sábado, 1 de dezembro de 2012

               A REVOLTA DOS MACACOS
                                                                               (Adalberto Claudino Pereira)

          O homem, na ânsia de usufruir a qualquer custo do direito de ser inteligente, pelo menos em certos momentos, costuma criar situações visando uma posição de destaque no status social. Imortalizar-se é o sonho de todos ou, na melhor das hipóteses, da grande maioria. Isso não é fruto de um presente, temperado pelo egoísmo de quem quer superar a tudo e a todos. Trata-se de uma psicose que remota dos tempos dos trogloditas, dos já esquecidos paleolíticos.
          E foi justamente num momento de desgaste mental que o homem criou a idéia de que ele descende do macaco. Este fato me levou a pensar como seria a imagem de Deus. Ao assistir ao filme “King Kong”, afastei o meu olhar da tela, levei meu pensamento para fora da sala de projeção e, mesmo sem sair de onde estava, comecei a ver meu Deus, que me criou à sua imagem e semelhança, “despencando” daquele edifício e se estatelando no chão, diante de centenas de olhares curiosos. Agora, longe daquele lúgubre pensamento e daquela ideia pecaminosa, criei esta fábula:
          A ESTÓRIA
          Eram quase sete horas da noite, quando o macaco “rei” entrava na gruta cavada pela própria Natureza, para uma reunião emergente com a “macacada”, divertidos habitantes da floresta. O clima era de muita expectativa. Afinal, o que teria provocado aquele encontro? Certamente algo diferente deveria estar acontecendo para tirá-los de seus afazeres e conduzi-los a uma incômoda assembléia.
         O pigarrear, acompanhado de um estrondoso “boa-noite” foi suficiente para tirá-los dos pensamentos que os tomavam naquele momento. Todos se acomodaram em seus respectivos lugares. A atenção era geral. Até parecia que todos estavam envolvidos por uma ação hipnótica. Era um silêncio sepulcral, que foi quebrado pela voz autoritária do grande chefe. Vamos considerá-lo o “king Kong” (não o do filme que levou milhões de pessoas às lágrimas).
         - Meus senhores e minhas senhoras! – começou o macacão. Eu os convoquei para esta reunião de emergência, levado por um fato que me deixou bastante revoltado! Mais uma vez, a provocação tem como protagonistas os humanos, mais precisamente uns cientistas malucos, que se autodeterminam de heróis da sapiência universal.
        Se já era grande a expectativa, mesmo antes daquelas declarações, agora as coisas já passavam a preocupar a todos os presentes. E o chefe prosseguiu:
        - As coisas passaram dos limites! Agora, eles estão afirmando que os homens são nossos descendentes!
        Houve um murmúrio geral. Era uma reação mais de revolta do que de admiração. E a reunião continua:
        - Não aceitamos, em hipótese alguma, esta humilhação! Nós não assaltamos bancos! Não somos nós que sequestramos, matamos estupramos e falsificamos dinheiro! Nós não causamos desfalques no INSS e não inventamos o mensalão! Precisamos ser respeitados! Não podemos ser comparados àqueles que causaram o caos na educação, na saúde e na segurança pública.
        Todos se levantaram e, em forma de protesto, gritavam:
        - SOMOS HONESTOS! NÃO SOMOS ASSASSINOS! EXIGIMOS RESPEITO!
        Eufórico pelas reações de apoio, o chefe dos macacos prosseguiu:
        - Nós jamais invadimos propriedades alheias, aproveitando-nos da sigla MST! Nunca destruímos plantações, nem agredimos pessoas indefesas, para nos apoderar daquilo que não nos pertence! Não traficamos armas nem drogas para fortalecer o crime organizado! Não somos nós os culpados do presidente da República se preocupar com os problemas lá de fora sem, antes, resolver os nossos, que são mais cruciantes! Não criamos o Estatuto do Menor e do Adolescente, que estimula o envolvimento de crianças com o crime organizado! Não fazemos parte da Comissão dos Direitos Humanos, que só defende os criminosos, virando as costas para as famílias dos cidadãos honestos e trabalhadores, assassinados covardemente! Não somos nós os responsáveis pela insegurança das famílias e pelo desrespeito aos direitos dos verdadeiros cidadãos!
       As manifestações de revolta dos macacos continuavam cada vez mais fortes, à proporção em que o chefe falava.
       - Diante de tudo o que foi exposto, temos preparado um documento, no qual expomos a nossa revolta e o nosso protesto contra a posição dos inconscientes cientistas. Repudiando a afirmativa de que o homem é nosso descendente, exigimos das autoridades competentes, um pedido formal de desculpas e a promessa de que, a partir de hoje, os macacos sejam vistos como o único exemplo de patriotismo e de moralidade nacional! TENHO DITO!
      Todos aplaudiram com entusiasmo a decisão do “king Kong” e o conduziram nos braços, como se faz com os verdadeiros heróis.
      NOTA DO AUTOR: Quaisquer semelhanças com fatos reais, são meras semelhanças!

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