio, meu Deus, que não há!”
Realmente, Patos está e há de permanecer no coração de seus filhos, orgulhosos de tê-la como a terra que os viu nascer. Eu, que não tive este prazer, peço licença aos irmãos patoenses para dizer: “Ah, Patos! Se eu pudesse colocar-te num cofre, trancar-te com chave de ouro e guardar-te só para mim!”.
Certa vez, ao conversar com amigos na calçada da rádio Espinharas, eu disse que seria muito interessante se formássemos um time com jogadores de nomes estranhos. Pelo menos, teríamos no elenco: Farinha, Buchada, Tripa, Banana, Peba e Pistola.
Há fatos que não podemos deixar sem registros. O que envolveu Firmino, o baterista do conjunto Z-7, e Ferré merece destaque. O fato aconteceu da seguinte maneira: Certo dia, Firmino passeava com a namorada pela Solon de Lucena. De repente, viu que se aproximava do bar do Ferré, a quem ele devia 200 cruzeiros. Imediatamente, Firmino parou e sugeriu à namorada que fossem para Rui Barbosa. Não adiantou insistir. Desconfiada de que aquilo poderia ser uma jogada do namorado para não passar por outra namorada, a moça não cedeu. E lá se foi o casal. De repente, Ferré, que já esperava a aproximação do Firmino, gritou:
- Êi, Firmino! E aqueles duzentos?
Sem pensar duas vezes e como já esperasse pela cobrança, Firmino rebateu:
- Não se preocupe, não, Ferré! Depois você me paga!
A verdade é que o Ferré ficou uma fera, enquanto Firmino seguia tranqüilamente rua a fora, de mãos dadas com a namorada.
Quem ama Patos não pode esquecer as suas tradições. E uma delas é a Difusora do saudoso Otacílio Monteiro. Era um exemplo para aquela época, com auditório e até apresentação de programas aos domingos. Lembro o quanto Otacílio Monteiro se orgulhava ao colocar a difusora no ar.
“A Voz do Comércio”, outra difusora, sendo esta mais recente, tinha seus alto-falantes espalhados pela Solon de Lucena, Epitácio Pessoa e outras ruas centrais da cidade. Era um patrimônio de Patrício Neto (Patrisson) e outro veículo de comunicação que não podemos esquecer.
Pessoas que marcaram época em Patos, são lembradas aqui, enriquecendo este espaço: Dr. João Bosco Melquíades; Clemente da farmácia; Dr. Geraldo Carvalho; Dr. Efigênio Vilar, da CAGEPA; Sebastião, da Casa do Agricultor; Pastor Silas Melo, da Primeira Igreja Batista; Professor Abraão Luiz; Professor Luiz de França e outros.
Quantas saudades do bate-papo nos canteiros em frente à Prefeitura e aos Correios e Telégrafos, onde falávamos de futebol, política e outras coisas. Saudades da Praça João Pessoa e do coreto, onde nos reuníamos para momentos de descontração, contemplando o Hotel JK, com sua estrutura moderna para a época. Vou parar por aqui os momentos de saudades. Afinal, ninguém é de ferro!
Amar a cidade de Patos é mais do que um prazer. É uma obrigação daqueles que a reconhecem como um local ideal para ser feliz, para fazer amigos, para ter motivos para sorrir. É fazer amigos como o saudoso José Peixoto, proprietário do “Fumo Do Melhor”; é rememorar o casal Toinho da banca de revista “A Manchete” e d. Zuleica, que sempre pedia a música “O meu sangue ferve por você”, do Sidney Magal, para oferecer ao marido. Ter amor por Patos é lembrar o Nacional Atlético Clube e o Esporte Clube de Patos, os dois representantes da cidade na Federação Paraibana de Futebol. É não esquecer o Estádio Municipal José Cavalcanti, com seus espetáculos esportivos e com as emoções dos gols marcados por craques como Dirsôr, Menon, Clóvis, Dedé Baixinho, Da Silva, Totinha e Manoel Messias, e as defesas espetaculares de Canário, Zé Pereira, Celimarcos e outros.
Não se pode dizer que ama Patos sem lembras os acordes da sanfona de Jader, o Garoto do Forró Quente; sem lembras o repique do zabumba do Nêgo Ximba; sem lembrar Midian Alves (compositora); sem lembrar as declarações de amor que o Roberto Rack (natural das Guianas Holandesas), ex-técnico do Esporte Clube de Patos, fazia para sua amada Odísia Wanderley (“Odísio, meu querido!”), ao mesmo tempo em que cantava, imitando Nat King Cole, “Aqueles Ojos Verdes”, deixando sua amada com lágrimas nos olhos. É impossível dizer que ama Patos sem lembrar o Tiro de Guerra 07-152, comandado pelo tenente Maurílio e pelo sargento Everaldo; sem lembrar de Vicente Campos, conhecido e respeitado alfaiate da época; sem lembrar Luiz de França, do Ciclo Operário; sem ter na memória o Padre Vieira e o Padre Raimundo, bem como o querido Ariston Ayres, da padaria.
A Patos que eu amo é a Patos do conjunto “Os Jovens”, com Agnaldo Xavier, Antônio de Pádua, Toinho do Pistão e Eliomar do teclado; é a Patos da Cruz da Menina; do açude do Jatobá; do Rio Espinharas; da Praça Getúlio Vargas; do Hotel JK; da ponte do Figueiredo; da Perfumaria Glória, de João Xavier; da Algodoeira Horácio Nóbrega; da Farmácia dos Municípios, de Manuel Barros; de Severino Lustosa; de Genival Brás, da Aguardente Coroa e do vinho São Brás; do Moinho Oriental, de Gerson Nóbrega; de Vital Lins, professor de halterofilismo.
A Patos que eu amo é a Patos do saudoso José Corsino Peixoto, dos fumos “Du Melhor” e “Extra Bom” e de d. Maria José Peixoto (d. Liquinha) e de seus filhos Ronaldo (economista), Ronivaldo (médico), Romildo, Maria Ilda, Robério (militar), Maria do Carmo, , Rivaldo (bioquímico), Rosa Maria, Ana Maria (as gêmeas), Raniere, Robênia e Gilmário (militar). É a Patos do Edifício Pombal, do Dormitório do Josa, da Lanchonete “Chiquitita”, dos táxis de Zireton, Zé Galego e Zé Peri.
Não podemos dizer que amamos Patos se esquecemos nomes ilustres como Aécio Nóbrega, que chegou a integrar o grupo musical “Os Três do Nordeste”; Pinto do Acordeon (Ferreira Pinto), cantor e compositor; Dr. Otávio Pires de Lacerda; Deuslírio Pires de Lacerda, ex-comandante do III BPM; capitão Clementino; professor Durval Fernandes; professor Manoel Messias do Nascimento; José Afonso Gayoso; Rui de Andrade Gouveia; Dr. Amaury Vicente.
Como podemos dizer que amamos Patos, sem lembrarmos o grande feito do Nacional Atlético Clube (o Canarinho do Sertão), conquistando o Campeonato Paraibano de Futebol no ano de 2007, um fato inédito no futebol patoense e que deixa um registro extraordinário na história da cidade “Morada do Sol”.
Eu me sinto orgulhoso de ser “Filho” de Patos, título que guardo com muito carinho, sempre agradecido à egrégia Câmara Municipal de Patos e ao Prefeito Edmilson Fernandes Motta.
(Aguardem a continuação......)
MEMÓRIAS DE UM SOLDADO SEM MALÍCIAS - (Livro) - Continuação
´Vista do Champs Élysées - Paris - França
UM GRANDE AMOR PELA FRANÇA E PELOS FRANCESES
Eu estudava no Colégio Alfredo Dantas, em Campina Grande, na Paraíba, quando ouvi falar na França pela primeira vez.
Minha professora de francês, Marly Carvalho, era uma jovem extraordinária. Linda e inteligente, ela conseguiu arrancar a minha admiração, somando a tudo isso as constantes referências que ela fazia sobre a França e os franceses.
Foi através dela que fiquei sabendo dos fatos que marcaram épocas na história da França e do mundo. Além disso, aprendi algumas músicas do folclore francês, entre elas “Frère Jacques”.
Ainda em Campina Grande, no Colégio Estadual da Prata, tive como professora de Francês, d. Jacinta, outra pessoa espetacular que, a exemplo da Marly Carvalho, também fazia grandes alusões à França e aos franceses. Foi uma professora que muito se preocupou com o nosso futuro como cidadão.
Na cidade de Patos, no sertão da Paraíba, conheci outra pessoa incomparável: o professor Willy Bullara, um francês que passou a residir naquela cidade, cujo clime e temperatura contrastam em muito com os da França. No Colégio Estadual Pedro Aleixo, ele marcou época com o um dos grandes expoentes do magistério, lecionando Francês.
Willy Bullara, um técnico em eletrônica, tornou-se um grande amigo e me estimulou bastante. Lembro que nos finais de semana, eu costumava ir a sua residência, onde tentava acompanhar o francês da família. Aprendi muito com aquele que foi mais amigo do que mesmo professor. Juntos, falávamos muito sobre a França e seus pontos turísticos.
Meu interesse pela França foi crescendo de forma impressionante. Passei a sonhar com os lugares históricos daquele país e com seus famosos monumentos, como a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, o Obelisco, o rio Sena, le Sacré Coeur, Notre Dame de Paris, o Palácio das Tulherias e o conhecidíssimo Champs Elisées.
Certa noite, coincidentemente sintonizei meu rádio na Radiodifusion et Télévision Française (RTF), mais tarde transformada em Organisme de Radiodifusion et Télévision Française (ORTF). Fiquei tão feliz que, de imediato, tomei uma caneta e fiz uma marca no dial do rádio para nunca perder a sintonia.
Foram quase nove anos de correspondências. Durante todo esse tempo, recebi fotos, jornais, revistas e vários outros materiais impressos na própria rádio. Através deles, passei a conhecer Paris sem nunca tê-la visitado. Meu amor pela França crescia a cada dia.
Passei a ler sobre aquele país europeu. Fiquei impressionado com a história da Revolução Francesa e com a coragem do povo francês. Para mim, era motivo de alegria saber que aquele fato histórico havia influenciado na história do meu país.
No Distrito Federal, freqüentei ao curso de Francês, na Casa do Ceará, e encontrei um grande amigo, o professor Papa Singane Diaw Papy, nascido na França. Nele, encontrei um super-amigo. Papy é um grande exemplo de cidadão. Também fiz grandes amigos como: Gumercindo Sueiro Lopez (espanhol), Manuel Rivanor Pinheiro, Dione Wanderley (uma patoense da família Wanderley), Paulo José e a esposa dele, D. Zilma, Maria Stella Costa do Amaral, Maria Madalena Machado, Teresinha Castelo Branco Reis, Nésia Vieira de Melo, Maria Macedo de Andrade e Santos, Maria Aparecida C. Ramos e Terezinha de Jesus. Além das aulas, nós nos reuníamos uma vez por semana para um momento de confraternização, que nos aproximava cada vez mais.
Depois de algum tempo, retornei às aulas de Francês, agora no École International de Langues, de propriedade do professor e amigo Papa Singane Diaw Papy, que começou na 716 Norte. Agora, de novo endereço, na 708/709 Norte, ela recebe seus alunos com o mesmo carinho e o mesmo respeito. Depois da Moema, da Neusa, da Vivi e da Maria Arnete, passei a conviver com novas pessoas, mas todas elas com o mesmo carinho e a mesma alegria.
UMA PAIXÃO PELA POESIA
Depois de conhecer o poeta Ronaldo Cunha Lima, durante uma palestra, onde ele usou a sua veia poética, passei a me interessar pela poesia. Mesmo ainda inexperiente, fiz alguns trabalhos que, com o passar do tempo, foram modificados, numa tentativa de levá-los à perfeição (ainda não consegui). Entre eles está “Desejos de sertanejo”:
I
Queria viver na roça sob a luz de um lampião,
Ver meu cavalo pastando e um caipira cantando
Sob o som de um violão.
II
Queria tá numa rede balançando na varanda,
Vendo as águas do riacho descendo de morro abaixo
Como a Natureza manda.
III
Queria ver a cabrocha com um vestido de chita
Mostrando a cintura fina, no seu jeito de menina,
De boca bem feita e bonita.
IV
Queria ouvir os poetas rimando com perfeição
E num trabalho preciso, cantando de improviso
As coisas do meu Sertão.
V
Queria ver o meu gado desfilando nas estradas,
Ver o vaqueiro Tião montando num alazão,
Sendo herói das vaquejadas.
VI
Queria ver minha roça com batata e macaxeira,
Ver o milho e o feijão se arrastando pelo chão
E subindo a ribanceira.
VII
Queria ver os açudes com as águas cristalinas,
Ver pescadores pescando e os poetas se inspirando
Nas estrelas matutinas.
VIII
Queria ver nas fazendas gloriosas vaquejadas,
Cavalos emparelhados em duelos arrojados
Nas poeiras levantadas.
IX
Queria ouvir o aboio e o som de um berrante,
Comer um feijão tropeiro, carne assada no braseiro
E um pirão bem picante.
X
Queria ver a sanfona tocando no meu Sertão,
Ver as fogueiras queimando e as cabrochas dançando
Nas noites de São João.
XI
Queria ver dona Joana fazendo crochet e tricô,
Ver a vovó na calçada, numa cadeira sentada
Dando cafuné no vovô.
XII
Queria fazer serenatas nas noites enluaradas,
Com a morena na janela e eu cantando pra ela
As canções apaixonadas.
XIII
Queria ouvir o gemido do velho carro de boi,
Ver no sorriso de alguém a alegria de quem vem
No lugar de quem se foi.
XIV
Queria ver “seu” Fulgêncio preparando a cangalha,
O jumento relinchando e o velho Bento preparando
O seu cigarro de palha.
Este livro é um verdadeiro “Flash back”. Por isso estamos sempre voltando ao passado à proporção em que nos lembramos de fatos interessantes. Volto novamente a Patos para citar uma das maiores figuras folclóricas daquela região do sertão paraibano: o conhecido Antônio “Tranca-Rua”. Trata-se de uma pessoa bastante espirituosa, que sempre que era questionado estava com a resposta na “ponta da língua”.
Certo dia, já perto da hora do almoço, “Tranca-Rua” ia passando muito apressado, pelas calçadas das casas comerciais da Solon de Lucena, quando um dos vendedores falou: “Antônio, conta uma mentira pra gente!”. Imediatamente, como se já estivesse esperando aquele pedido, “Tranca-Rua”, enquanto caminhava, respondeu: “Não posso! Minha mãe acaba de morrer...!”.
Todos ficaram pasmados e o rapaz autor da pergunta, como se sentisse culpado, ficou sem graça e cabisbaixo. Depois do expediente, as pessoas que estavam no local se reuniram e foram até à casa do “Tranca-Rua” para apresentar as condolências. Ao chegarem ali, encontraram Antônio e a senhora sua mãe sentados ouvindo rádio na maior tranqüilidade. Diante da admiração dos presentes, “Tranca-Rua” falou: “Vocês não pediram pra eu contar uma mentira?!”.
Dizem que “um dia é da caça e outro, do caçador”. Pois isso é a pura verdade. Como falei anteriormente, Antônio “Tranca-Rua” nunca passou batido diante das interrogações das pessoas. Mas um certo dia, ele foi abordado por um viajante que não conhecia a cidade de Patos. Na cidade havia um bar conhecido como “Bar Sem Porta”, por ficar aberto 24 horas. O viajante encontro “Tranca-Rua”, a quem perguntou onde poderia fazer um lanche. Sem pestanejar, “Tranca-Rua” respondeu: “no bar sem porta!”. Imediatamente o cidadão retrucou: “e como eu posso entrar, se o bar não tem porta?”. Antônio “Tranca-Rua” ficou uma fera.
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Bem, deixando um pouco de lado a vida de “Tranca-Rua”, de quem temos muitas histórias, resolvi inserir neste trabalho um texto que criei de forma imediata. Estava eu a meditar sobre as coisas que acontecem nesta vida de surpresas, alegrias e decepções, quando pensei no seguinte texto:
RASTOS DO HOMEM
(Adalberto Claudino Pereira)
Mr. Peter O´Nara era um homem curioso. Daqueles que Lêem todo tipo de livro, independente do autor ou do conteúdo. Ele sempre ouvia falar da Amazônia e costumava dizer para os amigos que ainda realizaria uma de suas maiores aventuras: andar pela floresta mais famosa do mundo.
Dito e feito. Mr. Peter veio ao Brasil e, como havia prometido, resolveu dar um “passeio” turístico pela Amazônia. Para isso, contratou os serviços de dois “batedores” florestais, homens bastante acostumados com os perigos da selva. E lá se foram eles.
Mr. Peter pediu aos seus “cicerones” que relatassem tudo, pois ele fazia questão de anotar todos os detalhes em seu diário. E assim foi feito.
Depois de um quilômetro de caminhada, um dos guias parou, olhou para o turista e disse: “Por aqui passou um macaco!”. Mr. Peter ficou admirado e perguntou ao rapaz por que ele sabia que ali havia passado um macaco. “Ora – respondeu o guia – veja aquelas cascas de bananas!!!”.
Andaram mais um quilômetro quando o outro guia parou, olhou para o turista e disse: “Por aqui passou uma girafa!”. Novamente admirado, Mr. Peter quis saber como o rapaz sabia que por ali havia passado uma girafa, ao que o guia respondeu: “Veja lá no alto daquela árvore! Somente uma girafa seria capaz de comê-la!”.
Depois de caminharem mais um quilômetro, o outro guia parou novamente, voltou a olhar para o turista e falou: “Agora veja aqueles restos de animais! Isso significa dizer que por aqui passou um leão faminto!”. Mr. Peter nem precisou perguntar mais nada, devido as evidências dos fatos.
Os três continuaram andando. Muitas foram as paradas feitas para que os guias mostrassem como as coisas aconteciam na floresta. Já era tarde, quando eles chegaram a um local onde a devastação fora feita de forma violenta e criminosa. Muitas árvores foram derrubadas, muitas delas para serem comercializadas de forma ilegal. Também havia sinais de queimadas no local. Os dois guias olharam para o turista e, como se tivessem ensaiado um estribilho de uma canção melancólica, falaram: “Por aqui passou o homem!!!...”.
Patos é uma cidade maravilhosa. Um verdadeiro “paraíso” repleto de pessoas maravilhosas, hospitaleiras e respeitadoras. Ali, vivi os melhores momentos da minha vida profissional (radialista), sendo reconhecido pelo trabalho realizado junto aos colegas de profissão.
E por falar em colegas, vale lembrar de Orlando Xavier, que conseguiu se eleger Vereador com um recorde de votação em toda história política da cidade. Apesar de parecer um autêntico defensor da classe pobre, para quem sempre realizava campanhas em seus programas, Orlando Xavier era daqueles que não “davam murro em ponta de faca”: sempre tirava lucros beneficiando a si próprio.
Certa vez, depois de arrecadar alimentos para distribuir com pessoas carentes dos bairros conhecidos como “Pé rapado” e “Berra bode”, nas proximidades do bairro da Vitória, Orlando, na maior cara de pau, separou uma pomposa feira e, olhando para os colegas que o ajudavam, falou: “Quem trabalha de graça é relógio; esse aqui é meu. Que me perdoe as velhinhas!”.
Em outra promoção, o Moinho Oriental deu uma bicicleta Monark Zero Quilômetro para ser sorteada entre os ouvintes do programa do Orlando Xavier. Na maior cara de pau, Orlando forjou um endereço com um nome inexistente e, mesmo com a presença do Gerson, proprietário da indústria, pegou o papel que havia preparado e pediu que o industrial (que não sabia de nada) anunciasse o ouvinte sorteado.
O interessante em tudo isso é que Orlando Xavier disse para os companheiros da Rádio Espinharas, antes do sorteio: “Eu já sei quem vai ser o sorteado: vai ser o meu filho, que precisa de uma bicicleta nova”. Indiferente aos protestos dos colegas, ele levou a sério o seu plano e, no dia seguinte, o garoto estava desfilando pelas ruas de Patos com a bicicleta novinha em folha.
UM GRANDE CONSELHEIRO
Aloísio Araújo, de saudosa memória, era um dos maiores amigos que tive em Patos. Sempre trabalhamos juntos nas transmissões esportivas da Rádio Espinharas, ao lado de Edleuson Franco, Nestor Gondim, Pedro Correia, Vavá Brandão e o nosso querido Chico “Fiapo”.
Certa vez, saímos juntos: eu, Petrônio Gouveia e o próprio Aloísio. Em busca de aventuras, resolvemos optar por um local onde tivessem mulheres novas, bonitas e carinhosas. Petrônio, de imediato, sugeriu: “que tal a boate da Neném?” Todos concordaram. E lá fomos nós. Lá chegando, cada um escolheu a sua “companheira” e, como o objetivo era cada um ficar à vontade (e bem à vontade) com a sua “escolhida”, resolvemos iniciar a grande “aventura” da noite.
Depois de pelo menos duas horas e meia, eu e Petrônio já estávamos de volta ao salão, onde pedimos uma cerveja, enquanto esperávamos o retorno do Aloísio, fato este que aconteceu meia hora depois. Perguntamos ao colega como foi a sua aventura e ele nos surpreendeu a todos com o seguinte relato: “Não consegui fazer nada. É que eu tive muita pena da garota e, naquele momento, pensei na minha filha. Então, sentamos na cama e eu a aconselhei para que deixasse aquela vida e que procurasse uma pessoa que conseguisse fazê-la feliz”.
Dias depois, voltando àquele local, encontrei a “jovem” com quem o Aloísio Araújo tivera aquele momento de “descontração”. Mostrando não saber de nada do que aconteceu naquela noite, perguntei-lhe o que achara da companhia do meu amigo, ao que ela respondeu: “O cara não fez nada! Eu pensei que ia ter um homem na cama! Não sabia que ele era um conselheiro!”.
Naquela época, a Rádio Espinharas era uma verdadeira família. Tudo que acontecia conosco terminava virando motivos de comentários e gozações. Quando os colegas souberam do que acontecera entre Aloísio e sua “cliente”, não deu outra: passaram a chamar o Aloísio de “o conselheiro”.
O RECANTO DOS RADIALISTAS
O Bar Fluminense, mais conhecido por nós como o Bar da Lila, era o local ideal para colocarmos em dia as fofocas. O local era tão aconchegante que recebia profissionais de todas as emissoras da cidade: Rádio Espinharas, Rádio Itatiunga, Rádio Panati, além de colegas dos jornais Correio da Paraíba, A União e O Norte. Era uma verdadeira festa.
Lila e Tatá, eram duas irmãs maravilhosas, amigas de todos e de um tratamento impecável. Daí a preferência que dávamos àquele ambiente, onde acontecia de tudo, principalmente de momentos de risos.
O Dr. Sousa Irmão, um odontólogo que já fora nosso colega de Rádio Espinharas e que, a convite meu, apresentava comigo o jornal falado na Rádio Itatiunga, também era um freqüentador assíduo do Bar da Lila. Certa vez, ele chegou bastante preocupado, pedindo que fizéssemos uma nota anunciando o roubo do seu carro. Foi um “Deus nos acuda”. Tomei um papel e, quando começava a redação da nota, chegou um rapaz e falou: “Dr. Sousa, aquele carro azul na frente do Banco do Brasil, não é o seu?”. A gargalhada foi geral. É que Sousa é um sujeito bastante esquecido. Ele fora ao banco, resolveu seus negócios e voltou sem o carro.
A melhor (ou pior) do Sousa Irmão foi quando uma cliente sua deu-lhe de presente uma galinha. Imediatamente, ele colocou a “penosa” na mala do carro e foi para casa. Os dias passaram e a coitada presa na mala do carro. Certo dia, ao chegar em casa Louracy, a esposa dele, que também fora colega nossa na Rádio Espinharas, sentiu um perfume desagradável. Os dois vasculharam a casa toda a procura de algum rato morto, mas nada encontraram. Num determinado dia, quando Sousa saiu para o consultório, Louracy ligou para ele afirmando que a fedentina havia acabado. No final da manhã, “Loura” ligou pedindo que ele comprasse um frango assado. Foi aí que Sousa meteu a mão na testa e disse: “Meu Deus! Agora foi que lembrei da galinha!” Correu até o carro, abriu a mala e lá estava a “carcaça” da pobre galinha. Ao chegar em casa, ele contou tudo para “Loura”, que só faltou “estrangular” o marido esquecido.
UM PRESENTE REJEITADO
Outro grande amigo que não poderia deixar de citar aqui é o Amaury Carvalho, um cara de uma voz extraordinária, compositor do Hino da cidade “Patos, te amo Patos”; dos hinos do Nacional Atlético Clube e do Esporte Clube de Patos. Amaury era discotecário da Rádio Espinharas e o pessoal costumava chamá-lo de “pombo” (depois eu conto por que).
Amaury era um dos maiores freqüentadores do bar da Lila. Certa vez, estávamos naquele local quando o Amaury apareceu com um pacote muito bonito. Quando perguntaram o que significava aquilo, ele respondeu que se tratava de um presente para a esposa, d. Francisca. Ninguém entendeu o motivo, uma vez que não era aniversário dela e nem estava na época de Natal. Antes que alguém perguntasse o porquê do presente, ele desabafou: “Hoje eu vou ter uma noite daquelas!”.
Todos entenderam a “mensagem”. Mas não vou fazer nenhuma referência, por se tratar de um caso bastante íntimo e que merece todo o nosso respeito. Quem conhece o Amaury sabe muito bem de que se trata. O certo é que as coisas não deram certo e, momentos depois, Amaury retorna com o mesmo presente e, dirigindo-se à Lila, falou: “Tome, Lila! É pra você!”. Lila, sempre de bom humor, olhou espantada para ele e disse: “Mas você não está com má intenção, está, Amaury?”. A gargalhada foi geral. Desconfiado, Amaury respondeu: “Não, Lila, é que o negócio não foi como eu pensava. Então, fique com o presente. É seu!”. Com o presente na mão, Lila concluiu: “Tá bom, Amaury, mas não pense que, com esse presente, você vai ter aqui o que não teve lá!”.
(Aguardem a continuação.....)
UM GRANDE AMOR PELA FRANÇA E PELOS FRANCESES
Eu estudava no Colégio Alfredo Dantas, em Campina Grande, na Paraíba, quando ouvi falar na França pela primeira vez.
Minha professora de francês, Marly Carvalho, era uma jovem extraordinária. Linda e inteligente, ela conseguiu arrancar a minha admiração, somando a tudo isso as constantes referências que ela fazia sobre a França e os franceses.
Foi através dela que fiquei sabendo dos fatos que marcaram épocas na história da França e do mundo. Além disso, aprendi algumas músicas do folclore francês, entre elas “Frère Jacques”.
Ainda em Campina Grande, no Colégio Estadual da Prata, tive como professora de Francês, d. Jacinta, outra pessoa espetacular que, a exemplo da Marly Carvalho, também fazia grandes alusões à França e aos franceses. Foi uma professora que muito se preocupou com o nosso futuro como cidadão.
Na cidade de Patos, no sertão da Paraíba, conheci outra pessoa incomparável: o professor Willy Bullara, um francês que passou a residir naquela cidade, cujo clime e temperatura contrastam em muito com os da França. No Colégio Estadual Pedro Aleixo, ele marcou época com o um dos grandes expoentes do magistério, lecionando Francês.
Willy Bullara, um técnico em eletrônica, tornou-se um grande amigo e me estimulou bastante. Lembro que nos finais de semana, eu costumava ir a sua residência, onde tentava acompanhar o francês da família. Aprendi muito com aquele que foi mais amigo do que mesmo professor. Juntos, falávamos muito sobre a França e seus pontos turísticos.
Meu interesse pela França foi crescendo de forma impressionante. Passei a sonhar com os lugares históricos daquele país e com seus famosos monumentos, como a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, o Obelisco, o rio Sena, le Sacré Coeur, Notre Dame de Paris, o Palácio das Tulherias e o conhecidíssimo Champs Elisées.
Certa noite, coincidentemente sintonizei meu rádio na Radiodifusion et Télévision Française (RTF), mais tarde transformada em Organisme de Radiodifusion et Télévision Française (ORTF). Fiquei tão feliz que, de imediato, tomei uma caneta e fiz uma marca no dial do rádio para nunca perder a sintonia.
Foram quase nove anos de correspondências. Durante todo esse tempo, recebi fotos, jornais, revistas e vários outros materiais impressos na própria rádio. Através deles, passei a conhecer Paris sem nunca tê-la visitado. Meu amor pela França crescia a cada dia.
Passei a ler sobre aquele país europeu. Fiquei impressionado com a história da Revolução Francesa e com a coragem do povo francês. Para mim, era motivo de alegria saber que aquele fato histórico havia influenciado na história do meu país.
No Distrito Federal, freqüentei ao curso de Francês, na Casa do Ceará, e encontrei um grande amigo, o professor Papa Singane Diaw Papy, nascido na França. Nele, encontrei um super-amigo. Papy é um grande exemplo de cidadão. Também fiz grandes amigos como: Gumercindo Sueiro Lopez (espanhol), Manuel Rivanor Pinheiro, Dione Wanderley (uma patoense da família Wanderley), Paulo José e a esposa dele, D. Zilma, Maria Stella Costa do Amaral, Maria Madalena Machado, Teresinha Castelo Branco Reis, Nésia Vieira de Melo, Maria Macedo de Andrade e Santos, Maria Aparecida C. Ramos e Terezinha de Jesus. Além das aulas, nós nos reuníamos uma vez por semana para um momento de confraternização, que nos aproximava cada vez mais.
Depois de algum tempo, retornei às aulas de Francês, agora no École International de Langues, de propriedade do professor e amigo Papa Singane Diaw Papy, que começou na 716 Norte. Agora, de novo endereço, na 708/709 Norte, ela recebe seus alunos com o mesmo carinho e o mesmo respeito. Depois da Moema, da Neusa, da Vivi e da Maria Arnete, passei a conviver com novas pessoas, mas todas elas com o mesmo carinho e a mesma alegria.
UMA PAIXÃO PELA POESIA
Depois de conhecer o poeta Ronaldo Cunha Lima, durante uma palestra, onde ele usou a sua veia poética, passei a me interessar pela poesia. Mesmo ainda inexperiente, fiz alguns trabalhos que, com o passar do tempo, foram modificados, numa tentativa de levá-los à perfeição (ainda não consegui). Entre eles está “Desejos de sertanejo”:
I
Queria viver na roça sob a luz de um lampião,
Ver meu cavalo pastando e um caipira cantando
Sob o som de um violão.
II
Queria tá numa rede balançando na varanda,
Vendo as águas do riacho descendo de morro abaixo
Como a Natureza manda.
III
Queria ver a cabrocha com um vestido de chita
Mostrando a cintura fina, no seu jeito de menina,
De boca bem feita e bonita.
IV
Queria ouvir os poetas rimando com perfeição
E num trabalho preciso, cantando de improviso
As coisas do meu Sertão.
V
Queria ver o meu gado desfilando nas estradas,
Ver o vaqueiro Tião montando num alazão,
Sendo herói das vaquejadas.
VI
Queria ver minha roça com batata e macaxeira,
Ver o milho e o feijão se arrastando pelo chão
E subindo a ribanceira.
VII
Queria ver os açudes com as águas cristalinas,
Ver pescadores pescando e os poetas se inspirando
Nas estrelas matutinas.
VIII
Queria ver nas fazendas gloriosas vaquejadas,
Cavalos emparelhados em duelos arrojados
Nas poeiras levantadas.
IX
Queria ouvir o aboio e o som de um berrante,
Comer um feijão tropeiro, carne assada no braseiro
E um pirão bem picante.
X
Queria ver a sanfona tocando no meu Sertão,
Ver as fogueiras queimando e as cabrochas dançando
Nas noites de São João.
XI
Queria ver dona Joana fazendo crochet e tricô,
Ver a vovó na calçada, numa cadeira sentada
Dando cafuné no vovô.
XII
Queria fazer serenatas nas noites enluaradas,
Com a morena na janela e eu cantando pra ela
As canções apaixonadas.
XIII
Queria ouvir o gemido do velho carro de boi,
Ver no sorriso de alguém a alegria de quem vem
No lugar de quem se foi.
XIV
Queria ver “seu” Fulgêncio preparando a cangalha,
O jumento relinchando e o velho Bento preparando
O seu cigarro de palha.
Este livro é um verdadeiro “Flash back”. Por isso estamos sempre voltando ao passado à proporção em que nos lembramos de fatos interessantes. Volto novamente a Patos para citar uma das maiores figuras folclóricas daquela região do sertão paraibano: o conhecido Antônio “Tranca-Rua”. Trata-se de uma pessoa bastante espirituosa, que sempre que era questionado estava com a resposta na “ponta da língua”.
Certo dia, já perto da hora do almoço, “Tranca-Rua” ia passando muito apressado, pelas calçadas das casas comerciais da Solon de Lucena, quando um dos vendedores falou: “Antônio, conta uma mentira pra gente!”. Imediatamente, como se já estivesse esperando aquele pedido, “Tranca-Rua”, enquanto caminhava, respondeu: “Não posso! Minha mãe acaba de morrer...!”.
Todos ficaram pasmados e o rapaz autor da pergunta, como se sentisse culpado, ficou sem graça e cabisbaixo. Depois do expediente, as pessoas que estavam no local se reuniram e foram até à casa do “Tranca-Rua” para apresentar as condolências. Ao chegarem ali, encontraram Antônio e a senhora sua mãe sentados ouvindo rádio na maior tranqüilidade. Diante da admiração dos presentes, “Tranca-Rua” falou: “Vocês não pediram pra eu contar uma mentira?!”.
Dizem que “um dia é da caça e outro, do caçador”. Pois isso é a pura verdade. Como falei anteriormente, Antônio “Tranca-Rua” nunca passou batido diante das interrogações das pessoas. Mas um certo dia, ele foi abordado por um viajante que não conhecia a cidade de Patos. Na cidade havia um bar conhecido como “Bar Sem Porta”, por ficar aberto 24 horas. O viajante encontro “Tranca-Rua”, a quem perguntou onde poderia fazer um lanche. Sem pestanejar, “Tranca-Rua” respondeu: “no bar sem porta!”. Imediatamente o cidadão retrucou: “e como eu posso entrar, se o bar não tem porta?”. Antônio “Tranca-Rua” ficou uma fera.
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Bem, deixando um pouco de lado a vida de “Tranca-Rua”, de quem temos muitas histórias, resolvi inserir neste trabalho um texto que criei de forma imediata. Estava eu a meditar sobre as coisas que acontecem nesta vida de surpresas, alegrias e decepções, quando pensei no seguinte texto:
RASTOS DO HOMEM
(Adalberto Claudino Pereira)
Mr. Peter O´Nara era um homem curioso. Daqueles que Lêem todo tipo de livro, independente do autor ou do conteúdo. Ele sempre ouvia falar da Amazônia e costumava dizer para os amigos que ainda realizaria uma de suas maiores aventuras: andar pela floresta mais famosa do mundo.
Dito e feito. Mr. Peter veio ao Brasil e, como havia prometido, resolveu dar um “passeio” turístico pela Amazônia. Para isso, contratou os serviços de dois “batedores” florestais, homens bastante acostumados com os perigos da selva. E lá se foram eles.
Mr. Peter pediu aos seus “cicerones” que relatassem tudo, pois ele fazia questão de anotar todos os detalhes em seu diário. E assim foi feito.
Depois de um quilômetro de caminhada, um dos guias parou, olhou para o turista e disse: “Por aqui passou um macaco!”. Mr. Peter ficou admirado e perguntou ao rapaz por que ele sabia que ali havia passado um macaco. “Ora – respondeu o guia – veja aquelas cascas de bananas!!!”.
Andaram mais um quilômetro quando o outro guia parou, olhou para o turista e disse: “Por aqui passou uma girafa!”. Novamente admirado, Mr. Peter quis saber como o rapaz sabia que por ali havia passado uma girafa, ao que o guia respondeu: “Veja lá no alto daquela árvore! Somente uma girafa seria capaz de comê-la!”.
Depois de caminharem mais um quilômetro, o outro guia parou novamente, voltou a olhar para o turista e falou: “Agora veja aqueles restos de animais! Isso significa dizer que por aqui passou um leão faminto!”. Mr. Peter nem precisou perguntar mais nada, devido as evidências dos fatos.
Os três continuaram andando. Muitas foram as paradas feitas para que os guias mostrassem como as coisas aconteciam na floresta. Já era tarde, quando eles chegaram a um local onde a devastação fora feita de forma violenta e criminosa. Muitas árvores foram derrubadas, muitas delas para serem comercializadas de forma ilegal. Também havia sinais de queimadas no local. Os dois guias olharam para o turista e, como se tivessem ensaiado um estribilho de uma canção melancólica, falaram: “Por aqui passou o homem!!!...”.
Patos é uma cidade maravilhosa. Um verdadeiro “paraíso” repleto de pessoas maravilhosas, hospitaleiras e respeitadoras. Ali, vivi os melhores momentos da minha vida profissional (radialista), sendo reconhecido pelo trabalho realizado junto aos colegas de profissão.
E por falar em colegas, vale lembrar de Orlando Xavier, que conseguiu se eleger Vereador com um recorde de votação em toda história política da cidade. Apesar de parecer um autêntico defensor da classe pobre, para quem sempre realizava campanhas em seus programas, Orlando Xavier era daqueles que não “davam murro em ponta de faca”: sempre tirava lucros beneficiando a si próprio.
Certa vez, depois de arrecadar alimentos para distribuir com pessoas carentes dos bairros conhecidos como “Pé rapado” e “Berra bode”, nas proximidades do bairro da Vitória, Orlando, na maior cara de pau, separou uma pomposa feira e, olhando para os colegas que o ajudavam, falou: “Quem trabalha de graça é relógio; esse aqui é meu. Que me perdoe as velhinhas!”.
Em outra promoção, o Moinho Oriental deu uma bicicleta Monark Zero Quilômetro para ser sorteada entre os ouvintes do programa do Orlando Xavier. Na maior cara de pau, Orlando forjou um endereço com um nome inexistente e, mesmo com a presença do Gerson, proprietário da indústria, pegou o papel que havia preparado e pediu que o industrial (que não sabia de nada) anunciasse o ouvinte sorteado.
O interessante em tudo isso é que Orlando Xavier disse para os companheiros da Rádio Espinharas, antes do sorteio: “Eu já sei quem vai ser o sorteado: vai ser o meu filho, que precisa de uma bicicleta nova”. Indiferente aos protestos dos colegas, ele levou a sério o seu plano e, no dia seguinte, o garoto estava desfilando pelas ruas de Patos com a bicicleta novinha em folha.
UM GRANDE CONSELHEIRO
Aloísio Araújo, de saudosa memória, era um dos maiores amigos que tive em Patos. Sempre trabalhamos juntos nas transmissões esportivas da Rádio Espinharas, ao lado de Edleuson Franco, Nestor Gondim, Pedro Correia, Vavá Brandão e o nosso querido Chico “Fiapo”.
Certa vez, saímos juntos: eu, Petrônio Gouveia e o próprio Aloísio. Em busca de aventuras, resolvemos optar por um local onde tivessem mulheres novas, bonitas e carinhosas. Petrônio, de imediato, sugeriu: “que tal a boate da Neném?” Todos concordaram. E lá fomos nós. Lá chegando, cada um escolheu a sua “companheira” e, como o objetivo era cada um ficar à vontade (e bem à vontade) com a sua “escolhida”, resolvemos iniciar a grande “aventura” da noite.
Depois de pelo menos duas horas e meia, eu e Petrônio já estávamos de volta ao salão, onde pedimos uma cerveja, enquanto esperávamos o retorno do Aloísio, fato este que aconteceu meia hora depois. Perguntamos ao colega como foi a sua aventura e ele nos surpreendeu a todos com o seguinte relato: “Não consegui fazer nada. É que eu tive muita pena da garota e, naquele momento, pensei na minha filha. Então, sentamos na cama e eu a aconselhei para que deixasse aquela vida e que procurasse uma pessoa que conseguisse fazê-la feliz”.
Dias depois, voltando àquele local, encontrei a “jovem” com quem o Aloísio Araújo tivera aquele momento de “descontração”. Mostrando não saber de nada do que aconteceu naquela noite, perguntei-lhe o que achara da companhia do meu amigo, ao que ela respondeu: “O cara não fez nada! Eu pensei que ia ter um homem na cama! Não sabia que ele era um conselheiro!”.
Naquela época, a Rádio Espinharas era uma verdadeira família. Tudo que acontecia conosco terminava virando motivos de comentários e gozações. Quando os colegas souberam do que acontecera entre Aloísio e sua “cliente”, não deu outra: passaram a chamar o Aloísio de “o conselheiro”.
O RECANTO DOS RADIALISTAS
O Bar Fluminense, mais conhecido por nós como o Bar da Lila, era o local ideal para colocarmos em dia as fofocas. O local era tão aconchegante que recebia profissionais de todas as emissoras da cidade: Rádio Espinharas, Rádio Itatiunga, Rádio Panati, além de colegas dos jornais Correio da Paraíba, A União e O Norte. Era uma verdadeira festa.
Lila e Tatá, eram duas irmãs maravilhosas, amigas de todos e de um tratamento impecável. Daí a preferência que dávamos àquele ambiente, onde acontecia de tudo, principalmente de momentos de risos.
O Dr. Sousa Irmão, um odontólogo que já fora nosso colega de Rádio Espinharas e que, a convite meu, apresentava comigo o jornal falado na Rádio Itatiunga, também era um freqüentador assíduo do Bar da Lila. Certa vez, ele chegou bastante preocupado, pedindo que fizéssemos uma nota anunciando o roubo do seu carro. Foi um “Deus nos acuda”. Tomei um papel e, quando começava a redação da nota, chegou um rapaz e falou: “Dr. Sousa, aquele carro azul na frente do Banco do Brasil, não é o seu?”. A gargalhada foi geral. É que Sousa é um sujeito bastante esquecido. Ele fora ao banco, resolveu seus negócios e voltou sem o carro.
A melhor (ou pior) do Sousa Irmão foi quando uma cliente sua deu-lhe de presente uma galinha. Imediatamente, ele colocou a “penosa” na mala do carro e foi para casa. Os dias passaram e a coitada presa na mala do carro. Certo dia, ao chegar em casa Louracy, a esposa dele, que também fora colega nossa na Rádio Espinharas, sentiu um perfume desagradável. Os dois vasculharam a casa toda a procura de algum rato morto, mas nada encontraram. Num determinado dia, quando Sousa saiu para o consultório, Louracy ligou para ele afirmando que a fedentina havia acabado. No final da manhã, “Loura” ligou pedindo que ele comprasse um frango assado. Foi aí que Sousa meteu a mão na testa e disse: “Meu Deus! Agora foi que lembrei da galinha!” Correu até o carro, abriu a mala e lá estava a “carcaça” da pobre galinha. Ao chegar em casa, ele contou tudo para “Loura”, que só faltou “estrangular” o marido esquecido.
UM PRESENTE REJEITADO
Outro grande amigo que não poderia deixar de citar aqui é o Amaury Carvalho, um cara de uma voz extraordinária, compositor do Hino da cidade “Patos, te amo Patos”; dos hinos do Nacional Atlético Clube e do Esporte Clube de Patos. Amaury era discotecário da Rádio Espinharas e o pessoal costumava chamá-lo de “pombo” (depois eu conto por que).
Amaury era um dos maiores freqüentadores do bar da Lila. Certa vez, estávamos naquele local quando o Amaury apareceu com um pacote muito bonito. Quando perguntaram o que significava aquilo, ele respondeu que se tratava de um presente para a esposa, d. Francisca. Ninguém entendeu o motivo, uma vez que não era aniversário dela e nem estava na época de Natal. Antes que alguém perguntasse o porquê do presente, ele desabafou: “Hoje eu vou ter uma noite daquelas!”.
Todos entenderam a “mensagem”. Mas não vou fazer nenhuma referência, por se tratar de um caso bastante íntimo e que merece todo o nosso respeito. Quem conhece o Amaury sabe muito bem de que se trata. O certo é que as coisas não deram certo e, momentos depois, Amaury retorna com o mesmo presente e, dirigindo-se à Lila, falou: “Tome, Lila! É pra você!”. Lila, sempre de bom humor, olhou espantada para ele e disse: “Mas você não está com má intenção, está, Amaury?”. A gargalhada foi geral. Desconfiado, Amaury respondeu: “Não, Lila, é que o negócio não foi como eu pensava. Então, fique com o presente. É seu!”. Com o presente na mão, Lila concluiu: “Tá bom, Amaury, mas não pense que, com esse presente, você vai ter aqui o que não teve lá!”.
(Aguardem a continuação.....)
MEMÓRIAS DE UM SOLDADO SEM MALÍCIAS - (Livro) - Continuação
Foto da cidade de Campina Grande - a Rainha da Borborema
CORRERIA NO CEMITÉRIO
Eu estudava no Colégio Estadual da Prata (Campina Grande) e numa terça-feira, aproveitando a ausência dos pais de Carminha, minha namorada, residente na
Rua Ceará, “queimei” as últimas aulas para encontrar-me com a garota, em sua residência que ficava em frente ao cemitério do Carmo. Estávamos no “terraço” da casa dela quando notamos uma movimentação na rua. Algo estranho estava acontecendo e, curioso como sempre fui, procurei saber o que estava causando tanto tumulto.
Ao sair para a calçada deparei com Alcides (um dos responsáveis pelo “campo santo”. Perguntei o que acontecia e fiquei sabendo que se tratava de um sepultamento. Mas, sepultamento à noite! Fiquei atônito. Olhei para o relógio e vi que eram 21:30 horas. Disse para a Carminha que me esperasse e saí em disparada. Queria saber de todos os detalhes. Mas o que Alcides me disse foi apenas que se tratava de um caso especial e que o sepultamento teria que ser urgente.
Não pensei duas vezes e entrei no cemitério. Afinal, era a primeira vez (e não sabia se teria outras) que participava de um funeral noturno. Deveria ser romântico. Acompanhei algumas pessoas, em sua maioria curiosos, até chegar ao local do sepultamento. Uma cova próxima ao muro das casas da rua Olegário Maciel, quase em frente ao necrotério. Para quem não sabe, necrotério é um local onde se colocam os mortos sem parentes, para um posterior sepultamento.
O coveiro ainda terminava de cavar a sepultura quando uma moça, despertada pelo barulho das pessoas e das ferramentas do coveiro, subiu ao muro de sua casa (o cemitério do Carmo é cercado de casas por todos os lados) e, ainda de camisola, gritou espantada: “Quem foi que morreu, héim?!”.
Foi uma correria sem precedentes. As pessoas se espalharam por dentro do cemitério apavoradas. Umas até gritaram por “socorro”. Um rapaz pisou numa cova e afundou um dos pés. Quanto mais ele gritava para que alguém o tirasse daquela situação incômoda, mais as pessoas corriam e gritavam. A moça, tentando entender o que estava acontecendo, pedia calma e dizia: “O que está acontecendo, gente? Eu estou viva. Eu moro aqui!”
Para não ser pisoteado, acompanhei aquelas pessoas e consegui sair do cemitério ileso, mas suado como tampa de chaleira. Cheguei à casa da namorada e pedi um copo com água. “Querida! Nunca vi coisa igual. Parecia uma guerra. Era gente pra todos os lados. As únicas pessoas que não correram foram o coveiro, a defunta e a moça do muro!”. Carminha ouvia tudo calada. Mesmo sem ter presenciado a cena, ela demonstrava estar com muito medo. Depois eu soube que ela dormiu no quarto dos pais.
OUTRA VEZ NO CEMITÉRIO
Aproveitando este acontecimento, vou contar-lhes outro fato que aconteceu no mesmo cemitério, cujo administrador era o Sr. João, casado com D. Ambrozina. Ela era mais conhecido como “João Coveiro”.
“Seu” João tinha um sobrinho, chamado de Cláudio, que costumava dormir no cemitério, aproveitando os túmulos vazios. Ele era um rapaz de cor branca, com pelo menos 80 quilos e gostava de tomar uma “pingas”, sem, no entanto, embriagar-se com facilidade.
Havia na cidade de Campina Grande um Vereador bastante querido, o Félix Araújo, assassinado nas proximidades da Mesa de Renda, pertinho da Prefeitura Municipal. A notícia da morte do Vereador abalou a cidade. Eu fiquei sabendo quando ia para a Rádio Borborema assistir ao programa “O Domingo Alegre”, apresentado por Leonel Medeiros.
Dias depois, o assassino foi encontrado. Tratava-se de João Alves de Brito, mais conhecido como “João Madeira”. Ele fora encontrado escondido no jardim da residência do Prefeito Plínio Lemos, e levado para a Cadeia Pública, que ficava por trás de minha casa.
Numa noite, a cela de João Madeira foi invadida por presos de outras celas e o assassino de Félix Araújo foi linchado ali mesmo. Há quem diga que alguém facilitara a invasão, abrindo as celas para que o crime fosse consumado. Os gritos foram ouvidos por grande parte dos moradores da Rua Monte Santo.
No dia seguinte, era grande a movimentação nas imediações da Cadeia Pública. Uma viatura da Polícia Militar levou o corpo de João Madeira, seminu, para o necrotério do cemitério do Carmo, onde Cláudio dormia tranqüilamente. Ele bebera acima da conta e nem notou que ali, bem pertinho dele, estava um defunto.
Era grande a quantidade de pessoas que se acumulavam dentro e fora do cemitério. Muitos escalavam uma parede para chegar até uma das janelas do necrotério, ansiosos para verem o defunto. Do lado de fora, uma fila era organizada pela polícia. De repente, a porta se abre e Cláudio aparece sem camisa e se espreguiçando.
Quem estava em cima do muro despencou como se tivesse sido empurrado por uma força estranha. Os que estavam na fila, ao verem a correria, nem esperaram para saber o que estava acontecendo: dispararam rua abaixo. Foi um momento de pânico dentro e fora do cemitério. Alcides ainda tentou acalmar a multidão, mas quanto mais gesticulava, mais era empurrado pela multidão descontrolada.
Eu passara a noite com muita febre. Mesmo assim, arrisquei chegar até o cemitério. Aliás, minha casa era bem próxima e não dava muito trabalho chegar até lá. Antes mesmo de me aproximar, senti que as coisas não estavam acontecendo dentro de sua normalidade. Voltei para casa às pressas antes de ser “massacrado” por aquela massa humana.
E você, o que faria numa situação idêntica? Pare um pouco e pense naquela cena. No seu pensamento, ocupe um lugar naquela parede ou até mesmo naquela fila e diga para você mesmo (a) qual seria a sua reação.
UMA NOITE COM UM CADÁVER
Bodocongó é um bairro de Campina Grande, conhecido até musicalmente: “Bodó-bodó-bodó-bodocongó, o meu barquinho tinha um remo só...”. Sempre aos domingos, pela manhã, lá estava eu à beira do famoso Açude de Bodocongó, para presenciar os atletas fazendo malabarismos em cima de skis, puxados por lanchas em alta velocidade. Nadadores profissionais se desafiavam nas travessias do açude. Eram momentos maravilhosos. Aliás, eu conhecia bastante aquele populoso bairro, uma vez que já jogara várias vezes no campo do Têxtil, contra o Humaitá de Icário, Lelé e Adaltinho, e contra o Madureira.
No quartel, nós tínhamos soldados para tudo, inclusive para disputas de natação. E foi numa manhã ensolarada de domingo que dois deles resolveram partir para um desafio: eles teriam que atravessar o açude, indo e retornando ao ponto de partida. Não se sabe se apostaram alguma coisa. Sabe-se apenas que na volta apenas um deles retornou. Alguém disse que vira quando uma pessoa acenava com uma das mãos pedindo socorro, mas não repetir o pedido pela terceira vez, o que tirava quaisquer possibilidades de tentativa de salvamento.
De imediato, o fato foi comunicado ao Comando do Batalhão de Serviços de Engenharia (BSvE), que deslocou alguns soldados para o local. Foram muitas as tentativas, sem resultados positivos. Somente três dias depois, numa terça-feira, é que um mergulhador conseguiu localizar o corpo do colega. Ele estava com uma das pernas presas entre algumas pedras numa parte não muito funda daquele açude.
No mesmo dia, o corpo foi preparado e levado para ser velado na Capela do cemitério do Carmo, ficando à disposição para visitas a partir da tarde e por toda a noite. O corpo, colocado no centro da Capela, foi acompanhado por uma guarda especial, da qual eu fiz parte. Fiquei de 14:00 às 16:00; de 20:00 às 22:00; de 24:00 às 02:00; e de 06:00 até a hora de saída do corpo para o sepultamento, que ocorreu por volta das 08:30 da manhã da quarta-feira.
Se você me perguntar qual a sensação de estar junto a um defunto, sozinho, durante a madrugada, eu responderia que, de início é uma sensação de desânimo, tristeza e receio. Muitas perguntas passam por sua cabeça: “já pensou se ele levantasse a cabeça e desse boa noite?”; “o que seria de mim se ele perguntasse o que estava fazendo ali, naquele caixão?”; “porque as horas não passam mais rápido, meu Deus?”.
Havia momentos em que eu olhava em direção à minha casa e pensava “lá com os meus botões”: “nesse momento meus pais e meu irmão estão num sono profundo, bem agasalhados, enquanto eu fico aqui, vigiando um defunto, como se fosse uma coisa de muito valor”. Minha casa ficava a poucos metros do cemitério do Carmo. Eu morava na rua Monte Santo, 82.
No dia seguinte, ao ver o sol raiar, nascia em mim uma sensação de alívio ao saber que muitas pessoas estariam ali para o sepultamento. Aliás, sepultamento de militar é diferente e chama a atenção das pessoas. É executado um toque de silêncio pelo corneteiro oficial e, em seguida, uma salva de vinte e um tiros (de festim, é claro). Depois, tudo fica por conta dos germes.
Mesmo sabendo que vida de militar não era um “mar de rosas”, eu sempre sonhei com o Exército Brasileiro. Quando criança, eu ficava boquiaberto quando via um desfile militar. Aquelas armas, os carros blindados, a cadência dos soldados com passos firmes. Tudo me levava ao delírio. A grande verdade é que eu sempre pensei em ser um oficial.
UMA ADMIRAÇÃO PELO RÁDIO
Quando somos crianças muitas coisas passam por nossa cabeça. Vejam que enquanto eu sonhava em fazer “carreira” no Exército, Deus reservava algo totalmente diferente: ser jornalista. Isso nunca passou por minha cabeça, embora eu fosse um participante assíduo dos programas da Rádio Borborema de Campina Grande.
Lembro com muitas saudades dos programas “Retalhos do Sertão”, apresentado todas as manhãs por Juracy Palhano e que contava com a participação dos poetas repentistas José Gonçalves e Cícero Bernardes, e do cômico “capitão Mané Coió”, que apelidou os poetas de “cupim” e “coruja”.
Aos domingos, eu tinha cadeira cativa no programa “Domingo Alegre”, apresentado por Leonel Medeiros e que contava com a participação da Orquestra Borborema, dirigida pelo maestro Nilo Lima, e do conjunto regional formado por Jaime Seixas (piano), Arlindo (pistão), Zé Maria (violão), Abdias (acordeão), além das cantoras Maria das Neves e Maria do Carmo.
No programa “Domingo Alegre” eram realizados vários sorteios, mas a grande sensação eram os bingos patrocinados pelo café São Braz. Para concorrer, era necessário juntar cinco pacotes vazios do café São Braz e trocá-los por uma cartela. Em um desses bingos eu ganhei uma cama de solteiro “patente faixa azul” (a melhor da época), um colchão, alguns produtos São Braz e uma foto da Martha Rocha, Miss Brasil. Foi uma alegria total.
Ainda aos domingos, pela manhã, sempre que podia eu assistia ao programa infantil “Clube Papai Noel”. Não lembro bem o nome do apresentador. Sei apenas que era um bom programa com a presença de muitas crianças, não faltando palhaços e diversas brincadeiras.
Naquela época, um grande profissional despontava no cenário artístico da rádio Borborema e, conseqüentemente, de Campina Grande: o cantor Genival Lacerda, um jovem magro que cantava músicas de Jackson do Pandeiro. Ele trouxe consigo duas características próprias: a munganga e o chapéu de abas curtas. No seu repertório incluíam-se as músicas “Mulher do Aníbal” e “Comadre Sebastiana”.
A Rádio Borborema também tinha seu “cast” de excelentes atores e atrizes, que participavam das novelas ali apresentadas. Nunca fui chegado a novelas, mas arrisquei assistir a alguns capítulos de “O Anjo Negro”, uma história baseada na escravidão. Lembro que foi uma novela cheia de grandes emoções. O garoto Benjamim Blay era uma das atrações daquela novela.
Outros nomes de profissionais da Rádio Borborema, pertencente aos Diários Associados, são inesquecíveis, entre eles destaco: Hilton Motta, Palmeiras Guimarães, os irmãos cantores Gilson e Geiza Reis, Genésio de Sousa, Temístocles Maciel, os cantores Geraldo Andrade, Ronaldo Soares, filho de Genésio de Sousa, e Silvinha de Alencar, que era titular do programa diário “A Estrela do Meio-Dia”.
Bonito mesmo eram os pastoris representados pelos “cordões” azul e encarnado. A disputa era ferrenha e lá estava eu torcendo e vibrando pelo “cordão” azul, a minha cor preferida. O ritmo era bastante convidativo. As pastoras, independente das cores que representavam, cantavam mais ou menos assim: “Boa noite, meus senhores todos, boa noite, senhoras também, somos nós as pastorinhas belas, que alegremente vamos a Belém”.
As pastorinhas eram bem vestidas. Suas vestes eram coloridas de azul e branco para as representantes do azul, e vermelho, e branco para as representantes do encarnado. À frente do azul ficava a “mestra” e à frente do encarnado ficava a “contra-mestra”. Entre as duas alas ficava a “Diana” que, como ela mesma cantava, não tinha partido. Não lembro as músicas mas ainda recordo o “grito de guerra” do azul: “Azul é o céu, azul é o mar, azul é a rainha que nós vamos coroar”.
As pessoas davam seus votos através de donativos. Cada cruzeiro representava um voto. Nós, torcedores do “cordão” azul fazíamos uma “vaquinha” para ajudar o nosso “partido”. Esta era a palavra usada pela “Diana” em sua cantata: “Sou a Diana, não tenho partido. O meu partido são os dois cordões. Eu peço palmas, peço fita e flores. Oh, meus senhores...”.
O programa humorístico mais ouvido naquela época era “A Escolinha do Nicolau”. Era interessante quando os atores entravam em cena, caracterizados, cantando a música da escola: “Na escola do Nicolau, nóis vai desaprender, alegre-gre-gre, cantando-do-do (...). Salva a escola ideal do ignorante Nicolau (do Nicolau), quem não quizé aprender, no fim do ano leva pau, pa-ra-ra-pa-pau, pa-pau”. Os personagens eram. Chico, um aluno ignorante que xingava sempre o professor; Bobozinho, um aluno ingênuo, que sempre fazia perguntas idiotas; Afreu, um aluno que sempre defendia o professor, aprovando tudo o que ele dizia; e Linda, uma aluna inteligente, que sempre corrigia o professor.
Também lembro do programa CLUBE DO PAPAI NOEL, apresentado aos domingos, pela manhã, com a presença de cantores mirins, entre eles os irmãos Gilson e Geisa Reis. Eram distribuídos muitos brindes entre as crianças presentes. O programa era repleto de atrações que levavam os presentes ao delírio.
Era assim a Rádio Borborema de Campina Grande. Seus programas eram espetaculares. Seu auditório sempre estava superlotado e grandes artistas eram revelados. Os apresentadores eram grandes profissionais, dignos dos maiores aplausos. Naquela época o rádio era feito com amor, dedicação e muito profissionalismo.
UMA PAIXÃO PELO FUTEBOL
O único clube de futebol de renome era o Treze Futebol Clube, conhecido como o “Galo da Borborema” e o maior narrador esportivo era Palmeiras Guimarães. Depois, surgiu o Centro Esportivo Campinense Clube, formado por pessoas da elite de Campina Grande e, por isso, passou a ser chamado de “O time aristocrático”, com o uniforme com as cores da Paraíba (vermelho e preto). Como o Treze era o “galo”, passaram a chamar o Campinense de “raposa”.
Minha vida em Campina Grande era bastante alegre. Quando não estava na Rádio Borborema, assistindo aos programas de auditório, estava jogando bola no campo denominado “cova da onça”. Entre os amigos da época, lembro muito bem do Antônio Correia, do galego Nivaldo, Zé Costa Barros, Zé Costa Lima, Nóca, Inácio Pelado (goleiro) e Edson. O Nóca morreu em um acidente automobilístico e Edson, vítima de tétano. Foram duas perdas que não consigo esquecer, por terem sido bons amigos.
Desses amigos, três chegaram a jogar comigo no Vasco da Gama do Monte Santo: Antônio Correia, Zé Costa Barros e Nivaldo. Zé Costa Lima formou-se em Direito (soube depois que ele havia morrido), e do Inácio “Pelado” não tenho notícias. Eram os bons tempos da minha adolescência.
Eu jogava no juvenil do Vasco e, certa vez, quando jogávamos contra o Madureira, num campo próximo ao “César Ribeiro”, fomos observados pelo treinador Sr. Guilherme e pelo Diretor de Futebol Sr. Silva. Eles precisavam de três jogadores para os aspirantes (2º quadro) do Vasco. No final do jogo, eu, Gringo e Raimundinho fomos escolhidos.
Meu primeiro jogo foi contra o Bangu, um time que representava o bairro “Casa de Pedra”. No final da partida, eu fui abordado pelo Sr. Guilherme que me disse: “Garoto, pegue o material com o roupeiro. Você vai jogar no time principal. Carboreto, o lateral direito está doente e você vai ter a oportunidade de substituí-lo”.
Aquela era uma grande reponsabilidade, uma vez que o jogador Carboreto (era este o apelido do jogador Arnaldo) era um atleta completo e estava sendo pretendido por outros clubes, pela sua versatilidade. Entrei em campo um tanto nervoso, principalmente ao saber que deveria marcar o jogador Josias (ponta-esquerda titular do Treze, que aproveitava os domingos de folga para jogar “pelada”).
Eu tinha apenas 17 anos e já era um atleta respeitado pela Diretoria do Clube. Por isso, fui escolhido para, no jogo entre Clube de Regatas Vasco da Gama (Rio) e Treze Futebol Clube, partida amistosa, entregar ao “capitão” Bellini, um troféu do seu co-irmão de Campina Grande.
Neste jogo fizemos a preliminar contra os aspirantes do Treze Futebol Clube e vencemos por 3 X 2. Nosso centro-avante Paulinho encheu os olhos dos Diretores do Vasco, que o convidaram para ir até o Rio de Janeiro, para fazer um “teste” no clube de são Januário. Disseram que o Paulinho treinou bem, mas não foi aprovado por motivos que desconheço.
Tivemos grandes adversários, mas os que mais nos deram trabalho foram o Leão do Norte, por ser do mesmo bairro, e o 15 de Novembro. Quando esses clubes se encontravam eram verdadeiros clássicos. Cito outros times difíceis, como: Humaitá e Têxtil, ambos do bairro de Bodocongó, e o Madureira.
Vendo-me jogar na preliminar de Vasco da Gama e Treze, o presidente do “galo da Borborema”, Sr. José Lira Braga, convidou-me para treinar no Presidente Vargas. Ele estava interessado em mim, mas eu era torcedor fanático do Centro Esportivo Campinense Clube, principal adversário do Treze, e não me sentiria bem vestindo a camisa de outro time, e muito menos a do Treze.
Ainda cheguei a treinar no Campinense Clube, mas nunca fui aproveitado pelo treinador Buarque Gusmão. Para mim, foi a maior frustração. Eu sempre sonhei em vestir a camisa 2 do Campinense, que na época tinha grandes jogadores. Ser o terceiro reserva já era uma grande vitória na minha vida como atleta. O importante era ser jogador do meu clube preferido. Como os sonhos nem sempre são realizados, temos que nos contentar com aquilo que o destino nos reserva. E o destino reservou-me o direito de ser jogador amador.
Campina Grande, a “rainha da Borborema”, oferece aos seus filhos o direito de se orgulhar por ter nascido numa cidade tão maravilhosa. Alí, tudo é lindo e maravilhoso: o estádio “Amigão”, construído no governo Ernani Sátyro; Os estádios “Presidente Vargas” e “Plínio Lemos”; o açude Velho; os cinemas “Capitólio”, “Babilônia”, “Avenida” e “São José”; são pontos inesquecíveis, tantas vezes por mim freqüentados na minha infância e adolescência. Jamais deixaria de dizer que sinto saudades do “Açude Novo”, outro motivo das minhas lembranças, que acharam por bem destruir.
Se Campina Grande não me deu a oportunidade que tanto sonhava: ser um jogador profissional, pelo menos me proporcionou outras oportunidades: a de conhecer uma nova realidade da vida servindo ao Exército Brasileiro; viver uma infância feliz, uma adolescência brilhante e um pouco de minha juventude junto de bons amigos; desfrutar das belezas naturais da cidade; e de conhecer excelentes bairros como Bodocongó, José Pinheiro, Monte Castelo, Palmeiras, Monte Santo, Quartel do 40, Liberdade e outros.
OS CONTATOS COM O MUNDO ARTÍSTICO
No mundo artístico, tive contatos com diversos cantores. Quando funcionário da rádio Espinharas de Patos, na Paraíba, eu apresentava o programa “O Domingo é Nosso”, onde divulgava os cantores da época (l973/79). Isso me aproximou do empresário “Pinga”, que sempre levava atrações para aquela cidade. Por conta dessa amizade, eu fui escolhido pelo empresário para entrevistar os cantores e apresentá-los nos seus shows.
Entre esses cantores, eu apresentei: Agnaldo Timóteo, Fernando Mendes, José Augusto, Teixeirinha, Paulo Sérgio, Roberto Leal, Ronnie Von, Perla, Roberto Carlos, Silvio Brito, Odair José, Altemar Dutra, Antônio Marcos, Sérgio Reis, Waldick Soriano e outros.
O “Pinga” tinha tanta confiança na minha pessoa que sempre que tinha um cantor para apresentar na cidade de Patos, ligava para mim, anunciando a data do show e pedindo que eu providenciasse local e propaganda. Ele apenas mandava os cartazes e eu escolhia os locais onde afixá-los. No dia do show tudo estava pronto. Na maioria das vezes, os espetáculos eram apresentados no Cine São Francisco, cujo gerente Almir, tornou.se um grande parceiro nosso.
Desses cantores citados, apenas o Roberto Carlos não se apresentou no Cine São Francisco, uma vez que ele fez algumas exigências quanto ao palco, que deveria ter determinadas medidas a fim de evitar uma possível invasão dos fãs. Este também foi um show onde eu tive que me apresentar em traje passeio formal, outra exigência do cantor. A expectativa de um número gigante de pessoas fez com que o show fosse apresentado no Estádio Municipal José Cavalcanti, no Bairro do Belo Horizonte.
O empresário “Pinga” também levou para a cidade de Patos o Clube de Regatas Vasco da Gama, que jogou contra o Nacional Atlético Clube. Um fato interessante a ser registrado foi a exigência que o Pinga fez para que eu atuasse naquela partida. Ao saber
que eu era árbitro de futebol, pertencente à Liga Patoense de Futebol, filiada à Federação Paraibana de Futebol, Pinga fez questão de ver-me atuando. Eu não poderia faltar ao amigo e formei o trio de arbitragem ao lado de Silvaneto Firmino e Mário Leitão.
No ano de 1974, nos meses de março e abril, a cidade de Patos recebeu, respectivamente os cantores Odair José e Fernando Mendes, levados pelo empresário “Pinga”. As apresentações, como sempre acontecia, tiveram como local o Cine São Francisco, sob a direção do Almir.
As duas apresentações marcaram época na cidade, pelo grande sucesso que ambos faziam com suas músicas bastante solicitadas pelos ouvintes da Rádio Espinharas.
Como jornalista, tive momentos de glórias e um deles foi quando recebi da Câmara Municipal de Patos, o título de “Cidadão Patoense”, numa deferência do Vereador Polion Carneiro, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Francamente, não esperava que uma cidade como Patos, tão importante no cenário político do estado da Paraíba, chegasse a prestar-me uma homenagem de tamanha significância. Isso fez com que nascesse dentro de mim um amor incomparável por aquela gente.
A Sessão Especial realizada no Patos Tênis Clube, com a presença das figuras mais importantes da região das Espinharas, marcou época na minha vida profissional. Foi realmente uma noite memorável, que culminou com um jantar no Hotel JK, oportunidade em que eu fui convidado a usar da palavra para os agradecimentos. Apesar de ter preparado um discurso para aquele momento, o improviso foi algo inevitável, devido as exigências das circunstâncias e da minha própria maneira de sempre querer dizer mais do que o previsto.
Documento expedido pela Câmara Municipal de Patos, confirmando o título de cidadania outorgado ao autor (Lei nº 1.219 de 10 de abril de 1978).
(Foto do autor discursando durante solenidade em que recebia o título de “Cidadão Patoense”, no Hotel JK, em Patos – Paraíba)
UM RETORNO À INFÂNCIA E À ADOLESCÊNCIA
Na minha infância, sempre fui um garoto tímido, mesmo porque fui educado com muita rigidez por minha mãe, principalmente. Aliás, meu pai só me bateu uma vez em toda a minha vida. Ao contrário, minha mãe era durona e qualquer falha cometida por mim, a palmatória entrava em ação. Eu não lembro se algum dia eu passei “em branco”, ou seja, se eu dei uma folguinha àquele maldito pedaço de madeira pintado de preto e que recebeu de minha mãe o nome “carinhoso” de maricota.
Mesmo sendo criado desta forma, eu sempre dei meus “pulinhos” quando estava longe dos olhos vigiadores de D. Eudócia. Quando eu era desafiado por alguém, sempre mostrava o meu lado de briguento. Foram muitas as vezes em que eu briguei com Mailton, um colega de classe, no Colégio Alfredo Dantas. Nosso palco era sempre o lado dos Correios e Telégrafos, na Praça da Bandeira.
Nossos colegas já estavam tão acostumados com nossas brigas que, durante as aulas, ficavam fazendo comentários que nos colocavam como desafiantes. Eles sempre diziam: “O Mailton disse que tá doido pra te pegar lá fora!”. Aquilo me irritava e fazia com que eu olhasse para ele e fizesse um jeito com a mão, como se estivesse dizendo: “espera a aula terminar que eu te pego!”. Era uma estratégia dos colegas que sempre dava certo. Vocês podem até perguntar quem saia vencendo nessa história. Eu diria que dependia muito da “inspiração” de cada um, ou seja, um dia eu batia mais, no outro batia menos.
Nas brigas com o Mailton havia uma certa vantagem: todas as vezes que eu batia mais nele, no dia seguinte ele, para reconquistar minha amizade, pagava o lanche na cantina de D. Júlia, uma negrinha franzina que vendia um pão com doce bastante gostoso.
Em parte, essas brigas trouxeram algumas vantagens para nós dois e uma delas estava na certeza de que éramos considerados os valentões do colégio e com a gente ninguém mexia.
Naquela época, nós gostávamos de, ao sair do colégio, ir até o edifício dos Correios e Telégrafos para usar o elevador. Aquilo tornou-se uma brincadeira diária, da qual participavam cinco estudantes e eu estava entre eles. Certa vez, quando estávamos no interior do elevador, faltou energia. Foi um Deus nos acuda. Nós gritávamos como um bando de malucos e chutávamos o elevador como se ele mudasse a situação. Depois que tudo voltou ao normal, saímos em disparada e nunca mais quisemos repetir a brincadeira. Eu tive que dar explicações a minha mãe sobre os motivos que me fizeram chegar tarde em casa. Recebi, como recompensa, uma surra daquelas que nem queiram imaginar.
Ainda cheguei a namorar a irmã do Mailton, cujo nome infelizmente não lembro. Sei apenas que ela era bastante bonita. Aliás, eu sempre escolhia meninas bonitas para namorar. A beleza feminina era indispensável para se estar de bem com a vida. Lourdinha, Célia, Maria do Carmo (Carminha), Hilda (a baianinha), Joana D’Arc, Selma, Ruth, Maria do Socorro (Corrinha), foram algumas das namoradas do meu tempo de adolescência, todas de uma beleza invejável.
Por falar em namoradas, lembro de um fato não muito confortável: minha mãe mandou que eu fosse ao açougue comprar carne para o almoço. Eram 09:00 horas da manhã e, por coincidência, o açougue ficava na rua Getúlio Vargas, justamente a rua onde morava o Mailton. Aproveitei e dei uma passadinha por lá para conversar um pouco com a mana do colega. A conversa foi tão gostosa que esqueci o tempo e, quando dei conta de que deveria levar a carne para o almoço, eram 11:30 horas. Sai em disparada e, ao chegar em casa, fui recebido com uma bela surra. Minha namorada nunca soube desse fato.
Ter muitas namoradas às vezes dá problemas. Antes de servir ao Exército (eu tinha 17 anos), eu estava com cinco namoradas. Era uma para cada bairro (Bodocongó, Zé Pinheiro, Palmeiras, Monte Santo e Monte Castelo). Eu costumava ir ao cinema e sempre levava uma namorada diferente. Uma vez eu ia com a Célia, outra, com a Hilda, e assim por diante. Certa vez, resolvi ir ao Cine Capitólio com uma delas. Eu estava na fila para comprar os ingressos, quando, de repente, apareceu outra namorada. Foi um “ Deus nos acuda”: houve discussão e terminei perdendo as duas e voltando para casa sem assistir ao filme. Eu jamais esperava que aquilo chegasse a acontecer. Dias depois, a Hilda pediu para reatar o namoro, mas eu não quis. Para mim, namoro acabou, não havia mais clima para recomeçar.
Todas as vezes que eu ia ao Cine Capitólio, o porteiro olhava para mim e fazia um sorriso irônico, como se estivesse a dizer: e agora, já tomou vergonha na cara? Talvez ele nem estivesse com este pensamento, mas era o que eu pensava. É tanto que eu sempre evitava ir àquele cinema, preferindo o Cine Babilônia, que ficava mais abaixo, na mesma rua. Aliás, eu nunca imaginaria que namorando meninas de bairros tão distantes, um dia elas viessem a flagrar aquilo que muitos chamavam de “traição”, mas que eu preferia chamar de “aventuras”.
Apesar da educação rígida, eu sempre aprontava. Muitas vezes eu mentia para minha mãe, dizendo que ia ao cinema, quando na verdade eu ia mesmo era jogar futebol. Para isso, eu levava escondido o material necessário. Certa vez, eu disse que ia ao Cine Avenida e fui jogar futebol no campo do “Cova da Onça”. Quando terminou o jogo, alguém havia roubado os meus sapatos que meu pai havia comprado e que eu calçara pela primeira vez. Isso foi horrível. Eu me escondi num matagal com a intenção de, no dia seguinte, fugir para bem longe. Meu pai saiu à minha procura juntamente com os vizinhos. Lembro que minha vó, que estava passando uns dias conosco, gritava quase chorando: “Volte, Adalbertinho! Volte, meu filho”. Eu fui encontrado e levado para casa sob a promessa de que não seria castigado pelo ato praticado.
Quando eu fui jogar no Vasco da Gama, do Monte Santo, “seu” Silva, Diretor de Futebol, sempre lembrava aquele acontecimento dizendo: “volta, Adalbertinho”. Por sinal, algumas pessoas passaram a falar comigo dessa maneira. Não era uma provocação, mas uma maneira carinhosa que essas pessoas acharam para falar comigo. Por sinal, eu era muito querido por todos no clube, pela maneira como meus pais me educavam. Outro fator que me favorecia era que minha família dava exemplo de uma família bem estruturada.
Naquela época, conheci o Salomão, um rapaz que fora seminarista e que se destacava como um verdadeiro craque. Ele pertencia a uma família pobre, mas tinha um caráter invejável. Seu pai vendia água nas casas, conduzindo um “galão” com duas latas, num verdadeiro sofrimento. Seu irmão, o Bastinho, era mecânico. Salomão, por sua vez, trabalhava num armazém que comercializava couro. Estudante do Colégio Estadual da Prata, muitas vezes, antes de ir para o colégio, ele passava em nossa casa onde jantava conosco.
Salomão jogava no Estudantes, um time muito bom, composto por jovens talentosos. Ocupando a posição de médio-volante, Salomão era peça indispensável no time e sua ausência fazia grande diferença. Vascaíno de coração, ele costumava dizer que seu maior sonho era vestir a camisa do Vasco da Gama. Brincando com ele, eu respondia: “É muito fácil. Venha pra cá que tem vaga pra você no nosso time.”
Salomão cresceu merecidamente no futebol: foi para o Centro Esportivo Campinense Clube, de onde saiu para o Clube Náutico Capibaribe. De lá, transferiu-se para o Santos Futebol Clube, de onde foi para o Clube de Regatas Vasco da Gama, realizando o seu grande sonho. Formou-se em medicina e abandonou o futebol no auge de sua carreira. Foi um dos maiores volantes do futebol brasileiro.
Lembro que certa vez, em conversa com alguns amigos, na cidade de Patos, na Paraíba, falei sobre a amizade que tinha com o jogador Salomão. Foi uma gozação geral. Ninguém podia acreditar que eu conhecesse um jogador tão famoso. Um dia, o Centro Esportivo Campinense Clube foi jogar em Patos, contra o Esporte, no campo do Colégio Estadual. Eu via alí uma oportunidade para calar aquelas pessoas. Fui até o Hotel Santa Terezinha, onde o Campinense estava hospedado e convidei o Salomão para almoçar em minha casa. O técnico Buarque Gusmão deu a permissão para a visita, mas exigiu que o atleta voltasse ao hotel para o almoço.
Eu estava bastante feliz. Saí com Salomão desfilando pelo centro da cidade e, à proporção em que encontrava os colegas, apresentava o craque como meu amigo. Salomão bastante simpático, embora um pouco tímido, dava toda a atenção às pessoas a quem eu o apresentava. Minha maior alegria era ver no rosto de cada amigo um sinal de admiração. Talvez eles até pensassem intimamente: “Pois não é que eles são amigos mesmo!!!”. Depois daquele dia, ninguém mais teve a ousadia de duvidar de mim e quando os jornais publicavam matérias com Salomão, sempre aparecia alguém para mostrar-me o jornal dizendo: “Olha aqui, Adalberto! Saiu uma reportagem com teu amigo!”.
Aí está o meu amigo Salomão (o segundo da esquerda para a direita), quando atuava no Santos Futebol Clube. Depois, ele foi para o Vasco, o clube do seu coração.
Cheguei na cidade de Patos no início do ano de 1960, quando fui licenciado do Exército. A viagem foi uma aventura. Eu e meu pai saímos de Campina Grande de trem. Aliás, foi a primeira vez na vida que utilizei aquele meio de transporte. Fiquei meio temeroso, pois os vagões se jogavam de um lado para o outro, dando a impressão de que ia sair dos trilhos. Em Patos, fiquei alguns dias hospedado no hotel Santa Terezinha, de um cidadão conhecido como Vicente. O hotel ficava a uns cem metros da estação ferroviária.
Para mim, aquilo tudo era muito estranho. A primeira diferença foi a temperatura. Para quem estava acostumado com os 20ºC de Campina Grande, enfrentar os 38º de Patos não era brincadeira. Depois, veio o tamanho da cidade e as opções para os finais de semanas. Em Campina Grande o número de campos de futebol, cinema, boates, praças e outras opções era bem diferente de Patos, cidade onde o domingo se transformava num verdadeiro deserto. Para mim, não poderia existir castigo maior.
As coisas melhoraram quando passei a trabalhar na firma Anderson & Clayton, uma multinacional especializada na fabricação de óleo comestível e sabão. Eu era responsável pela conferência das cargas que ali chegavam: pesava todas as cargas e conferia os produtos (algodão e caroços de algodão), para depois liberar os veículos. Era um serviço legal e tudo ia às mil maravilhas, até que veio uma ordem da matriz para demitir alguns funcionários, com prioridades para os mais novos. Eu estava entre eles.
Em 1962, iniciei minha vida radiofônica, na Rádio Espinharas de Patos, na época, a única existente na cidade de Patos, na Paraíba. Luiz Pereira (chefe dos locutores) e José Augusto Longo da Silva acharam que meu nome não era muito legal para o cargo que ocuparia. Resolveram optar por Carlos Alberto, como um nome artístico. De início achava ridículo quando alguém me chamava por este nome. O tempo fez com que me acostumasse.
Naquela época, a Rádio Espinharas, que pertencia ao então Senador Drault Ernani de Melo e Silva, tinha como gerente o Sr. Maurício Leite, que não era lá essas coisas mas dava para se tolerar.
Não ganhava bem mas, na falta de outra opção, o jeito era levar as coisas com paciência. Com a saída do Maurício e a chegada de um novo gerente, o Sr. Rackson Torres, a situação mudou. Apesar das falhas administrativas, Maurício Leite era bem mais humano. Uma simples discussão com o novo diretor, levou-me a sair da empresa.
Apesar de trabalhar em uma emissora de rádio, a única da cidade, eu não era muito conhecido. Aliás, o meu trabalho ainda não era tão valorizado. Os programas que apresentava não eram famosos. Daqueles que levam você ao ponto culminante da profissão. Mas isso não me preocupava. Como profissional, eu era muito ingênuo para saber o que era estar em alta com o IBOPE.
Sem emprego, a única saída era aceitar os conselhos de meu pai para trabalhar com ele numa oficina de fundição, lá mesmo, na cidade de Patos. Era um trabalho duro, muito diferente de estar diante de um microfone. Agüentei até 1969, quando fui chamado para trabalhar na Difusora Rádio Cajazeiras, na cidade de Cajazeiras, também na Paraíba.
Ali, tive como diretores os senhores Mozart e José Adegildes. Uma das primeiras orientações recebidas foi não visitar a outra emissora. É que eles alimentavam uma “guerra” pessoal anti-profissional, que não fazia parte dos meus ideais. Eu sempre fiz amizades com todos os colegas que integravam o mundo das comunicações e achei aquilo ridículo e anti-ético.
Indiferente às advertências, resolvi fazer uma visita aos colegas da outra emissora. Por sinal, ao saberem onde eu trabalhava, eles ficaram um tanto espantados e perguntaram se eu não sabia que os funcionários da Difusora Rádio Cajazeiras eram proibidos até de passarem pelas calçadas daquela rádio. Respondi que sabia, mas que não estava ali para “comprar” as brigas dos diretores, mas para estar de bem com os colegas.
No dia seguinte, fui “convidado” a comparecer à Direção da empresa para explicar a minha atitude, para os diretores, desafiadora. Eu disse apenas que, como profissional, preferia agir assim a aceitar os caprichos de quem pensa que audiência se conquista com intrigas e com concorrências desonestas e desastrosas.
A partir daquele dia, eu fui perseguido de forma sucinta, fato este que me fez optar por um pedido de demissão. Trabalhar com pessoas que não sabem o que significa profissionalismo não é tarefa fácil. Aliás, um dos fatos que me fez diferente foi o respeito aos meus colegas jornalistas, independente da empresa a que eles pertenciam. Para mim, o companheirismo é fator primordial para o crescimento profissional. Foi assim que eu sempre fui respeitado pelos colegas.
Desempregado, tive que voltar ao trabalho duro da fundição. Somente em 1973 resolvi enfrentar a vida árdua de jornalista, retornando à Rádio Espinharas, na época dirigida pelo Cônego Joaquim de Assis Ferreira (Padre Assis). Eu havia passado num teste que fizera na Rádio Cariri de Campina Grande, mas preferi continuar em Patos. Por isso, aceitei ao convite que me fora feito pelo Padre Assis.
Meu nome explodiu e a fama apareceu como que por encanto. Assim, fui convidado a integrar os quadros da Emissora Rural a Voz do São Francisco, em Petrolina. Ali, exerci a função de Redator e Locutor e, como tinha bastante experiência no esporte, fui, de imediato, convidado por Teones Batista, para fazer parte do Departamento Esportivo.
Em Petrolina, integrei também os quadros de árbitros da Liga Petrolinense de Desportos, atuando em grandes clássicos como árbitro central. Minhas boas atuações me levaram a apitar uma partida decisiva do campeonato de Juazeiro da Bahia, entre Carranca X Veneza. Foi a minha consagração. Motivo para que passasse a ser respeitado naquela região, deixando o meu nome como “marca registrada” no futebol de Petrolina e Juazeiro.
Voltei a Patos para dirigir o Departamento de Jornalismo da Rádio Panati, onde permaneci até ser convidado para retornar à Rádio Espinharas de Patos, onde exerci a mesma função. Ali também fiz parte do Departamento Esportivo, comandado pelo saudoso Edleuson Franco de Medeiros, fazendo dupla com o também saudoso Juarez Farias. Nós éramos a “menina dos olhos” do Edleuson.
Com a implantação da Rádio do Grande Rio, os diretores sonhavam com uma equipe impecável para fazer frente à Emissora Rural (Petrolina) e a Rádio Juazeiro (Juazeiro da Bahia) que, diga-se de passagem, eram dois ossos duros de roer. Daí, a escolha de dois nomes para integrarem os quadro de Jornalismo: Juarez Farias e Adalberto Pereira. Graças a Deus, ganhamos a audiência pela nossa competência profissional.
A situação da Rádio da Grande Serra, em Araripina, Pernambuco, não era das melhores. A emissora estava “atolada” até o pescoço e, para tirá-la do fundo do poço, o Dr. Geraldo Coelho convidou-me para assumir a direção da empresa. Uma tarefa árdua e, para muitos colegas, impossível.
Aceitei o desafio. Os primeiros dias foram terríveis. Precisava a todo custo, tirar alguns costumes de funcionários acostumados com a “baderna” ali existente. Algumas reuniões e a aplicação de disciplina com advertências e suspensões, fizeram com que as coisas fossem se normalizando. O que era impossível, aconteceu: a empresa saiu do vermelho e passou a trabalhar com lucros impressionantes.
Se isso foi ótimo para a empresa, para mim não passou de sofrimento e angústia. Algumas pessoas passaram a perseguir-me, inclusive pessoas de fora, que nada tinham a ver com a Rádio. Entre essas pessoas estava o Sr. João Ramos que, por não ter conseguido manipular a minha administração, passou a perseguir o meu trabalho.
Uma coisa que eu desconhecia era que o Dr. Geraldo Coelho era dessas pessoas que, como diziam alguns amigos meus, “emprenham pelos ouvidos”. Ele ouvia as mentiras do cidadão e acreditava como se elas fossem verdades. Embora a Rádio da Grande Serra estivesse indo muito bem e com uma programação inovadora, inclusive com duas locutoras: Suely Gomes e Magda Silvana (fato inédito em toda a história da emissora), e profissionais cuidadosamente escolhidos e contratados, nada impediu a minha demissão.
Era questão de honra para Francisco Fernandes, o grande protegido de Aloísio Gomes, colocar Iveraldo Nascimento na direção da Rádio da Grande Serra. Para isso, formaram um complô contra a minha pessoa, culminando na minha demissão. Essa verdade foi confirmada com a imediata ascensão do Iveraldo.
Não sei se por incompetência ou negligência do novo Diretor, a empresa passou a apresentar quedas nos lucros e, segundo foi constatado por auditores do grupo Coelho, o prejuízo girou em torno de 50 mil cruzeiros (moeda corrente na época). O Diretor foi obrigado a se demitir para não ser indiciado.
Castigo ou não, acredito que eles devem ter se arrependido por acreditarem nas palavras de pessoas irresponsáveis. Afinal, tirar um profissional que mudara o conceito negativo da empresa, dando-lhe credibilidade junto à comunidade e resgatando o respeito perdido pela incapacidade administrativa de alguém e colocar uma pessoa inexperiente e incompetente para o cargo, não deixa de ser uma atitude mesquinha e anti-ética, que só poderia ter sido tomada por pessoas alheias à realidade de um veículo de comunicação.
Certa vez encontrei-me com Iveraldo Nascimento, na Rodoviária de Petrolina. Por coincidência, viajamos no mesmo ônibus (Viação Progresso) com destino à Araripina. Durante a viagem, falamos sobre a saída dele da direção da Grande Serra. Mesmo sabendo os motivos da demissão do colega, arrisquei a pergunta: “Você vai sair assim, de graça? Por que você não mete a empresa na justiça para mostrar que você é um homem de respeito e de uma idoneidade inabalada?”. Ele simplesmente respondeu que “não queria criar problemas com a empresa”, preferindo sair “numa boa”. Eu tive vontade de dar uma gostosa risada, mas me contive e deixei que ele pensasse que eu acreditava na sua justificativa.
Num encontro casual que mantive com a Maria das Graças (do Departamento Pessoal da Rádio da Grande Serra), nos corredores da Faculdade de Formação de Professores de Araripina, esta perguntou se eu sabia o que havia acontecido com o colega Iveraldo Nascimento. Eu disse que não e que estava totalmente por fora do que ocorria naquela empresa. Detalhadamente ela falou: “Pois bem, Iveraldo pagou caro o que ele fez contigo. Os homens chegaram lá na rádio e imprensaram ele na parede pra ele dizer onde estava o dinheiro da rádio. Eles disseram: ‘onde está o dinheiro da rádio, seu ladrão?’. Olha, Adalberto, foi humilhante, só tu vendo como ele ficou.”
Acreditar nas palavras da Graça era uma coisa a se pensar. Mesmo porque ela, durante a minha gestão, havia embolsado o dinheiro que a Madame Marily havia pago e que fora deixado por mim em sua mesa de trabalho, local em que somente nós dois tínhamos acesso. Além disso, ela havia passado alguns recibos “frios” para clientes, sem prestar contas à empresa. Por isso, ela foi chamada a atenção e só não a demiti em consideração a sua filhinha, de menos de um ano, uma vez que ela dependia do emprego para sustentar a casa.
A grande verdade é que o rádio deu-me muitas alegrias, mas também foi motivo de grandes decepções, principalmente quando tive que enfrentar “patrões” incompetentes, daquele tipo de gente que tem dinheiro para comprar uma concessão, mas não tem inteligência para administrar uma empresa da área de comunicação. Eu os considero como autênticos “penetras”. Sou da opinião de que o rádio deveria estar nas mãos de quem conhece os segredos que envolvem os meios de comunicações.
Foi com grande tristeza que deixei a profissão que eu mais amava e que mais me deixava orgulhoso como profissional. Afinal, foram mais de 25 anos de trabalho, sempre fazendo o possível para fazer o melhor, olhando os meus ouvintes como o alvo principal. Foi assim que recebi, por dois anos consecutivos (1982 e 1983), o título de “Melhor Redator do Ano”. Foi assim que recebi o título de “Cidadão Patoense”. Foi assim que fiz grandes amigos e que deixei saudades por onde passei.
Apesar de tudo, ainda guardo alguns fatos interessantes na lembrança. São fatos até certo ponto engraçados, como um que envolve “Ferré”, proprietário de um bar no final da Avenida Epitácio Pessoa, e Firmino, um jovem guitarrista do conjunto “Z-7”.
Firmino fazia seus lanches no bar do “Ferré” e pagava no final de cada mês (quando pagava). O débito estava acumulado em 20 cruzeiros (moeda da época). Certo dia, Firmino ia com a namorada e quando viu, de longe, “Ferré” na porta do bar, tentou levar a moça por outra rua, mas como ela insistiu em ir por ali, perguntando por que ele evitava aquele trajeto, o jeito foi enfrentar o velho “credor”.
Para não ser visto pelo “Ferré”, Firmino colocou a namorada no lugar oposto e, por todo o trajeto, tentou se esconder do dono do bar. Não teve jeito. Do outro lado da rua, “Ferré” gritou: “Firmino! E aqueles 20 cruzeiros?”. Sem pestanejar, Firmino respondeu: “Não se preocupe, Ferré, depois você me paga!!!”. E, virando-se para a namorada cochichou: “Coitado! Ele me deve 20 cruzeiros e eu não tenho coragem de cobrar...”
O Bar do “Ferré” não era muito higiênico. Vez por outra, as baratas corriam pelos cantos das paredes, fazendo com que os “fregueses” mais freqüentes chamassem a atenção do proprietário, que sempre levava aquilo na brincadeira.
Firmino entrou no bar, sentou-se em uma das meses próximas da parede (propositadamente), pediu uma vitamina de abacate e uma fatia de bolo fôfo. Como as vitaminas eram feitas e guardadas durante vários dias, o pedido do Firmino não demorou muito. Depois de tomar quase todo o conteúdo do copo, Firmino pegou uma baratinha nova e, num movimento rápido, colocou-a dentro do copo. Foi aí que ele chamou o “Ferré”:
- Êi, Ferré! Venha aqui! Rápido, Ferré! Venha aqui correndo!
“Ferré” foi até à mesa onde estava o Firmino e perguntou o que tinha acontecido que ele o chamava com tanta insistência, ao que Firmino respondeu:
- Veja! Tem uma barata dentro da vitamina e eu só vi agora, quando já estava terminando o meu lanche. Isso é uma seboseira, “Ferré”! Eu não vou pagar por isso, vou?”.
Olhando firme para Firnimo, “Ferré” disparou:
- Pra cima de mim, Firmino! Essa vitamina tem quinze dias. Como é que essa barata ainda está viva?! Vai logo pagando a conta, garoto, que eu posso ser tudo, menos besta!”
A cidade de Patos, na Paraíba, foi e sempre será palco de histórias fascinantes e uma delas é a do barbeiro João da Cruz, um cidadão semi-analfabeto que, ao terminar de tirar a barba do cliente fazia a seguinte pergunta: “Qué áico, táico ou qué qui múi?”.
Esse comportamento chamou a atenção de colegas da época, que resolveram fazer uma marchinha de carnaval, apenas para a diversão da “turma da gozação”. A música ficou assim: “Qué áico, táico ou qué qui múi? É esse o lema do barbeiro João da Cruz”. O pior é que a turma resolveu cantar bem em frente à barbearia do homem, que ficou uma fera e botou todo mundo pra correr, ameaçando-os com uma navalha.
Há fatos que não conseguimos esquecer. Um exemplo disso foi o trágico acidente ocorrido na localidade conhecida como “Serrotão”, próximo ao bairro de Bodocongó, em Campina Grande, envolvendo o avião da Loyde Aéreo, prefixo PP-LDX. O avião procedia do Recife com destino à Fortaleza, com conexão em Campina Grande. Eram mais ou menos 19:30 horas (não lembro o dia e o mês), provavelmente no ano de 1958, quando o referido avião sobrevoou a cidade por várias vezes, por não conseguir localizar o aeroporto João Suassuna. O piloto resolveu arriscar uma aterrissagem forçada. Tudo ia às mil maravilhas quando o aparelho foi ao encontro de uma grande pedra que estava entre a mata. Os dois motores e mais duas outras partes do aparelho ficaram em lugares diferentes. Várias pessoas morreram. Outros passageiros saíram ilesos. Esse fato ficou registrado na história daquela cidade paraibana. Eu fiquei impressionado ao ver, pela primeira vez em minha vida, um avião naquelas condições. Dizem que no local foi construída uma capela.
Em Patos, onde cheguei logo após sair do Exército, fiquei surpreso com um fato inédito, pelo menos para mim: nomes estranhos de jogadores de futebol (amadores e profissionais). Veja esta lista: Pistola, Banana, Tripa, Farinha, Buchada, Canário, Colher, Cocada, Chico Garrote e João Grilo. Por sinal, os amigos costumavam dizer que Patos era a única cidade onde se podia encontrar um locutor gago e um mudo que falava. Eles se referiam ao locutor esportivo Edleuson Franco (narrador esportivo da Rádio Espinharas), e a uma figura folclórica conhecida como “o mudo do cinema” (um cara que trabalhava no antigo Cine El Dorado). Este cinema estava localizado na Av. Pedro Firmino e era lá onde se apresentavam os grandes cantores que por ali passavam (Nelson Ned, Duo Ciriema, Caubi Peixoto, Waldik Soriano, entre outros).
Também guardo na memória outros nomes estranhos como: Tempestade, goleiro do Treze Futebol Clube; João Pipoca, goleiro do Humaitá, de Bodocongó; Arrepiado, também jogador do Treze Futebol Clube de Campina Grande.
Foi em Campina Grande onde eu tive meu primeiro contato com o mundo da política. Eu tinha, na época (1957/58), quando, de passagem pela residência do Sr. Severino Bezerra Cabral, na Rua Getúlio Vargas, resolvi entrar. O portão estava aberto e na varanda da casa, estava D. Anita Cabral, bem sentada numa cadeira. Perguntei pelo Sr. Severino Cabral e ela indicando a porta que dava acesso à sala, mandou que eu entrasse e me dirigisse até a cozinha, onde o encontrei diante de um saboroso cuscuz de milho e uma vasilha com leite. Gentilmente, ele mandou que eu me servisse. “seu” Cabral era assim mesmo: atencioso e cortês, apesar de ser analfabeto nato.
A partir daquele momento, passei a participar de todos os comícios de Cabral, candidato a prefeito de Campina Grande. Por sua estatura e pela maneira de andar sem muita elegância, ele recebeu o apelido de “pé de chumbo”. Aliás, um apelido que o acompanhou durante toda a sua campanha.
Eu jogava no Vasco da Gama, time que representava o bairro do Monte Santo e tinha apenas 17 anos de idade. O Sr. Silva, Diretor de Futebol do Vasco, sabendo eu era bem próximo de Cabral, pediu que pedisse alguma ajuda para o clube. Falei com ele que, de imediato, foi comigo até a “Casa dos Esportes”, onde autorizou a compra de todo o material do Vasco, inclusive duas bolas novinhas. A entrega foi feita num sábado à noite, durante reunião na sede do clube. Foi uma verdadeira festa com a presença de Cabral.
Foi uma campanha bastante acirrada. Era um candidato “matuto”, um verdadeiro “pé de chumbo”, contra Newton Rique, dono do Banco Industrial de Campina Grande. Cabral fazia passeatas nas poeiras das antigas ruas da cidade. Newton Rique, ao contrário, fugindo das poeiras, fazia carreatas. Ganhou o “pé de poeira”, o “matuto”, o “pé de chumbo”, mostrando que a humildade é um dos pontos que conduzem um candidato à vitória.
Só voltei a ver Severino Cabral quando eu estava no Exército. Eu integrava a banda marcial quando, no dia 7 de setembro de 1960, estávamos em forma e ele, juntamente com o tenente-coronel Otávio Ferreira de Queiroz, comandante do BSvE, passou em vista a nossa tropa, momentos antes de ser iniciado o desfile, que percorreria parte da rua Monte Santo, rua das Areias até a Praça da Bandeira, onde estava o palanque oficial, com as autoridades campinenses, entre elas o prefeito Severino Cabral e sua mulher, D. Anita Cabral. O palanque ficava próximo aos Correios e Telégrafos.
Houve época em que eu resolvi brincar de compositor. Foi aí que fiz umas músicas para participar de um Festival de músicas carnavalescas. Eu tinha um amigo chamado Baiano e, certo dia, em época de carnaval, nós fomos ao Comercial Campestre Clube, onde seria realizado um “grito de carnaval”. Ao sair de casa, olhei para minha mulher e disse: “querida, até quarta-feira!”. De imediato, Baiano disse: “porque você não faz uma música com esse título?”. Olhei para ele e respondi: “não fale comigo por um instante, que eu vou fazer a música!”. Menos de meia hora depois estava pronta. Fiz um leve sorriso e Baiano desconfiou que eu havia terminado a música. Foi então que ele perguntou: “já posso falar?”. Eu disse que sim e cantei a música, que ficou assim:
ATÉ QUARTA-FEIRA
Meu bem, até quarta-feira,
Não vá se preocupar,
Eu volto de qualquer maneira,
Na quarta-feira pode me esperar (meu bem) (2 x)
O domingo é da lourinha,
A segunda de quem aparecer,
A terça é da moreninha,
Na quarta-feira eu volto pra você (meu bem).
Ao chegarmos no Campestre, Baiano foi falar com o maestro Saraiva, dizendo-lhe que eu tinha uma música que poderia fazer sucesso. Sem que eu esperasse, lá para o meio do baile, Saraiva tomou microfone e me convidou a subir ao palco para cantar a minha música. Até que as pessoas gostaram e cantaram comigo. Empolgado, inscrevi esta música no Festival e me saí muito bem com um honroso terceiro lugar. Mas como cada compositor era obrigado a inscrever três músicas, fui obrigado a “queimar as pestanas” e fazer outras duas: “A marcha da peteca” e “Saudades dos carnavais”, que ficaram assim, pela ordem:
A MARCHA DA PETECA
Como é chato o velho careca, só veio atrapalhar meus planos,
Jogou fora a minha peteca, sem respeitar os seus sessenta anos.
Careca, careca, devolva a minha peteca!
Careca, careca, eu quero a minha peteca!
O que é que eu vou fazer com esta confusão
Para brincar o carnaval?
Eu tenho que fazer outra peteca para jogar no velho careca.
Careca, oh, velho careca, devolva a minha peteca!
Careca, oh, velho careca, eu quero a minha peteca!
-x-x-x-x-x-x-x-x-
SAUDADES DOS CARNAVAIS
Ai quem me dera os carnavais passados
Das lindas fantasias, dos mascarados!
Onde estão o Pierrot e a Colombina,
Os blocos pelas ruas, os confetes e serpentinas.
Quantas saudades guardo comigo,
Tempos passados que não voltam mais;
Os anos passam e eu não consigo
Matar minhas saudades dos velhos carnavais.
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Como era muito fácil e bem gostosa de cantar, a música “Até quarta-feira” se transformou em marchinha de salão, como eram conhecidas as músicas consideradas simples e de mensagens rápidas. Eram músicas que se cantava até sem acompanhamento.
A música “Saudades dos carnavais” foi apresentada ao cantor Altemar Dutra, quando de sua passagem por Patos. Ele gostou bastante e pediu minha autorização para gravá-la. Como ainda estava longe do carnaval, comprometi-me de mandá-la na época em que começassem as gravações das músicas carnavalescas. Infelizmente, Altemar Dutra morreu sem que eu tivesse a honra de ter minha música gravada por ele. Coisas do destino.
(Aguardem a continuação.....)
CORRERIA NO CEMITÉRIO
Eu estudava no Colégio Estadual da Prata (Campina Grande) e numa terça-feira, aproveitando a ausência dos pais de Carminha, minha namorada, residente na
Rua Ceará, “queimei” as últimas aulas para encontrar-me com a garota, em sua residência que ficava em frente ao cemitério do Carmo. Estávamos no “terraço” da casa dela quando notamos uma movimentação na rua. Algo estranho estava acontecendo e, curioso como sempre fui, procurei saber o que estava causando tanto tumulto.
Ao sair para a calçada deparei com Alcides (um dos responsáveis pelo “campo santo”. Perguntei o que acontecia e fiquei sabendo que se tratava de um sepultamento. Mas, sepultamento à noite! Fiquei atônito. Olhei para o relógio e vi que eram 21:30 horas. Disse para a Carminha que me esperasse e saí em disparada. Queria saber de todos os detalhes. Mas o que Alcides me disse foi apenas que se tratava de um caso especial e que o sepultamento teria que ser urgente.
Não pensei duas vezes e entrei no cemitério. Afinal, era a primeira vez (e não sabia se teria outras) que participava de um funeral noturno. Deveria ser romântico. Acompanhei algumas pessoas, em sua maioria curiosos, até chegar ao local do sepultamento. Uma cova próxima ao muro das casas da rua Olegário Maciel, quase em frente ao necrotério. Para quem não sabe, necrotério é um local onde se colocam os mortos sem parentes, para um posterior sepultamento.
O coveiro ainda terminava de cavar a sepultura quando uma moça, despertada pelo barulho das pessoas e das ferramentas do coveiro, subiu ao muro de sua casa (o cemitério do Carmo é cercado de casas por todos os lados) e, ainda de camisola, gritou espantada: “Quem foi que morreu, héim?!”.
Foi uma correria sem precedentes. As pessoas se espalharam por dentro do cemitério apavoradas. Umas até gritaram por “socorro”. Um rapaz pisou numa cova e afundou um dos pés. Quanto mais ele gritava para que alguém o tirasse daquela situação incômoda, mais as pessoas corriam e gritavam. A moça, tentando entender o que estava acontecendo, pedia calma e dizia: “O que está acontecendo, gente? Eu estou viva. Eu moro aqui!”
Para não ser pisoteado, acompanhei aquelas pessoas e consegui sair do cemitério ileso, mas suado como tampa de chaleira. Cheguei à casa da namorada e pedi um copo com água. “Querida! Nunca vi coisa igual. Parecia uma guerra. Era gente pra todos os lados. As únicas pessoas que não correram foram o coveiro, a defunta e a moça do muro!”. Carminha ouvia tudo calada. Mesmo sem ter presenciado a cena, ela demonstrava estar com muito medo. Depois eu soube que ela dormiu no quarto dos pais.
OUTRA VEZ NO CEMITÉRIO
Aproveitando este acontecimento, vou contar-lhes outro fato que aconteceu no mesmo cemitério, cujo administrador era o Sr. João, casado com D. Ambrozina. Ela era mais conhecido como “João Coveiro”.
“Seu” João tinha um sobrinho, chamado de Cláudio, que costumava dormir no cemitério, aproveitando os túmulos vazios. Ele era um rapaz de cor branca, com pelo menos 80 quilos e gostava de tomar uma “pingas”, sem, no entanto, embriagar-se com facilidade.
Havia na cidade de Campina Grande um Vereador bastante querido, o Félix Araújo, assassinado nas proximidades da Mesa de Renda, pertinho da Prefeitura Municipal. A notícia da morte do Vereador abalou a cidade. Eu fiquei sabendo quando ia para a Rádio Borborema assistir ao programa “O Domingo Alegre”, apresentado por Leonel Medeiros.
Dias depois, o assassino foi encontrado. Tratava-se de João Alves de Brito, mais conhecido como “João Madeira”. Ele fora encontrado escondido no jardim da residência do Prefeito Plínio Lemos, e levado para a Cadeia Pública, que ficava por trás de minha casa.
Numa noite, a cela de João Madeira foi invadida por presos de outras celas e o assassino de Félix Araújo foi linchado ali mesmo. Há quem diga que alguém facilitara a invasão, abrindo as celas para que o crime fosse consumado. Os gritos foram ouvidos por grande parte dos moradores da Rua Monte Santo.
No dia seguinte, era grande a movimentação nas imediações da Cadeia Pública. Uma viatura da Polícia Militar levou o corpo de João Madeira, seminu, para o necrotério do cemitério do Carmo, onde Cláudio dormia tranqüilamente. Ele bebera acima da conta e nem notou que ali, bem pertinho dele, estava um defunto.
Era grande a quantidade de pessoas que se acumulavam dentro e fora do cemitério. Muitos escalavam uma parede para chegar até uma das janelas do necrotério, ansiosos para verem o defunto. Do lado de fora, uma fila era organizada pela polícia. De repente, a porta se abre e Cláudio aparece sem camisa e se espreguiçando.
Quem estava em cima do muro despencou como se tivesse sido empurrado por uma força estranha. Os que estavam na fila, ao verem a correria, nem esperaram para saber o que estava acontecendo: dispararam rua abaixo. Foi um momento de pânico dentro e fora do cemitério. Alcides ainda tentou acalmar a multidão, mas quanto mais gesticulava, mais era empurrado pela multidão descontrolada.
Eu passara a noite com muita febre. Mesmo assim, arrisquei chegar até o cemitério. Aliás, minha casa era bem próxima e não dava muito trabalho chegar até lá. Antes mesmo de me aproximar, senti que as coisas não estavam acontecendo dentro de sua normalidade. Voltei para casa às pressas antes de ser “massacrado” por aquela massa humana.
E você, o que faria numa situação idêntica? Pare um pouco e pense naquela cena. No seu pensamento, ocupe um lugar naquela parede ou até mesmo naquela fila e diga para você mesmo (a) qual seria a sua reação.
UMA NOITE COM UM CADÁVER
Bodocongó é um bairro de Campina Grande, conhecido até musicalmente: “Bodó-bodó-bodó-bodocongó, o meu barquinho tinha um remo só...”. Sempre aos domingos, pela manhã, lá estava eu à beira do famoso Açude de Bodocongó, para presenciar os atletas fazendo malabarismos em cima de skis, puxados por lanchas em alta velocidade. Nadadores profissionais se desafiavam nas travessias do açude. Eram momentos maravilhosos. Aliás, eu conhecia bastante aquele populoso bairro, uma vez que já jogara várias vezes no campo do Têxtil, contra o Humaitá de Icário, Lelé e Adaltinho, e contra o Madureira.
No quartel, nós tínhamos soldados para tudo, inclusive para disputas de natação. E foi numa manhã ensolarada de domingo que dois deles resolveram partir para um desafio: eles teriam que atravessar o açude, indo e retornando ao ponto de partida. Não se sabe se apostaram alguma coisa. Sabe-se apenas que na volta apenas um deles retornou. Alguém disse que vira quando uma pessoa acenava com uma das mãos pedindo socorro, mas não repetir o pedido pela terceira vez, o que tirava quaisquer possibilidades de tentativa de salvamento.
De imediato, o fato foi comunicado ao Comando do Batalhão de Serviços de Engenharia (BSvE), que deslocou alguns soldados para o local. Foram muitas as tentativas, sem resultados positivos. Somente três dias depois, numa terça-feira, é que um mergulhador conseguiu localizar o corpo do colega. Ele estava com uma das pernas presas entre algumas pedras numa parte não muito funda daquele açude.
No mesmo dia, o corpo foi preparado e levado para ser velado na Capela do cemitério do Carmo, ficando à disposição para visitas a partir da tarde e por toda a noite. O corpo, colocado no centro da Capela, foi acompanhado por uma guarda especial, da qual eu fiz parte. Fiquei de 14:00 às 16:00; de 20:00 às 22:00; de 24:00 às 02:00; e de 06:00 até a hora de saída do corpo para o sepultamento, que ocorreu por volta das 08:30 da manhã da quarta-feira.
Se você me perguntar qual a sensação de estar junto a um defunto, sozinho, durante a madrugada, eu responderia que, de início é uma sensação de desânimo, tristeza e receio. Muitas perguntas passam por sua cabeça: “já pensou se ele levantasse a cabeça e desse boa noite?”; “o que seria de mim se ele perguntasse o que estava fazendo ali, naquele caixão?”; “porque as horas não passam mais rápido, meu Deus?”.
Havia momentos em que eu olhava em direção à minha casa e pensava “lá com os meus botões”: “nesse momento meus pais e meu irmão estão num sono profundo, bem agasalhados, enquanto eu fico aqui, vigiando um defunto, como se fosse uma coisa de muito valor”. Minha casa ficava a poucos metros do cemitério do Carmo. Eu morava na rua Monte Santo, 82.
No dia seguinte, ao ver o sol raiar, nascia em mim uma sensação de alívio ao saber que muitas pessoas estariam ali para o sepultamento. Aliás, sepultamento de militar é diferente e chama a atenção das pessoas. É executado um toque de silêncio pelo corneteiro oficial e, em seguida, uma salva de vinte e um tiros (de festim, é claro). Depois, tudo fica por conta dos germes.
Mesmo sabendo que vida de militar não era um “mar de rosas”, eu sempre sonhei com o Exército Brasileiro. Quando criança, eu ficava boquiaberto quando via um desfile militar. Aquelas armas, os carros blindados, a cadência dos soldados com passos firmes. Tudo me levava ao delírio. A grande verdade é que eu sempre pensei em ser um oficial.
UMA ADMIRAÇÃO PELO RÁDIO
Quando somos crianças muitas coisas passam por nossa cabeça. Vejam que enquanto eu sonhava em fazer “carreira” no Exército, Deus reservava algo totalmente diferente: ser jornalista. Isso nunca passou por minha cabeça, embora eu fosse um participante assíduo dos programas da Rádio Borborema de Campina Grande.
Lembro com muitas saudades dos programas “Retalhos do Sertão”, apresentado todas as manhãs por Juracy Palhano e que contava com a participação dos poetas repentistas José Gonçalves e Cícero Bernardes, e do cômico “capitão Mané Coió”, que apelidou os poetas de “cupim” e “coruja”.
Aos domingos, eu tinha cadeira cativa no programa “Domingo Alegre”, apresentado por Leonel Medeiros e que contava com a participação da Orquestra Borborema, dirigida pelo maestro Nilo Lima, e do conjunto regional formado por Jaime Seixas (piano), Arlindo (pistão), Zé Maria (violão), Abdias (acordeão), além das cantoras Maria das Neves e Maria do Carmo.
No programa “Domingo Alegre” eram realizados vários sorteios, mas a grande sensação eram os bingos patrocinados pelo café São Braz. Para concorrer, era necessário juntar cinco pacotes vazios do café São Braz e trocá-los por uma cartela. Em um desses bingos eu ganhei uma cama de solteiro “patente faixa azul” (a melhor da época), um colchão, alguns produtos São Braz e uma foto da Martha Rocha, Miss Brasil. Foi uma alegria total.
Ainda aos domingos, pela manhã, sempre que podia eu assistia ao programa infantil “Clube Papai Noel”. Não lembro bem o nome do apresentador. Sei apenas que era um bom programa com a presença de muitas crianças, não faltando palhaços e diversas brincadeiras.
Naquela época, um grande profissional despontava no cenário artístico da rádio Borborema e, conseqüentemente, de Campina Grande: o cantor Genival Lacerda, um jovem magro que cantava músicas de Jackson do Pandeiro. Ele trouxe consigo duas características próprias: a munganga e o chapéu de abas curtas. No seu repertório incluíam-se as músicas “Mulher do Aníbal” e “Comadre Sebastiana”.
A Rádio Borborema também tinha seu “cast” de excelentes atores e atrizes, que participavam das novelas ali apresentadas. Nunca fui chegado a novelas, mas arrisquei assistir a alguns capítulos de “O Anjo Negro”, uma história baseada na escravidão. Lembro que foi uma novela cheia de grandes emoções. O garoto Benjamim Blay era uma das atrações daquela novela.
Outros nomes de profissionais da Rádio Borborema, pertencente aos Diários Associados, são inesquecíveis, entre eles destaco: Hilton Motta, Palmeiras Guimarães, os irmãos cantores Gilson e Geiza Reis, Genésio de Sousa, Temístocles Maciel, os cantores Geraldo Andrade, Ronaldo Soares, filho de Genésio de Sousa, e Silvinha de Alencar, que era titular do programa diário “A Estrela do Meio-Dia”.
Bonito mesmo eram os pastoris representados pelos “cordões” azul e encarnado. A disputa era ferrenha e lá estava eu torcendo e vibrando pelo “cordão” azul, a minha cor preferida. O ritmo era bastante convidativo. As pastoras, independente das cores que representavam, cantavam mais ou menos assim: “Boa noite, meus senhores todos, boa noite, senhoras também, somos nós as pastorinhas belas, que alegremente vamos a Belém”.
As pastorinhas eram bem vestidas. Suas vestes eram coloridas de azul e branco para as representantes do azul, e vermelho, e branco para as representantes do encarnado. À frente do azul ficava a “mestra” e à frente do encarnado ficava a “contra-mestra”. Entre as duas alas ficava a “Diana” que, como ela mesma cantava, não tinha partido. Não lembro as músicas mas ainda recordo o “grito de guerra” do azul: “Azul é o céu, azul é o mar, azul é a rainha que nós vamos coroar”.
As pessoas davam seus votos através de donativos. Cada cruzeiro representava um voto. Nós, torcedores do “cordão” azul fazíamos uma “vaquinha” para ajudar o nosso “partido”. Esta era a palavra usada pela “Diana” em sua cantata: “Sou a Diana, não tenho partido. O meu partido são os dois cordões. Eu peço palmas, peço fita e flores. Oh, meus senhores...”.
O programa humorístico mais ouvido naquela época era “A Escolinha do Nicolau”. Era interessante quando os atores entravam em cena, caracterizados, cantando a música da escola: “Na escola do Nicolau, nóis vai desaprender, alegre-gre-gre, cantando-do-do (...). Salva a escola ideal do ignorante Nicolau (do Nicolau), quem não quizé aprender, no fim do ano leva pau, pa-ra-ra-pa-pau, pa-pau”. Os personagens eram. Chico, um aluno ignorante que xingava sempre o professor; Bobozinho, um aluno ingênuo, que sempre fazia perguntas idiotas; Afreu, um aluno que sempre defendia o professor, aprovando tudo o que ele dizia; e Linda, uma aluna inteligente, que sempre corrigia o professor.
Também lembro do programa CLUBE DO PAPAI NOEL, apresentado aos domingos, pela manhã, com a presença de cantores mirins, entre eles os irmãos Gilson e Geisa Reis. Eram distribuídos muitos brindes entre as crianças presentes. O programa era repleto de atrações que levavam os presentes ao delírio.
Era assim a Rádio Borborema de Campina Grande. Seus programas eram espetaculares. Seu auditório sempre estava superlotado e grandes artistas eram revelados. Os apresentadores eram grandes profissionais, dignos dos maiores aplausos. Naquela época o rádio era feito com amor, dedicação e muito profissionalismo.
UMA PAIXÃO PELO FUTEBOL
O único clube de futebol de renome era o Treze Futebol Clube, conhecido como o “Galo da Borborema” e o maior narrador esportivo era Palmeiras Guimarães. Depois, surgiu o Centro Esportivo Campinense Clube, formado por pessoas da elite de Campina Grande e, por isso, passou a ser chamado de “O time aristocrático”, com o uniforme com as cores da Paraíba (vermelho e preto). Como o Treze era o “galo”, passaram a chamar o Campinense de “raposa”.
Minha vida em Campina Grande era bastante alegre. Quando não estava na Rádio Borborema, assistindo aos programas de auditório, estava jogando bola no campo denominado “cova da onça”. Entre os amigos da época, lembro muito bem do Antônio Correia, do galego Nivaldo, Zé Costa Barros, Zé Costa Lima, Nóca, Inácio Pelado (goleiro) e Edson. O Nóca morreu em um acidente automobilístico e Edson, vítima de tétano. Foram duas perdas que não consigo esquecer, por terem sido bons amigos.
Desses amigos, três chegaram a jogar comigo no Vasco da Gama do Monte Santo: Antônio Correia, Zé Costa Barros e Nivaldo. Zé Costa Lima formou-se em Direito (soube depois que ele havia morrido), e do Inácio “Pelado” não tenho notícias. Eram os bons tempos da minha adolescência.
Eu jogava no juvenil do Vasco e, certa vez, quando jogávamos contra o Madureira, num campo próximo ao “César Ribeiro”, fomos observados pelo treinador Sr. Guilherme e pelo Diretor de Futebol Sr. Silva. Eles precisavam de três jogadores para os aspirantes (2º quadro) do Vasco. No final do jogo, eu, Gringo e Raimundinho fomos escolhidos.
Meu primeiro jogo foi contra o Bangu, um time que representava o bairro “Casa de Pedra”. No final da partida, eu fui abordado pelo Sr. Guilherme que me disse: “Garoto, pegue o material com o roupeiro. Você vai jogar no time principal. Carboreto, o lateral direito está doente e você vai ter a oportunidade de substituí-lo”.
Aquela era uma grande reponsabilidade, uma vez que o jogador Carboreto (era este o apelido do jogador Arnaldo) era um atleta completo e estava sendo pretendido por outros clubes, pela sua versatilidade. Entrei em campo um tanto nervoso, principalmente ao saber que deveria marcar o jogador Josias (ponta-esquerda titular do Treze, que aproveitava os domingos de folga para jogar “pelada”).
Eu tinha apenas 17 anos e já era um atleta respeitado pela Diretoria do Clube. Por isso, fui escolhido para, no jogo entre Clube de Regatas Vasco da Gama (Rio) e Treze Futebol Clube, partida amistosa, entregar ao “capitão” Bellini, um troféu do seu co-irmão de Campina Grande.
Neste jogo fizemos a preliminar contra os aspirantes do Treze Futebol Clube e vencemos por 3 X 2. Nosso centro-avante Paulinho encheu os olhos dos Diretores do Vasco, que o convidaram para ir até o Rio de Janeiro, para fazer um “teste” no clube de são Januário. Disseram que o Paulinho treinou bem, mas não foi aprovado por motivos que desconheço.
Tivemos grandes adversários, mas os que mais nos deram trabalho foram o Leão do Norte, por ser do mesmo bairro, e o 15 de Novembro. Quando esses clubes se encontravam eram verdadeiros clássicos. Cito outros times difíceis, como: Humaitá e Têxtil, ambos do bairro de Bodocongó, e o Madureira.
Vendo-me jogar na preliminar de Vasco da Gama e Treze, o presidente do “galo da Borborema”, Sr. José Lira Braga, convidou-me para treinar no Presidente Vargas. Ele estava interessado em mim, mas eu era torcedor fanático do Centro Esportivo Campinense Clube, principal adversário do Treze, e não me sentiria bem vestindo a camisa de outro time, e muito menos a do Treze.
Ainda cheguei a treinar no Campinense Clube, mas nunca fui aproveitado pelo treinador Buarque Gusmão. Para mim, foi a maior frustração. Eu sempre sonhei em vestir a camisa 2 do Campinense, que na época tinha grandes jogadores. Ser o terceiro reserva já era uma grande vitória na minha vida como atleta. O importante era ser jogador do meu clube preferido. Como os sonhos nem sempre são realizados, temos que nos contentar com aquilo que o destino nos reserva. E o destino reservou-me o direito de ser jogador amador.
Campina Grande, a “rainha da Borborema”, oferece aos seus filhos o direito de se orgulhar por ter nascido numa cidade tão maravilhosa. Alí, tudo é lindo e maravilhoso: o estádio “Amigão”, construído no governo Ernani Sátyro; Os estádios “Presidente Vargas” e “Plínio Lemos”; o açude Velho; os cinemas “Capitólio”, “Babilônia”, “Avenida” e “São José”; são pontos inesquecíveis, tantas vezes por mim freqüentados na minha infância e adolescência. Jamais deixaria de dizer que sinto saudades do “Açude Novo”, outro motivo das minhas lembranças, que acharam por bem destruir.
Se Campina Grande não me deu a oportunidade que tanto sonhava: ser um jogador profissional, pelo menos me proporcionou outras oportunidades: a de conhecer uma nova realidade da vida servindo ao Exército Brasileiro; viver uma infância feliz, uma adolescência brilhante e um pouco de minha juventude junto de bons amigos; desfrutar das belezas naturais da cidade; e de conhecer excelentes bairros como Bodocongó, José Pinheiro, Monte Castelo, Palmeiras, Monte Santo, Quartel do 40, Liberdade e outros.
OS CONTATOS COM O MUNDO ARTÍSTICO
No mundo artístico, tive contatos com diversos cantores. Quando funcionário da rádio Espinharas de Patos, na Paraíba, eu apresentava o programa “O Domingo é Nosso”, onde divulgava os cantores da época (l973/79). Isso me aproximou do empresário “Pinga”, que sempre levava atrações para aquela cidade. Por conta dessa amizade, eu fui escolhido pelo empresário para entrevistar os cantores e apresentá-los nos seus shows.
Entre esses cantores, eu apresentei: Agnaldo Timóteo, Fernando Mendes, José Augusto, Teixeirinha, Paulo Sérgio, Roberto Leal, Ronnie Von, Perla, Roberto Carlos, Silvio Brito, Odair José, Altemar Dutra, Antônio Marcos, Sérgio Reis, Waldick Soriano e outros.
O “Pinga” tinha tanta confiança na minha pessoa que sempre que tinha um cantor para apresentar na cidade de Patos, ligava para mim, anunciando a data do show e pedindo que eu providenciasse local e propaganda. Ele apenas mandava os cartazes e eu escolhia os locais onde afixá-los. No dia do show tudo estava pronto. Na maioria das vezes, os espetáculos eram apresentados no Cine São Francisco, cujo gerente Almir, tornou.se um grande parceiro nosso.
Desses cantores citados, apenas o Roberto Carlos não se apresentou no Cine São Francisco, uma vez que ele fez algumas exigências quanto ao palco, que deveria ter determinadas medidas a fim de evitar uma possível invasão dos fãs. Este também foi um show onde eu tive que me apresentar em traje passeio formal, outra exigência do cantor. A expectativa de um número gigante de pessoas fez com que o show fosse apresentado no Estádio Municipal José Cavalcanti, no Bairro do Belo Horizonte.
O empresário “Pinga” também levou para a cidade de Patos o Clube de Regatas Vasco da Gama, que jogou contra o Nacional Atlético Clube. Um fato interessante a ser registrado foi a exigência que o Pinga fez para que eu atuasse naquela partida. Ao saber
que eu era árbitro de futebol, pertencente à Liga Patoense de Futebol, filiada à Federação Paraibana de Futebol, Pinga fez questão de ver-me atuando. Eu não poderia faltar ao amigo e formei o trio de arbitragem ao lado de Silvaneto Firmino e Mário Leitão.
No ano de 1974, nos meses de março e abril, a cidade de Patos recebeu, respectivamente os cantores Odair José e Fernando Mendes, levados pelo empresário “Pinga”. As apresentações, como sempre acontecia, tiveram como local o Cine São Francisco, sob a direção do Almir.
As duas apresentações marcaram época na cidade, pelo grande sucesso que ambos faziam com suas músicas bastante solicitadas pelos ouvintes da Rádio Espinharas.
Como jornalista, tive momentos de glórias e um deles foi quando recebi da Câmara Municipal de Patos, o título de “Cidadão Patoense”, numa deferência do Vereador Polion Carneiro, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Francamente, não esperava que uma cidade como Patos, tão importante no cenário político do estado da Paraíba, chegasse a prestar-me uma homenagem de tamanha significância. Isso fez com que nascesse dentro de mim um amor incomparável por aquela gente.
A Sessão Especial realizada no Patos Tênis Clube, com a presença das figuras mais importantes da região das Espinharas, marcou época na minha vida profissional. Foi realmente uma noite memorável, que culminou com um jantar no Hotel JK, oportunidade em que eu fui convidado a usar da palavra para os agradecimentos. Apesar de ter preparado um discurso para aquele momento, o improviso foi algo inevitável, devido as exigências das circunstâncias e da minha própria maneira de sempre querer dizer mais do que o previsto.
Documento expedido pela Câmara Municipal de Patos, confirmando o título de cidadania outorgado ao autor (Lei nº 1.219 de 10 de abril de 1978).
(Foto do autor discursando durante solenidade em que recebia o título de “Cidadão Patoense”, no Hotel JK, em Patos – Paraíba)
UM RETORNO À INFÂNCIA E À ADOLESCÊNCIA
Na minha infância, sempre fui um garoto tímido, mesmo porque fui educado com muita rigidez por minha mãe, principalmente. Aliás, meu pai só me bateu uma vez em toda a minha vida. Ao contrário, minha mãe era durona e qualquer falha cometida por mim, a palmatória entrava em ação. Eu não lembro se algum dia eu passei “em branco”, ou seja, se eu dei uma folguinha àquele maldito pedaço de madeira pintado de preto e que recebeu de minha mãe o nome “carinhoso” de maricota.
Mesmo sendo criado desta forma, eu sempre dei meus “pulinhos” quando estava longe dos olhos vigiadores de D. Eudócia. Quando eu era desafiado por alguém, sempre mostrava o meu lado de briguento. Foram muitas as vezes em que eu briguei com Mailton, um colega de classe, no Colégio Alfredo Dantas. Nosso palco era sempre o lado dos Correios e Telégrafos, na Praça da Bandeira.
Nossos colegas já estavam tão acostumados com nossas brigas que, durante as aulas, ficavam fazendo comentários que nos colocavam como desafiantes. Eles sempre diziam: “O Mailton disse que tá doido pra te pegar lá fora!”. Aquilo me irritava e fazia com que eu olhasse para ele e fizesse um jeito com a mão, como se estivesse dizendo: “espera a aula terminar que eu te pego!”. Era uma estratégia dos colegas que sempre dava certo. Vocês podem até perguntar quem saia vencendo nessa história. Eu diria que dependia muito da “inspiração” de cada um, ou seja, um dia eu batia mais, no outro batia menos.
Nas brigas com o Mailton havia uma certa vantagem: todas as vezes que eu batia mais nele, no dia seguinte ele, para reconquistar minha amizade, pagava o lanche na cantina de D. Júlia, uma negrinha franzina que vendia um pão com doce bastante gostoso.
Em parte, essas brigas trouxeram algumas vantagens para nós dois e uma delas estava na certeza de que éramos considerados os valentões do colégio e com a gente ninguém mexia.
Naquela época, nós gostávamos de, ao sair do colégio, ir até o edifício dos Correios e Telégrafos para usar o elevador. Aquilo tornou-se uma brincadeira diária, da qual participavam cinco estudantes e eu estava entre eles. Certa vez, quando estávamos no interior do elevador, faltou energia. Foi um Deus nos acuda. Nós gritávamos como um bando de malucos e chutávamos o elevador como se ele mudasse a situação. Depois que tudo voltou ao normal, saímos em disparada e nunca mais quisemos repetir a brincadeira. Eu tive que dar explicações a minha mãe sobre os motivos que me fizeram chegar tarde em casa. Recebi, como recompensa, uma surra daquelas que nem queiram imaginar.
Ainda cheguei a namorar a irmã do Mailton, cujo nome infelizmente não lembro. Sei apenas que ela era bastante bonita. Aliás, eu sempre escolhia meninas bonitas para namorar. A beleza feminina era indispensável para se estar de bem com a vida. Lourdinha, Célia, Maria do Carmo (Carminha), Hilda (a baianinha), Joana D’Arc, Selma, Ruth, Maria do Socorro (Corrinha), foram algumas das namoradas do meu tempo de adolescência, todas de uma beleza invejável.
Por falar em namoradas, lembro de um fato não muito confortável: minha mãe mandou que eu fosse ao açougue comprar carne para o almoço. Eram 09:00 horas da manhã e, por coincidência, o açougue ficava na rua Getúlio Vargas, justamente a rua onde morava o Mailton. Aproveitei e dei uma passadinha por lá para conversar um pouco com a mana do colega. A conversa foi tão gostosa que esqueci o tempo e, quando dei conta de que deveria levar a carne para o almoço, eram 11:30 horas. Sai em disparada e, ao chegar em casa, fui recebido com uma bela surra. Minha namorada nunca soube desse fato.
Ter muitas namoradas às vezes dá problemas. Antes de servir ao Exército (eu tinha 17 anos), eu estava com cinco namoradas. Era uma para cada bairro (Bodocongó, Zé Pinheiro, Palmeiras, Monte Santo e Monte Castelo). Eu costumava ir ao cinema e sempre levava uma namorada diferente. Uma vez eu ia com a Célia, outra, com a Hilda, e assim por diante. Certa vez, resolvi ir ao Cine Capitólio com uma delas. Eu estava na fila para comprar os ingressos, quando, de repente, apareceu outra namorada. Foi um “ Deus nos acuda”: houve discussão e terminei perdendo as duas e voltando para casa sem assistir ao filme. Eu jamais esperava que aquilo chegasse a acontecer. Dias depois, a Hilda pediu para reatar o namoro, mas eu não quis. Para mim, namoro acabou, não havia mais clima para recomeçar.
Todas as vezes que eu ia ao Cine Capitólio, o porteiro olhava para mim e fazia um sorriso irônico, como se estivesse a dizer: e agora, já tomou vergonha na cara? Talvez ele nem estivesse com este pensamento, mas era o que eu pensava. É tanto que eu sempre evitava ir àquele cinema, preferindo o Cine Babilônia, que ficava mais abaixo, na mesma rua. Aliás, eu nunca imaginaria que namorando meninas de bairros tão distantes, um dia elas viessem a flagrar aquilo que muitos chamavam de “traição”, mas que eu preferia chamar de “aventuras”.
Apesar da educação rígida, eu sempre aprontava. Muitas vezes eu mentia para minha mãe, dizendo que ia ao cinema, quando na verdade eu ia mesmo era jogar futebol. Para isso, eu levava escondido o material necessário. Certa vez, eu disse que ia ao Cine Avenida e fui jogar futebol no campo do “Cova da Onça”. Quando terminou o jogo, alguém havia roubado os meus sapatos que meu pai havia comprado e que eu calçara pela primeira vez. Isso foi horrível. Eu me escondi num matagal com a intenção de, no dia seguinte, fugir para bem longe. Meu pai saiu à minha procura juntamente com os vizinhos. Lembro que minha vó, que estava passando uns dias conosco, gritava quase chorando: “Volte, Adalbertinho! Volte, meu filho”. Eu fui encontrado e levado para casa sob a promessa de que não seria castigado pelo ato praticado.
Quando eu fui jogar no Vasco da Gama, do Monte Santo, “seu” Silva, Diretor de Futebol, sempre lembrava aquele acontecimento dizendo: “volta, Adalbertinho”. Por sinal, algumas pessoas passaram a falar comigo dessa maneira. Não era uma provocação, mas uma maneira carinhosa que essas pessoas acharam para falar comigo. Por sinal, eu era muito querido por todos no clube, pela maneira como meus pais me educavam. Outro fator que me favorecia era que minha família dava exemplo de uma família bem estruturada.
Naquela época, conheci o Salomão, um rapaz que fora seminarista e que se destacava como um verdadeiro craque. Ele pertencia a uma família pobre, mas tinha um caráter invejável. Seu pai vendia água nas casas, conduzindo um “galão” com duas latas, num verdadeiro sofrimento. Seu irmão, o Bastinho, era mecânico. Salomão, por sua vez, trabalhava num armazém que comercializava couro. Estudante do Colégio Estadual da Prata, muitas vezes, antes de ir para o colégio, ele passava em nossa casa onde jantava conosco.
Salomão jogava no Estudantes, um time muito bom, composto por jovens talentosos. Ocupando a posição de médio-volante, Salomão era peça indispensável no time e sua ausência fazia grande diferença. Vascaíno de coração, ele costumava dizer que seu maior sonho era vestir a camisa do Vasco da Gama. Brincando com ele, eu respondia: “É muito fácil. Venha pra cá que tem vaga pra você no nosso time.”
Salomão cresceu merecidamente no futebol: foi para o Centro Esportivo Campinense Clube, de onde saiu para o Clube Náutico Capibaribe. De lá, transferiu-se para o Santos Futebol Clube, de onde foi para o Clube de Regatas Vasco da Gama, realizando o seu grande sonho. Formou-se em medicina e abandonou o futebol no auge de sua carreira. Foi um dos maiores volantes do futebol brasileiro.
Lembro que certa vez, em conversa com alguns amigos, na cidade de Patos, na Paraíba, falei sobre a amizade que tinha com o jogador Salomão. Foi uma gozação geral. Ninguém podia acreditar que eu conhecesse um jogador tão famoso. Um dia, o Centro Esportivo Campinense Clube foi jogar em Patos, contra o Esporte, no campo do Colégio Estadual. Eu via alí uma oportunidade para calar aquelas pessoas. Fui até o Hotel Santa Terezinha, onde o Campinense estava hospedado e convidei o Salomão para almoçar em minha casa. O técnico Buarque Gusmão deu a permissão para a visita, mas exigiu que o atleta voltasse ao hotel para o almoço.
Eu estava bastante feliz. Saí com Salomão desfilando pelo centro da cidade e, à proporção em que encontrava os colegas, apresentava o craque como meu amigo. Salomão bastante simpático, embora um pouco tímido, dava toda a atenção às pessoas a quem eu o apresentava. Minha maior alegria era ver no rosto de cada amigo um sinal de admiração. Talvez eles até pensassem intimamente: “Pois não é que eles são amigos mesmo!!!”. Depois daquele dia, ninguém mais teve a ousadia de duvidar de mim e quando os jornais publicavam matérias com Salomão, sempre aparecia alguém para mostrar-me o jornal dizendo: “Olha aqui, Adalberto! Saiu uma reportagem com teu amigo!”.
Aí está o meu amigo Salomão (o segundo da esquerda para a direita), quando atuava no Santos Futebol Clube. Depois, ele foi para o Vasco, o clube do seu coração.
Cheguei na cidade de Patos no início do ano de 1960, quando fui licenciado do Exército. A viagem foi uma aventura. Eu e meu pai saímos de Campina Grande de trem. Aliás, foi a primeira vez na vida que utilizei aquele meio de transporte. Fiquei meio temeroso, pois os vagões se jogavam de um lado para o outro, dando a impressão de que ia sair dos trilhos. Em Patos, fiquei alguns dias hospedado no hotel Santa Terezinha, de um cidadão conhecido como Vicente. O hotel ficava a uns cem metros da estação ferroviária.
Para mim, aquilo tudo era muito estranho. A primeira diferença foi a temperatura. Para quem estava acostumado com os 20ºC de Campina Grande, enfrentar os 38º de Patos não era brincadeira. Depois, veio o tamanho da cidade e as opções para os finais de semanas. Em Campina Grande o número de campos de futebol, cinema, boates, praças e outras opções era bem diferente de Patos, cidade onde o domingo se transformava num verdadeiro deserto. Para mim, não poderia existir castigo maior.
As coisas melhoraram quando passei a trabalhar na firma Anderson & Clayton, uma multinacional especializada na fabricação de óleo comestível e sabão. Eu era responsável pela conferência das cargas que ali chegavam: pesava todas as cargas e conferia os produtos (algodão e caroços de algodão), para depois liberar os veículos. Era um serviço legal e tudo ia às mil maravilhas, até que veio uma ordem da matriz para demitir alguns funcionários, com prioridades para os mais novos. Eu estava entre eles.
Em 1962, iniciei minha vida radiofônica, na Rádio Espinharas de Patos, na época, a única existente na cidade de Patos, na Paraíba. Luiz Pereira (chefe dos locutores) e José Augusto Longo da Silva acharam que meu nome não era muito legal para o cargo que ocuparia. Resolveram optar por Carlos Alberto, como um nome artístico. De início achava ridículo quando alguém me chamava por este nome. O tempo fez com que me acostumasse.
Naquela época, a Rádio Espinharas, que pertencia ao então Senador Drault Ernani de Melo e Silva, tinha como gerente o Sr. Maurício Leite, que não era lá essas coisas mas dava para se tolerar.
Não ganhava bem mas, na falta de outra opção, o jeito era levar as coisas com paciência. Com a saída do Maurício e a chegada de um novo gerente, o Sr. Rackson Torres, a situação mudou. Apesar das falhas administrativas, Maurício Leite era bem mais humano. Uma simples discussão com o novo diretor, levou-me a sair da empresa.
Apesar de trabalhar em uma emissora de rádio, a única da cidade, eu não era muito conhecido. Aliás, o meu trabalho ainda não era tão valorizado. Os programas que apresentava não eram famosos. Daqueles que levam você ao ponto culminante da profissão. Mas isso não me preocupava. Como profissional, eu era muito ingênuo para saber o que era estar em alta com o IBOPE.
Sem emprego, a única saída era aceitar os conselhos de meu pai para trabalhar com ele numa oficina de fundição, lá mesmo, na cidade de Patos. Era um trabalho duro, muito diferente de estar diante de um microfone. Agüentei até 1969, quando fui chamado para trabalhar na Difusora Rádio Cajazeiras, na cidade de Cajazeiras, também na Paraíba.
Ali, tive como diretores os senhores Mozart e José Adegildes. Uma das primeiras orientações recebidas foi não visitar a outra emissora. É que eles alimentavam uma “guerra” pessoal anti-profissional, que não fazia parte dos meus ideais. Eu sempre fiz amizades com todos os colegas que integravam o mundo das comunicações e achei aquilo ridículo e anti-ético.
Indiferente às advertências, resolvi fazer uma visita aos colegas da outra emissora. Por sinal, ao saberem onde eu trabalhava, eles ficaram um tanto espantados e perguntaram se eu não sabia que os funcionários da Difusora Rádio Cajazeiras eram proibidos até de passarem pelas calçadas daquela rádio. Respondi que sabia, mas que não estava ali para “comprar” as brigas dos diretores, mas para estar de bem com os colegas.
No dia seguinte, fui “convidado” a comparecer à Direção da empresa para explicar a minha atitude, para os diretores, desafiadora. Eu disse apenas que, como profissional, preferia agir assim a aceitar os caprichos de quem pensa que audiência se conquista com intrigas e com concorrências desonestas e desastrosas.
A partir daquele dia, eu fui perseguido de forma sucinta, fato este que me fez optar por um pedido de demissão. Trabalhar com pessoas que não sabem o que significa profissionalismo não é tarefa fácil. Aliás, um dos fatos que me fez diferente foi o respeito aos meus colegas jornalistas, independente da empresa a que eles pertenciam. Para mim, o companheirismo é fator primordial para o crescimento profissional. Foi assim que eu sempre fui respeitado pelos colegas.
Desempregado, tive que voltar ao trabalho duro da fundição. Somente em 1973 resolvi enfrentar a vida árdua de jornalista, retornando à Rádio Espinharas, na época dirigida pelo Cônego Joaquim de Assis Ferreira (Padre Assis). Eu havia passado num teste que fizera na Rádio Cariri de Campina Grande, mas preferi continuar em Patos. Por isso, aceitei ao convite que me fora feito pelo Padre Assis.
Meu nome explodiu e a fama apareceu como que por encanto. Assim, fui convidado a integrar os quadros da Emissora Rural a Voz do São Francisco, em Petrolina. Ali, exerci a função de Redator e Locutor e, como tinha bastante experiência no esporte, fui, de imediato, convidado por Teones Batista, para fazer parte do Departamento Esportivo.
Em Petrolina, integrei também os quadros de árbitros da Liga Petrolinense de Desportos, atuando em grandes clássicos como árbitro central. Minhas boas atuações me levaram a apitar uma partida decisiva do campeonato de Juazeiro da Bahia, entre Carranca X Veneza. Foi a minha consagração. Motivo para que passasse a ser respeitado naquela região, deixando o meu nome como “marca registrada” no futebol de Petrolina e Juazeiro.
Voltei a Patos para dirigir o Departamento de Jornalismo da Rádio Panati, onde permaneci até ser convidado para retornar à Rádio Espinharas de Patos, onde exerci a mesma função. Ali também fiz parte do Departamento Esportivo, comandado pelo saudoso Edleuson Franco de Medeiros, fazendo dupla com o também saudoso Juarez Farias. Nós éramos a “menina dos olhos” do Edleuson.
Com a implantação da Rádio do Grande Rio, os diretores sonhavam com uma equipe impecável para fazer frente à Emissora Rural (Petrolina) e a Rádio Juazeiro (Juazeiro da Bahia) que, diga-se de passagem, eram dois ossos duros de roer. Daí, a escolha de dois nomes para integrarem os quadro de Jornalismo: Juarez Farias e Adalberto Pereira. Graças a Deus, ganhamos a audiência pela nossa competência profissional.
A situação da Rádio da Grande Serra, em Araripina, Pernambuco, não era das melhores. A emissora estava “atolada” até o pescoço e, para tirá-la do fundo do poço, o Dr. Geraldo Coelho convidou-me para assumir a direção da empresa. Uma tarefa árdua e, para muitos colegas, impossível.
Aceitei o desafio. Os primeiros dias foram terríveis. Precisava a todo custo, tirar alguns costumes de funcionários acostumados com a “baderna” ali existente. Algumas reuniões e a aplicação de disciplina com advertências e suspensões, fizeram com que as coisas fossem se normalizando. O que era impossível, aconteceu: a empresa saiu do vermelho e passou a trabalhar com lucros impressionantes.
Se isso foi ótimo para a empresa, para mim não passou de sofrimento e angústia. Algumas pessoas passaram a perseguir-me, inclusive pessoas de fora, que nada tinham a ver com a Rádio. Entre essas pessoas estava o Sr. João Ramos que, por não ter conseguido manipular a minha administração, passou a perseguir o meu trabalho.
Uma coisa que eu desconhecia era que o Dr. Geraldo Coelho era dessas pessoas que, como diziam alguns amigos meus, “emprenham pelos ouvidos”. Ele ouvia as mentiras do cidadão e acreditava como se elas fossem verdades. Embora a Rádio da Grande Serra estivesse indo muito bem e com uma programação inovadora, inclusive com duas locutoras: Suely Gomes e Magda Silvana (fato inédito em toda a história da emissora), e profissionais cuidadosamente escolhidos e contratados, nada impediu a minha demissão.
Era questão de honra para Francisco Fernandes, o grande protegido de Aloísio Gomes, colocar Iveraldo Nascimento na direção da Rádio da Grande Serra. Para isso, formaram um complô contra a minha pessoa, culminando na minha demissão. Essa verdade foi confirmada com a imediata ascensão do Iveraldo.
Não sei se por incompetência ou negligência do novo Diretor, a empresa passou a apresentar quedas nos lucros e, segundo foi constatado por auditores do grupo Coelho, o prejuízo girou em torno de 50 mil cruzeiros (moeda corrente na época). O Diretor foi obrigado a se demitir para não ser indiciado.
Castigo ou não, acredito que eles devem ter se arrependido por acreditarem nas palavras de pessoas irresponsáveis. Afinal, tirar um profissional que mudara o conceito negativo da empresa, dando-lhe credibilidade junto à comunidade e resgatando o respeito perdido pela incapacidade administrativa de alguém e colocar uma pessoa inexperiente e incompetente para o cargo, não deixa de ser uma atitude mesquinha e anti-ética, que só poderia ter sido tomada por pessoas alheias à realidade de um veículo de comunicação.
Certa vez encontrei-me com Iveraldo Nascimento, na Rodoviária de Petrolina. Por coincidência, viajamos no mesmo ônibus (Viação Progresso) com destino à Araripina. Durante a viagem, falamos sobre a saída dele da direção da Grande Serra. Mesmo sabendo os motivos da demissão do colega, arrisquei a pergunta: “Você vai sair assim, de graça? Por que você não mete a empresa na justiça para mostrar que você é um homem de respeito e de uma idoneidade inabalada?”. Ele simplesmente respondeu que “não queria criar problemas com a empresa”, preferindo sair “numa boa”. Eu tive vontade de dar uma gostosa risada, mas me contive e deixei que ele pensasse que eu acreditava na sua justificativa.
Num encontro casual que mantive com a Maria das Graças (do Departamento Pessoal da Rádio da Grande Serra), nos corredores da Faculdade de Formação de Professores de Araripina, esta perguntou se eu sabia o que havia acontecido com o colega Iveraldo Nascimento. Eu disse que não e que estava totalmente por fora do que ocorria naquela empresa. Detalhadamente ela falou: “Pois bem, Iveraldo pagou caro o que ele fez contigo. Os homens chegaram lá na rádio e imprensaram ele na parede pra ele dizer onde estava o dinheiro da rádio. Eles disseram: ‘onde está o dinheiro da rádio, seu ladrão?’. Olha, Adalberto, foi humilhante, só tu vendo como ele ficou.”
Acreditar nas palavras da Graça era uma coisa a se pensar. Mesmo porque ela, durante a minha gestão, havia embolsado o dinheiro que a Madame Marily havia pago e que fora deixado por mim em sua mesa de trabalho, local em que somente nós dois tínhamos acesso. Além disso, ela havia passado alguns recibos “frios” para clientes, sem prestar contas à empresa. Por isso, ela foi chamada a atenção e só não a demiti em consideração a sua filhinha, de menos de um ano, uma vez que ela dependia do emprego para sustentar a casa.
A grande verdade é que o rádio deu-me muitas alegrias, mas também foi motivo de grandes decepções, principalmente quando tive que enfrentar “patrões” incompetentes, daquele tipo de gente que tem dinheiro para comprar uma concessão, mas não tem inteligência para administrar uma empresa da área de comunicação. Eu os considero como autênticos “penetras”. Sou da opinião de que o rádio deveria estar nas mãos de quem conhece os segredos que envolvem os meios de comunicações.
Foi com grande tristeza que deixei a profissão que eu mais amava e que mais me deixava orgulhoso como profissional. Afinal, foram mais de 25 anos de trabalho, sempre fazendo o possível para fazer o melhor, olhando os meus ouvintes como o alvo principal. Foi assim que recebi, por dois anos consecutivos (1982 e 1983), o título de “Melhor Redator do Ano”. Foi assim que recebi o título de “Cidadão Patoense”. Foi assim que fiz grandes amigos e que deixei saudades por onde passei.
Apesar de tudo, ainda guardo alguns fatos interessantes na lembrança. São fatos até certo ponto engraçados, como um que envolve “Ferré”, proprietário de um bar no final da Avenida Epitácio Pessoa, e Firmino, um jovem guitarrista do conjunto “Z-7”.
Firmino fazia seus lanches no bar do “Ferré” e pagava no final de cada mês (quando pagava). O débito estava acumulado em 20 cruzeiros (moeda da época). Certo dia, Firmino ia com a namorada e quando viu, de longe, “Ferré” na porta do bar, tentou levar a moça por outra rua, mas como ela insistiu em ir por ali, perguntando por que ele evitava aquele trajeto, o jeito foi enfrentar o velho “credor”.
Para não ser visto pelo “Ferré”, Firmino colocou a namorada no lugar oposto e, por todo o trajeto, tentou se esconder do dono do bar. Não teve jeito. Do outro lado da rua, “Ferré” gritou: “Firmino! E aqueles 20 cruzeiros?”. Sem pestanejar, Firmino respondeu: “Não se preocupe, Ferré, depois você me paga!!!”. E, virando-se para a namorada cochichou: “Coitado! Ele me deve 20 cruzeiros e eu não tenho coragem de cobrar...”
O Bar do “Ferré” não era muito higiênico. Vez por outra, as baratas corriam pelos cantos das paredes, fazendo com que os “fregueses” mais freqüentes chamassem a atenção do proprietário, que sempre levava aquilo na brincadeira.
Firmino entrou no bar, sentou-se em uma das meses próximas da parede (propositadamente), pediu uma vitamina de abacate e uma fatia de bolo fôfo. Como as vitaminas eram feitas e guardadas durante vários dias, o pedido do Firmino não demorou muito. Depois de tomar quase todo o conteúdo do copo, Firmino pegou uma baratinha nova e, num movimento rápido, colocou-a dentro do copo. Foi aí que ele chamou o “Ferré”:
- Êi, Ferré! Venha aqui! Rápido, Ferré! Venha aqui correndo!
“Ferré” foi até à mesa onde estava o Firmino e perguntou o que tinha acontecido que ele o chamava com tanta insistência, ao que Firmino respondeu:
- Veja! Tem uma barata dentro da vitamina e eu só vi agora, quando já estava terminando o meu lanche. Isso é uma seboseira, “Ferré”! Eu não vou pagar por isso, vou?”.
Olhando firme para Firnimo, “Ferré” disparou:
- Pra cima de mim, Firmino! Essa vitamina tem quinze dias. Como é que essa barata ainda está viva?! Vai logo pagando a conta, garoto, que eu posso ser tudo, menos besta!”
A cidade de Patos, na Paraíba, foi e sempre será palco de histórias fascinantes e uma delas é a do barbeiro João da Cruz, um cidadão semi-analfabeto que, ao terminar de tirar a barba do cliente fazia a seguinte pergunta: “Qué áico, táico ou qué qui múi?”.
Esse comportamento chamou a atenção de colegas da época, que resolveram fazer uma marchinha de carnaval, apenas para a diversão da “turma da gozação”. A música ficou assim: “Qué áico, táico ou qué qui múi? É esse o lema do barbeiro João da Cruz”. O pior é que a turma resolveu cantar bem em frente à barbearia do homem, que ficou uma fera e botou todo mundo pra correr, ameaçando-os com uma navalha.
Há fatos que não conseguimos esquecer. Um exemplo disso foi o trágico acidente ocorrido na localidade conhecida como “Serrotão”, próximo ao bairro de Bodocongó, em Campina Grande, envolvendo o avião da Loyde Aéreo, prefixo PP-LDX. O avião procedia do Recife com destino à Fortaleza, com conexão em Campina Grande. Eram mais ou menos 19:30 horas (não lembro o dia e o mês), provavelmente no ano de 1958, quando o referido avião sobrevoou a cidade por várias vezes, por não conseguir localizar o aeroporto João Suassuna. O piloto resolveu arriscar uma aterrissagem forçada. Tudo ia às mil maravilhas quando o aparelho foi ao encontro de uma grande pedra que estava entre a mata. Os dois motores e mais duas outras partes do aparelho ficaram em lugares diferentes. Várias pessoas morreram. Outros passageiros saíram ilesos. Esse fato ficou registrado na história daquela cidade paraibana. Eu fiquei impressionado ao ver, pela primeira vez em minha vida, um avião naquelas condições. Dizem que no local foi construída uma capela.
Em Patos, onde cheguei logo após sair do Exército, fiquei surpreso com um fato inédito, pelo menos para mim: nomes estranhos de jogadores de futebol (amadores e profissionais). Veja esta lista: Pistola, Banana, Tripa, Farinha, Buchada, Canário, Colher, Cocada, Chico Garrote e João Grilo. Por sinal, os amigos costumavam dizer que Patos era a única cidade onde se podia encontrar um locutor gago e um mudo que falava. Eles se referiam ao locutor esportivo Edleuson Franco (narrador esportivo da Rádio Espinharas), e a uma figura folclórica conhecida como “o mudo do cinema” (um cara que trabalhava no antigo Cine El Dorado). Este cinema estava localizado na Av. Pedro Firmino e era lá onde se apresentavam os grandes cantores que por ali passavam (Nelson Ned, Duo Ciriema, Caubi Peixoto, Waldik Soriano, entre outros).
Também guardo na memória outros nomes estranhos como: Tempestade, goleiro do Treze Futebol Clube; João Pipoca, goleiro do Humaitá, de Bodocongó; Arrepiado, também jogador do Treze Futebol Clube de Campina Grande.
Foi em Campina Grande onde eu tive meu primeiro contato com o mundo da política. Eu tinha, na época (1957/58), quando, de passagem pela residência do Sr. Severino Bezerra Cabral, na Rua Getúlio Vargas, resolvi entrar. O portão estava aberto e na varanda da casa, estava D. Anita Cabral, bem sentada numa cadeira. Perguntei pelo Sr. Severino Cabral e ela indicando a porta que dava acesso à sala, mandou que eu entrasse e me dirigisse até a cozinha, onde o encontrei diante de um saboroso cuscuz de milho e uma vasilha com leite. Gentilmente, ele mandou que eu me servisse. “seu” Cabral era assim mesmo: atencioso e cortês, apesar de ser analfabeto nato.
A partir daquele momento, passei a participar de todos os comícios de Cabral, candidato a prefeito de Campina Grande. Por sua estatura e pela maneira de andar sem muita elegância, ele recebeu o apelido de “pé de chumbo”. Aliás, um apelido que o acompanhou durante toda a sua campanha.
Eu jogava no Vasco da Gama, time que representava o bairro do Monte Santo e tinha apenas 17 anos de idade. O Sr. Silva, Diretor de Futebol do Vasco, sabendo eu era bem próximo de Cabral, pediu que pedisse alguma ajuda para o clube. Falei com ele que, de imediato, foi comigo até a “Casa dos Esportes”, onde autorizou a compra de todo o material do Vasco, inclusive duas bolas novinhas. A entrega foi feita num sábado à noite, durante reunião na sede do clube. Foi uma verdadeira festa com a presença de Cabral.
Foi uma campanha bastante acirrada. Era um candidato “matuto”, um verdadeiro “pé de chumbo”, contra Newton Rique, dono do Banco Industrial de Campina Grande. Cabral fazia passeatas nas poeiras das antigas ruas da cidade. Newton Rique, ao contrário, fugindo das poeiras, fazia carreatas. Ganhou o “pé de poeira”, o “matuto”, o “pé de chumbo”, mostrando que a humildade é um dos pontos que conduzem um candidato à vitória.
Só voltei a ver Severino Cabral quando eu estava no Exército. Eu integrava a banda marcial quando, no dia 7 de setembro de 1960, estávamos em forma e ele, juntamente com o tenente-coronel Otávio Ferreira de Queiroz, comandante do BSvE, passou em vista a nossa tropa, momentos antes de ser iniciado o desfile, que percorreria parte da rua Monte Santo, rua das Areias até a Praça da Bandeira, onde estava o palanque oficial, com as autoridades campinenses, entre elas o prefeito Severino Cabral e sua mulher, D. Anita Cabral. O palanque ficava próximo aos Correios e Telégrafos.
Houve época em que eu resolvi brincar de compositor. Foi aí que fiz umas músicas para participar de um Festival de músicas carnavalescas. Eu tinha um amigo chamado Baiano e, certo dia, em época de carnaval, nós fomos ao Comercial Campestre Clube, onde seria realizado um “grito de carnaval”. Ao sair de casa, olhei para minha mulher e disse: “querida, até quarta-feira!”. De imediato, Baiano disse: “porque você não faz uma música com esse título?”. Olhei para ele e respondi: “não fale comigo por um instante, que eu vou fazer a música!”. Menos de meia hora depois estava pronta. Fiz um leve sorriso e Baiano desconfiou que eu havia terminado a música. Foi então que ele perguntou: “já posso falar?”. Eu disse que sim e cantei a música, que ficou assim:
ATÉ QUARTA-FEIRA
Meu bem, até quarta-feira,
Não vá se preocupar,
Eu volto de qualquer maneira,
Na quarta-feira pode me esperar (meu bem) (2 x)
O domingo é da lourinha,
A segunda de quem aparecer,
A terça é da moreninha,
Na quarta-feira eu volto pra você (meu bem).
Ao chegarmos no Campestre, Baiano foi falar com o maestro Saraiva, dizendo-lhe que eu tinha uma música que poderia fazer sucesso. Sem que eu esperasse, lá para o meio do baile, Saraiva tomou microfone e me convidou a subir ao palco para cantar a minha música. Até que as pessoas gostaram e cantaram comigo. Empolgado, inscrevi esta música no Festival e me saí muito bem com um honroso terceiro lugar. Mas como cada compositor era obrigado a inscrever três músicas, fui obrigado a “queimar as pestanas” e fazer outras duas: “A marcha da peteca” e “Saudades dos carnavais”, que ficaram assim, pela ordem:
A MARCHA DA PETECA
Como é chato o velho careca, só veio atrapalhar meus planos,
Jogou fora a minha peteca, sem respeitar os seus sessenta anos.
Careca, careca, devolva a minha peteca!
Careca, careca, eu quero a minha peteca!
O que é que eu vou fazer com esta confusão
Para brincar o carnaval?
Eu tenho que fazer outra peteca para jogar no velho careca.
Careca, oh, velho careca, devolva a minha peteca!
Careca, oh, velho careca, eu quero a minha peteca!
-x-x-x-x-x-x-x-x-
SAUDADES DOS CARNAVAIS
Ai quem me dera os carnavais passados
Das lindas fantasias, dos mascarados!
Onde estão o Pierrot e a Colombina,
Os blocos pelas ruas, os confetes e serpentinas.
Quantas saudades guardo comigo,
Tempos passados que não voltam mais;
Os anos passam e eu não consigo
Matar minhas saudades dos velhos carnavais.
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
Como era muito fácil e bem gostosa de cantar, a música “Até quarta-feira” se transformou em marchinha de salão, como eram conhecidas as músicas consideradas simples e de mensagens rápidas. Eram músicas que se cantava até sem acompanhamento.
A música “Saudades dos carnavais” foi apresentada ao cantor Altemar Dutra, quando de sua passagem por Patos. Ele gostou bastante e pediu minha autorização para gravá-la. Como ainda estava longe do carnaval, comprometi-me de mandá-la na época em que começassem as gravações das músicas carnavalescas. Infelizmente, Altemar Dutra morreu sem que eu tivesse a honra de ter minha música gravada por ele. Coisas do destino.
(Aguardem a continuação.....)
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