terça-feira, 10 de junho de 2014

O QUE ACONTECEU COM OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO?









                              UMA CLASSE DESUNIDA
          Vendo o comentário que a jornalista Rachel Sheherazade fizera sobre o Carnaval, passei a admirá-la pela coragem e pela ousadia ao abordar um tema tão polêmico. Vi naquela jovem o símbolo maior do jornalista verdadeiro: imparcial, intrêmulo, corajoso e, acima de tudo, realista.
          Os dias passaram e tive a alegria de ver que alguém resolvera dar àquela profissional, uma oportunidade de realizar seu profícuo trabalho numa emissora de maior vulto. Sair da Paraíba, um Estado localizado no Nordeste, perseguido por preconceitos sociais, e chegar a São Paulo com a mesma coragem, é algo que merece a nossa admiração e o nosso respeito.
          Se já me empolgara com o valor e o caráter da Rachel, certamente deveria estar preparado para coisas piores. E foi o que aconteceu quando vi um jornalista de uma televisão, no auge de sua indecência profissional, taxar a preciosa jornalista de “fascista”, partindo em defesa de um sistema que desmerece o respeito de um povo que vê os seus direitos mergulhando no pior lamaçal que uma sociedade poderia suportar.
          Isso me faz lembrar de uma frase dita por um colega meu, da Rádio Espinharas, quando eu tentei elogiar um programa de uma outra emissora. Olhando para mim, com um sorriso meio sem graça, ele disse: “Calma, colega, você está começando agora! Fique sabendo que a classe mais desunida do mundo é a da imprensa! Não confie em ninguém, pois você acabará sendo apunhalado pelas costas. E o pior é que quem vai te apunhalar é o teu melhor amigo!”
          Aquilo ficou “martelando” o meu cérebro. E logo eu, que pensava o contrário! As coisas se esclareceram quando eu fui trabalhar na Difusora Rádio Cajazeiras. Ao me apresentar como novo funcionário daquela emissora, fui orientado pelos dois Diretores José Adegildes e Mozar, a não ter contatos com os colegas da Rádio Alto Piranhas. Não era apenas uma sugestão, mas uma proibição expressa. Aquilo foi uma agressão a minha liberdade de escolha, coisa que eu jamais admitira. Eu sempre achei que a união seria o melhor caminho, mesmo diante dos abismos impostos pela concorrência.
          Há momentos na vida em que você precisa ser rebelde. É aquele momento em que você deve colocar a sua personalidade acima de quaisquer interesses contrários a sua índole, a fim de defender a sua idoneidade moral. E foi assim que eu agi. Deliberadamente fui até a “outra” (era assim que eles falavam) emissora, o que causou grande espanto por parte dos colegas de lá. – Você aqui!!! Gritaram em uníssono os três funcionários que estavam de plantão. Depois de muitas explicações, ficamos grandes amigos.
          Eu tinha certeza de que o que era correto para mim, não o era para o Mozar e o Adegildes. O esperado aconteceu: fui chamado para uma conversa à portas fechadas. Como era de se esperar, a bronca foi pesada. Eles pensaram que eu iria ouvi-los e sair com “o rabo entre as pernas”. Puro engano! Levantei-me, encarei os dois e disse que não estava ali para comprar brigas de ninguém e que agiria assim enquanto ali estivesse. Nem consegui conhecer Cajazeiras direito!
          Hoje, passados 45 anos deste fato, vejo que nada mudou. Infelizmente as pessoas continuam as mesmas. É como eu costumo dizer: “mudou só de barbeiro, mas o corte continua o mesmo!” Fico a me perguntar quando a imprensa vai se unir! Quando os profissionais das rádios, dos jornais, das revistas, das televisões aprenderão a se respeitar, dando um grande exemplo  de companheirismo a esse universo de ouvintes, leitores e telespectadores? Até quando estaremos envolvidos pela  mediocridade das concorrências desonestas que levam o mundo das comunicações à degradação moral?
         Até quando os interesses sócio-econômicos levarão os grandes profissionais a se transformarem em verdadeiras marionetes das classes mais privilegiadas? Onde foi parar a ética profissional? Quando vamos aprender a viver e conviver com as diferenças?  Não seria mais proveitoso e bem mais humano se os meios de comunicação unissem as forças para transformar o Brasil naquele país com o qual sempre sonhamos? Será tão difícil assim colocarmos um traço de união entre todos os segmentos da imprensa nacional? Ou será que preferimos a hipocrisia dos abraços momentâneos e as  falsidades dos sorrisos fabricados?
          Certa vez um colega que havia trabalhado comigo em uma determinada emissora, e que fora transferido para uma concorrente, encontrou-me na porta de um cinema e perguntou como eu estava! Antes que eu respondesse, ele detonou o seu “veneno” contra a sua ex-emissora e seus ex-colegas. Foi um ataque mortal! Depois de ouvi-lo, olhei sério para ele e disse: “Me desculpe, mas você não é o mesmo Fulano de Tal que eu conheci! Não consigo ver em você aquele mesmo que chegou pedindo até pelo amor de Deus que lhe dessem um emprego lá na rádio tal!” O cara nem esperou o resto do meu relato: desapareceu da minha presença e ficou uns meses sem falar comigo.
          Estou fora do rádio, mesmo sentindo saudades dos colegas. Chorei em silêncio e às vezes nem consegui silenciar, ao saber que amigos a quem queria tanto bem haviam partido para sempre! Cheguei a comentar como minha esposa: “Como seria bom se as pessoas a quem amamos não morressem!” Aí, sim, eu ainda teria o prazer de abraçar Virgílio Trindade, Amaury de Carvalho, Edleuson Franco, Aloisio Araújo, Dedé Santana, Roberto Fernandes, Juarez Farias, Paulo Porto, Inácio Bento, Geraldo Geraldino (Geraldão), Antônio Moreno, Antônio Emiliano, Agnaldo Xavier, Vavá Brandão, Edmilson Mota, Rivaldo Medeiros, Edvaldo Mota e tantos outros com quem vivi momentos felizes!
          Fica aqui a minha esperança de ainda ver a imprensa unida em busca de um só ideal! Aqui fica a minha esperança de ver abraçados, com abraços verdadeiros, aqueles que se decidiram por uma imprensa leal à ética e ao respeito mútuo. Se isso não me for possível, que meus filhos e netos sejam reais testemunhas desta tão sonhada mudança! TENHO DITO!

Adalberto Pereira

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