QUAL
É A COR DA NOSSA IMPRENSA?
Nos áureos tempos da minha
adolescência, ouvia-se muito falar de uma terrível e temida “IMPRENSA MARROM”.
E o que era a imprensa marrom? Segundo os críticos da época, ela representava
um perigo para algumas facções da nossa sociedade. Podemos até dizer que ela
era formada por pessoas contrárias ao regime em vigor.
Os anos passaram e a Imprensa Marrom
foi mudando de cor, de acordo com a necessidade de cada veículo de comunicação.
Mas isso não foi nada agradável. Os meios de comunicação se dividiram, cada um
seguindo os seus interesses particulares. Mais precisamente os interesses dos
“patrões”, proprietários das empresas de rádio, televisão, jornais, revistas,
etc.
As emissoras de rádio, os jornais, as
revistas e os canais de televisão, foram entregues aos ricos empresários que,
associados aos políticos ou à política, passaram a castrar a imparcialidade das
informações, tornando os grandes profissionais da imprensa em simples
“marionetes” dos interesses individuais. Muitos deles até se sentiam bem diante
desta situação deprimente e inaceitável.
Os noticiários políticos aderiram às
cores do PT, do PSDB, do PSOL, do PDT, do DEM e outros que envolvem nomes de
pessoas influentes.
Os noticiários econômicos passaram a
trabalhar com os coloridos do DOLLAR do EURO, do REAL e de outras moedas
poderosas no câmbio internacional.
Os noticiários esportivos receberam
as cores de VASCO, FLAMENGO, FLUMINENSE, BOTAFOGO, CORÍNTHIANS, SÃO PAULO,
SANTOS, PALMEIRAS e outros clubes que despontam no cenário esportivo nacional e
internacional.
Quando uma notícia envolve determinadas
religiões, ela vem temperada com um misto de doutrinas das mais diversas,
prontas para satisfazer uma parte da população, em detrimento da outra. Até as seitas entraram na jogada,
reivindicando o seu espaço, através do envolvimento de determinados
jornalistas. Até aí, somos alvos dos interesses de vários canais de televisão.
Mas existe aquela imprensa amarela
que, na insignificância de sua palidez, age trêmula e emudece diante dos
fatos que poderiam até mudar o comportamento da nossa sociedade. Se o fato
envolve pessoas “blindadas” pelo poder econômico, ele é mostrado de forma sucinta.
Vejo meio acabrunhado (lembram dessa
expressão?) os noticiários revestidos da parcialidade empresarial. Aqueles
noticiários em que o jornalista, antes de divulga-los, consulta o “patrão”, para não comprometê-lo política ou
economicamente. A situação se agrava ainda mais, quando o jornalista é
impulsionado pela força das propinas.
A falta de imparcialidade levou a
nossa imprensa ao descrédito popular. Grandes jornalistas encolheram-se diante
das censuras internas das empresas às quais prestam serviços. Alguns deles, sem
conseguir esconder sua decepção, chegam a afirmar: - “Fazer o quê? Eu preciso
do emprego! Tenho uma família para manter!!!”.
A máscara do “faz-de-conta” esconde a
vontade de desabafar e mandar tudo e todos às favas. Mas a “escravidão” imposta
pela necessidade da sobrevivência e da subsistência fala mais alto, colocando
mordaças e algemas em quem deveria ser responsável pela mudança moral,
psicológica e espiritual das comunidades que clamam pela verdade.
A ética do rádio moderno está baseada
nos seguinte princípio: “EU TENHO DINHEIRO E VOCÊ TEM EXPERIÊNCIA! VAMOS, POIS,
JUNTAR O MEU DINHEIRO COM SUA EXPERIÊNCIA E MONTAR UMA RÁDIO”. Só que, neste
caso, a experiência passa a ser sufocada pelo poder econômico e o dono do
dinheiro passa a mandar em tudo. Conheço um caso semelhante!
Mesmo assim, apesar dos pesares,
ainda encontramos pessoas mais conscientes que continuam perguntando: “Afinal,
qual é a cor da nossa imprensa? Quem falará por nós, se os nossos porta-vozes
estão castrados em seus direitos de falar, pensar e agir democraticamente?
Quando teremos uma imprensa de um caráter, de uma ética e de uma moral
formalizados?
A incapacidade dos profissionais
exteriorizarem os sentimentos democráticos, mostra até onde chegaram os
empresários detentores dos maiores canais de televisão, dos mais famosos
jornais e das milhares de emissoras de rádio. O pior é que a grande maioria não
conhece o verdadeiro valor dos veículos de comunicação.
Para poder analisar melhor as
notícias, eu vejo todos os jornais. Vejo os noticiários da Record, do SBT, da
Globo, da Bandeirantes e da Rede TV. Pasmo ao notar que as mesmas notícias são
veiculadas de formas totalmente diversificadas. Fico feliz quando vejo que
ainda temos jornalistas corajosos. Aqueles que mostram a realidade, sem medo
dos poderosos.
A verdadeira imprensa não se omite,
nem se acovarda diante dos fatos. Ela não segue aquele princípio do “defenda os
meus que eu defendo os teus”. Os meus e
os teus a quem me refiro são aqueles que pagam propinas para que seus atos
criminosos sejam encobertos por determinados veículos de comunicação. Este é o
tipo de imprensa que enoja o país e todos aqueles que não se comprometeram com
os corruptos.
Hoje, já não ouvimos as famosas vozes
de renomados locutores anunciando: “Rádio Tal, no ar em nome da ética e da
moral, levando até você as notícias como elas acontecem...!”. Ética e moral
são substantivos que os tendenciosos excluíram de seus projetos, privando os
ouvintes de conhecerem a verdade.
Quando iniciei minha vida
radiofônica, em maio de 1962, o rádio era responsável pela evolução da ética e
da moral. Nós aprendemos que tínhamos a obrigação, como emissores da verdade,
de induzir as pessoas a uma vida honesta, resultado de uma transformação moral
e intelectual. Era o chamado “rádio transformador de pensamentos e de ideais”.
Já nas décadas de 80 e 90, os grandes
empresários resolveram investir na mão-de-obra barata, colocando no ar
locutores sem qualquer qualificação profissional. Os bons profissionais foram
colocados em último plano, dando lugar àqueles que, na ânsia de manterem seus
empregos, foram envolvidos pela subserviência. As cidades interioranas foram os
maiores celeiros desse tipo de “profissionais”.
E a nossa imprensa que já teve a cor
“marrom”, transformou-se num verdadeiro “arco-iris” de desrespeito aos
princípios da ética e da moral. Os exemplos
negativos de hoje, contradizem o verdadeiro objetivo de uma imprensa
respeitada, que chegou a ser considerada O QUARTO PODER, associando-se ao
Executivo, Legislativo e Judiciário. Seria eu injusto se a chamasse de VERGONHA
NACIONAL?
Acompanhei, em Brasília, reportagens alusivas aos atos de corrupção de
alguns políticos, que foram alvos de investigações pelo Ministério Público e
pela Polícia Federal. O que me deixou perplexo foi a maneira como a imprensa do
DF explorou os fatos, dando ênfase a uns e se omitindo diante de outros, numa
verdadeira demonstração de tendências político-partidárias.
É aí que fico à vontade para
classificar a nossa imprensa como uma VERGONHA NACIONAL, sem nenhum remorso ou
arrependimento. Concomitantemente, deixo a pergunta: AFINAL, QUAL É REALMENTE A
COR DA NOSSA IMPRENSA? Será que ela simplesmente amarelou?
Seria ridículo dizer que a imprensa
sempre torce para que as coisas boas não aconteçam e que tudo dê errado no
mundo social, político e econômico? Na verdade, se tudo desse certo, não
haveria o tão concorrido IBOPE. A população gosta mesmo é de sensacionalismo;
de ver sangue derramando; de ver crescer a corrupção para se vangloriar da
desgraça dos outros, principalmente quando estes não pertencem ao seu grupo
político-partidário.
É como aquela história do leiteiro que, ao contemplar um grande açude e
vendo aquele manancial de água, virou-se para o colega e disse: - Já pensou se
tudo isso fosse leite!!! Ao que o outro respondeu: - Você está maluco? Onde
iríamos encontrar água para por nele???
Os políticos sentem uma aversão
profunda pelos jornalistas. Eles só os toleram porque a imprensa tem o poder de
curar ou envenenar. Ela é perversa e maldosa. Basta lembrar que a televisão
elegeu Fernando Collor de Melo e a mesma televisão o colocou na “guilhotina”.
Se a imprensa resolvesse sufocar o movimento patrocinado pelos futuros “anões”
do Congresso Nacional, o presidente Collor teria chegado ao final do seu
mandato sem ser molestado.
O que teria acontecido? Será que não
sobrou uma fatia do “bolo” para determinados jornalistas? Ou faltou alguém
patrocinar um pomposo churrasco na
residência presidencial? Aí a fortuna aplicada nas reformas dos jardins da Casa
da Dinda teria sido esquecida e... pronto! Aposto que tinha jornalistas roendo
as unhas para estar no Jet Sky do simpático playboy das Alagoas.
O que teria acontecido se a imprensa
brasileira tivesse caído com unhas e dentes no caso do MENSALÃO do Palácio do
Planalto? Ora, se o caso Collor de Melo deu no que deu, o que dizer do
escândalo promovido pelas “estrelas” palacianas? Com certeza, teríamos a
segunda “cabeça a rolar” na história da política nacional. Mas... espera aí!!! Por que a imprensa emudeceu?
Será que o cárcere da Superintendência da Polícia Federal tem inquilino
especial? Por que a imprensa nacional não levou o caso do Mensalão a sério? Afinal,
qual o preço do silêncio?
E como a nossa imprensa fica pálida
com facilidade!!! Lembram do caso Sarney? Aquele escândalo que envolveu o nosso
“respeitado” Senado Federal!!! Lembram do Agraciel Maia? Espero que vocês não
tenham esquecido os 11 (onze) processos contra o presidente do Senado. Pois é!
Nas caladas das noites forjaram uma Comissão de Ética e, “cuspindo na cara” dos
brasileiros, colocaram um relator amigo do indiciado! E a nossa imprensa
amarelou (ou se acovardou?). Absurdo ou não, esta é a nossa realidade imoral.
TENHO DITO!!!
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