UMA CLASSE DESUNIDA
Vendo o comentário
que a jornalista Rachel Sheherazade fizera sobre o Carnaval, passei a admirá-la
pela coragem e pela ousadia ao abordar um tema tão polêmico. Vi naquela jovem o
símbolo maior do jornalista verdadeiro: imparcial, intrêmulo, corajoso e, acima
de tudo, realista.
Os dias
passaram e tive a alegria de ver que alguém resolvera dar àquela profissional,
uma oportunidade de realizar seu profícuo trabalho numa emissora de maior
vulto. Sair da Paraíba, um Estado localizado no Nordeste, perseguido por
preconceitos sociais, e chegar a São Paulo com a mesma coragem, é algo que
merece a nossa admiração e o nosso respeito.
Se já me
empolgara com o valor e o caráter da Rachel, certamente deveria estar preparado
para coisas piores. E foi o que aconteceu quando vi um jornalista de uma
televisão, no auge de sua indecência profissional, taxar a preciosa jornalista
de “fascista”, partindo em defesa de um sistema que desmerece o respeito de um
povo que vê os seus direitos mergulhando no pior lamaçal que uma sociedade
poderia suportar.
Isso me faz
lembrar de uma frase dita por um colega meu, da Rádio Espinharas, quando eu
tentei elogiar um programa de uma outra emissora. Olhando para mim, com um
sorriso meio sem graça, ele disse: “Calma, colega, você está começando agora!
Fique sabendo que a classe mais desunida do mundo é a da imprensa! Não confie
em ninguém, pois você acabará sendo apunhalado pelas costas. E o pior é que
quem vai te apunhalar é o teu melhor amigo!”
Aquilo ficou
“martelando” o meu cérebro. E logo eu, que pensava o contrário! As coisas se
esclareceram quando eu fui trabalhar na Difusora Rádio Cajazeiras. Ao me
apresentar como novo funcionário daquela emissora, fui orientado pelos dois
Diretores José Adegildes e Mozar, a não ter contatos com os colegas da Rádio
Alto Piranhas. Não era apenas uma sugestão, mas uma proibição expressa. Aquilo
foi uma agressão a minha liberdade de escolha, coisa que eu jamais admitira. Eu
sempre achei que a união seria o melhor caminho, mesmo diante dos abismos
impostos pela concorrência.
Há momentos
na vida em que você precisa ser rebelde. É aquele momento em que você deve
colocar a sua personalidade acima de quaisquer interesses contrários a sua
índole, a fim de defender a sua idoneidade moral. E foi assim que eu agi.
Deliberadamente fui até a “outra” (era assim que eles falavam) emissora, o que
causou grande espanto por parte dos colegas de lá. – Você aqui!!! Gritaram em
uníssono os três funcionários que estavam de plantão. Depois de muitas
explicações, ficamos grandes amigos.
Eu tinha
certeza de que o que era correto para mim, não o era para o Mozar e o
Adegildes. O esperado aconteceu: fui chamado para uma conversa à portas
fechadas. Como era de se esperar, a bronca foi pesada. Eles pensaram que eu
iria ouvi-los e sair com “o rabo entre as pernas”. Puro engano! Levantei-me,
encarei os dois e disse que não estava ali para comprar brigas de ninguém e que
agiria assim enquanto ali estivesse. Nem consegui conhecer Cajazeiras direito!
Hoje,
passados 45 anos deste fato, vejo que nada mudou. Infelizmente as pessoas
continuam as mesmas. É como eu costumo dizer: “mudou só de barbeiro, mas o
corte continua o mesmo!” Fico a me perguntar quando a imprensa vai se unir!
Quando os profissionais das rádios, dos jornais, das revistas, das televisões
aprenderão a se respeitar, dando um grande exemplo de companheirismo a esse universo de
ouvintes, leitores e telespectadores? Até quando estaremos envolvidos pela mediocridade das concorrências desonestas que
levam o mundo das comunicações à degradação moral?
Até quando os
interesses sócio-econômicos levarão os grandes profissionais a se transformarem
em verdadeiras marionetes das classes mais privilegiadas? Onde foi parar a
ética profissional? Quando vamos aprender a viver e conviver com as diferenças?
Não seria mais proveitoso e bem mais
humano se os meios de comunicação unissem as forças para transformar o Brasil
naquele país com o qual sempre sonhamos? Será tão difícil assim colocarmos um
traço de união entre todos os segmentos da imprensa nacional? Ou será que
preferimos a hipocrisia dos abraços momentâneos e as falsidades dos sorrisos fabricados?
Certa vez um
colega que havia trabalhado comigo em uma determinada emissora, e que fora
transferido para uma concorrente, encontrou-me na porta de um cinema e
perguntou como eu estava! Antes que eu respondesse, ele detonou o seu “veneno”
contra a sua ex-emissora e seus ex-colegas. Foi um ataque mortal! Depois de
ouvi-lo, olhei sério para ele e disse: “Me desculpe, mas você não é o mesmo
Fulano de Tal que eu conheci! Não consigo ver em você aquele mesmo que chegou
pedindo até pelo amor de Deus que lhe dessem um emprego lá na rádio tal!” O
cara nem esperou o resto do meu relato: desapareceu da minha presença e ficou
uns meses sem falar comigo.
Estou fora do
rádio, mesmo sentindo saudades dos colegas. Chorei em silêncio e às vezes nem
consegui silenciar, ao saber que amigos a quem queria tanto bem haviam partido
para sempre! Cheguei a comentar como minha esposa: “Como seria bom se as
pessoas a quem amamos não morressem!” Aí, sim, eu ainda teria o prazer de
abraçar Virgílio Trindade, Amaury de Carvalho, Edleuson Franco, Aloisio Araújo,
Dedé Santana, Roberto Fernandes, Juarez Farias, Paulo Porto, Inácio Bento,
Geraldo Geraldino (Geraldão), Antônio Moreno, Antônio Emiliano, Agnaldo Xavier,
Vavá Brandão, Edmilson Mota, Rivaldo Medeiros, Edvaldo Mota e tantos outros com
quem vivi momentos felizes!
Fica aqui a
minha esperança de ainda ver a imprensa unida em busca de um só ideal! Aqui
fica a minha esperança de ver abraçados, com abraços verdadeiros, aqueles que
se decidiram por uma imprensa leal à ética e ao respeito mútuo. Se isso não me
for possível, que meus filhos e netos sejam reais testemunhas desta tão sonhada
mudança! TENHO DITO!
Adalberto Pereira
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