Ouvir de alguns mestres da língua Portuguesa que a Língua Latina é uma língua morta, deixa-me apreensivo, não pelo fato de tê-los como “perseguidores” da importância que ela representa para todos nós, mas, sobretudo pela falta de reconhecimento a tudo aquilo que o Latim representa para o perfeito e mais profundo conhecimento morfológico, além do respeito por quem ainda é lembrado no nosso dia-a-dia.
Talvez os professores de Língua Portuguesa, preocupados com a importância de levar aos seus alunos conhecimentos necessários para os milhares de concursos públicos e vestibulares, não se tenham dado ao luxo de refletirem cuidadosamente sobre o verdadeiro estudo da nossa MORFOLOGIA, ou seja, do estudo da estrutura e formação das palavras.
Se fizermos uma pesquisa entre os mais dedicados alunos da nossa língua mater, talvez sejamos decepcionados em saber que eles desconhecem a origem, por exemplo, da palavra AGRICULTURA. Talvez não saibam eles que esta palavra é formada pelo prefixo latino AGRI, que significa campo, somado à palavra CULTURA = cultivo, ou seja, a palavra agricultura é o cultivo do campo.
Como pode uma língua estar morta, quando ela se faz presente em milhares de palavra, seja como PREFIXO, seja como SUFIXO? É fácil saber que a palavra FRATERNIDADE (do latim fraternitas, ou fraternitatis) é um substantivo, comum, feminino, singular; que ela é polissílaba, por ter mais de quatro sílabas e que é abstrata. Mas precisamos saber que ela é formada pelo prefixo FRATER (irmão) e que é originária do latim FRATERNITAS e que significa laço de parentesco entre irmãos.
Se recorrermos à Gramática Normativa da Língua Portuguesa, descobriremos que existem, pelo menos 42 radicais latinos e 60 prefixos latinos que, juntos, totalizam milhares de palavras, todas elas essenciais na formação de frases usadas nas mais diversas ocasiões. Isso sem levar em consideração os mais de 90 radicais gregos. Ou seja, a Língua Portuguesa não existiria sem a presença do Latim.
Para dar mais ênfase ao que temos colocado aqui, consideremos que “os sufixos da Língua Portuguesa possuem origem variada. Predominam, no entanto, os de origem grega ou latina,” Podemos ir mais além com a afirmativa de que “a grande maioria das palavras da Língua Portuguesa vem do LATIM, falado na Europa medieval e no antigo Império Romano, ou do grego antigo.”(veja o estudo da Morfologia).
E aí??? Diante do que vimos, como admitir que o Latim é uma língua morta? Qual a explicação lógica e convincente para esta afirmativa?
O que é, realmente, América Latina? Parece-nos que se trata de uma região da América onde são faladas primordialmente línguas românticas, ou seja, derivadas do LATIM, particularmente o Espanhol e o Português. Precisamos lembrar que a América Latina tem uma área aproximada de 21.069.501 km2, o que representa em torno de 3,9% da superfície terrestre. Vamos mais além na informação, mostrando que a América Latina tem uma população estimada em torno dos 569 milhões de habitantes.
Faz-se necessário lembrar que a América Latina envolve a América do Sul e Central, com algumas exceções, mas com uma totalidade de 20 países e 11 territórios, que ainda não conquistaram suas respectivas independências.
Somos um país neolatino? Se o somos, estamos inclusos no rol dos que se utilizam de um idioma proveniente daqueles que “se originaram a partir da evolução do Latim, especificamente do Latim Vulgar, falado pelas classes populares.” Fazemos parte, portanto, do grupo de países dependentes do Latim. Caminhamos lado a lado com o Espanhol, o Italiano, o Francês, o Romeno e o Catalão.
Mesmo assim, ainda é o Latim uma língua morta??? Precisamos rever esta tese defendida por estudiosos da Língua Portuguesa que, segundo os dados aqui citados, não condizem com uma realidade que está exposta para a reflexão de cada professor e de todos os estudantes interessados em conhecer melhor a sua língua.
Talvez seja esta uma missão impossível por ter que envolver um “universo” de interesses lingüísticos. Eu, no entanto, não fujo desta minha convicção: O LATIM ESTÁ VIVO e representa em muito a beleza do nosso idioma. Se quisermos “sepultar” o Latim, que criemos uma língua própria, eliminando todo e qualquer uso de prefixos e radicais latinos.
Isto não parece algo impossível, diante das muitas reformas feitas pelos “doutores” da língua (sem uma consulta popular), inclusive a mais recente que, de uma forma ou de outra, veio complicar a vida de quem já não via o nosso idioma como algo fácil de ser entendido e compreendido.
Se estar vivo é estar em evidência em determinados países, por que se imortalizam homens e fatos que só existem em nossas parcas lembranças? A Língua Latina será sempre imortalizada, a partir do momento em que se torna presente no nosso cotidiano.
Eu posso até estar sendo mal entendido. No entanto, de uma convicção eu não me afasto: a de que ao pronunciarmos palavras como HABEAS-CORPUS, PER CAPITA, ET CETERA (etc.), VEREDICTO (vere dictum), DURA LEX SED LEX (a lei é dura, mas é lei), LATUS CENSOS, VADEMECUM, DATA VENIA, entre milhares de outras usadas com muita freqüência, estamos provando que o Latim está vivo.
Só um pequeno lembrete: quando você pronunciar as palavras MÃE (mater), PAI (pater), FILHO (filius) e FAMÍLIA (família), fique sabendo que elas são todas derivadas do Latim. E mais ainda: se você tem uma religião, é porque os latinos criaram a palavra RELIGIO ou RELIGIONIS.
Depois de tudo isso e com tantas justificativas inquestionáveis, você deve concordar comigo, pelo menos em um ponto: somos um povo ingrato ao assassinarmos uma língua que nos deu o direito e o orgulho de sermos a “ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO, INCULTA E BELA” (livro “Poesias”), como disse muito bem o poeta parnasiano Olavo Bilac.
Concordem ou não, o Latim continua vivinho e sem ele a Língua Portuguesa deixaria de existir, ou não seria tão bela como parece. Aliás, nunca os doutores da língua se preocuparam em defender uma língua própria para nós os brasileiros que, num saudosismo profundo, continuamos sendo PORTUGUESES.
Tenho dito!
AGORA, QUE TAL UMAS AULAS DE LATIM?
LIÇÃO 01
ESTUDO DIRIGIDO DA LÍNGUA LATINA
PARTE
INTRODUTÓRIA:
Esta parte
introdutória é apenas para que tenhamos um conhecimento básico da língua que
vamos estudar.
A língua latina remonta do século VII
a.C., indo até o século V d.C. Vale salientar que, historicamente, o latim
perdura do período que vai da fundação de Roma, em 753 a.C., até a queda do
Império Romano do Ocidente, em 476 d.C.
O latim originou-se do “Latium”, uma
região central da Itália, sendo falado pelos humildes pastores e por rústicos
agricultores. Ele foi absorvendo os demais falares itálicos, chegando a
tornar-se a língua nacional de todo o Império Romano, embora não chegasse a ser
uma língua rigorosamente uniforme em todo o país.
Historicamente, o latim, assim como
todas, ou a maioria das línguas, tem a sua história. O chamado Período
Proto-histórico, vai do século VII até 240 a.C., com o surgimento dos primeiros
documentos da língua. O Período Arcaico vai de 240 a.C. até o ano 81 a.C., com
o surgimento dos textos literários e os textos epigráficos.
O Período Clássico começa no ano 81
a.C. e vai até o ano 17 p.C.. É o chamado Século de Cícero, quando a prosa
atinge a sua perfeição com Cícero e Cesar. Esse período envolve ainda o Século de Augusto, quando a poesia chega à
sua perfeição com Vergílio, Horácio e Ovídio.
Depois, vem o Período Pós-Clássico,
que começa no ano 17 p.C. e vai até o século V. No século I e início do, século
II, surgem numerosos poetas e prosadores. Mas eles não são originários da
Itália. Já do século II até o século V, sente-se uma acentuada interferência da
língua corrente, na língua literária.
•
Havia uma certa diferença na
pronúncia entre o latim clássico e o latim vulgar:
•
O CLÁSSICO O VULGAR
•
Álacrem Alácre > Alegre
•
Cáthedram Cathédra >
Cadeira
•
Pónere Ponére > Pôr
•
Condúcere Conducére >
Conduzir
•
O Latim foi levado pelos
romanos até a Península Ibérica, ou Hispânica. Nada se sabe sobre os povos que
ali habitavam.
•
Sabe-se apenas que se tratavam
de iberos, celtas, fenícios, gregos e cartagineses. Também se sabe que muitos
séculos antes de Cristo, a Península era habitada pelos Iberos, um povo
agrícola e pacífico.
•
A
Península foi invadida, no século VI a.C., pelos Celtas, um povo turbulento e
guerreiro. Ele se mesclaram com os Iberos, dando origem aos povos Celtiberos.
•
Os
tempos passaram e os Fenícios, os Gregos e os Cartagineses estabeleceram
colônias comerciais em vários pontos da Península.
•
As
coisas mudaram quando os Cartagineses tentaram se apoderar totalmente da Península, levando os
Celtiberos a pedir socorro aos romanos que, no século III a.C., invadiram a
Península.
•
Mas
não foi o Latim visto nas obras dos grandes escritores latinos como Cícero,
César, Horácio, entre outros (o clássico), que chegou à Península, mas o Latim
usado pelo povo (o vulgar).
•
No
entanto, algumas povoações receberam diretamente a influência dos árabes que,
vindos da parte da África, no século VIII, tentaram impor sua língua. Chegaram
até a formar os moçárabes (misto árabe), mas sem muito sucesso.
•
Cerca
de mil vocábulos de origem árabe ainda existem na língua portuguesa. Eles se
caracterizam, de um modo geral, pelo prefixo AL (artigo definido árabe), como
exemplo, podemos citar: álgebra – algibeira – álcool – alcatifa – alface –
algarismo – alfazema – alcachôfra – almofada – alfafa – alfinete – algema –
algodão – alqueire – etc.
•
A
partir do século XV, a Língua Portuguesa é levada às regiões conquistadas,
estendendo o seu domínio geográfico.
Existiam, em Roma, duas modalidades acentuadamente distintas: o Latim Clássico,
(conhecido como SERMO URBANUS, mais usado nas escolas ou Academias), e o Latim
Vulgar, (conhecido como SERMO VULGARIS, sem se preocupar com as exigências
gramaticais).
Não podemos esquecer de outras
modalidades desta preciosa língua: O BAIXO LATIM, falado pelos padres da Igreja
da Idade Média, que se preocupavam com a formação moral de suas ovelhas; e o
LATIM BÁRBARO, conhecido como o Latim dos copistas da Idade Média. Era um latim
mesclado de vocábulos romances e provinciais.
E qual a diferença entre o latim
clássico e o vulgar? Esta, certamente, seria uma pergunta inevitável. Pois bem!
I - A primeira grande diferença a ser
vista está justamente na fonética. Entre o povo, havia uma tendência geral de
evitar os vocábulos proparoxítonos, transformando-os em paroxítonos. Por
exemplo: a palavra ALEGRE era pronunciada no clássico ÁLACREM, enquanto no
vulgar se pronunciava ALÁCRE; a palavra CADEIRA era CÁTHEDRAM, no latim clássico,
e CATHÉDRA, no vulgar.
II - Outra diferença era notada no
Léxico, havendo a predominância de uso de vocábulos mais populares e afetivos
com sufixos diminutivos, como podemos ver nos exemplos seguintes:
a)
A palavra IGNIS, que significa fogo,
foi substituída por FOCU, com sentido de “fogo doméstico”, lar.
b)
A palavra AURIS, que significa orelha,
foi substituída pela forma diminutiva AURÍCULA.
c)
A palavra EQUUS, que no latim
clássico significava cavalo, foi substituído por CABALLU, que designava
animal de trabalho e que tinha um certo cunho pejorativo.
d)
A palavra GENU (joelho), foi
substituída por GENUCULU, transformando-se em GEOLHO, no português arcaico.
III - Nota-se outra diferença entre o
latim clássico e o vulgar, considerando-se a parte morfológica, havendo
uma tendência para o uso de formas analíticas, conforme podemos ver a seguir:
a)
Enquanto no latim clássico se
dizia LIBER, no latim vulgar usava-se ILLU ou LIBRU (o livro), ou UNU LIBRU (um
livro)
b)
Encontramos uma diferença no uso
das formas analíticas na voz passiva dos verbos. Por exemplo, o Presente do
Indicativo passivo de AMARE (amar), era, no latim clássico, AMOR, enquanto no
latim vulgar dizia-se AMATUS SUM (sou amado).
c)
Há ainda uma diferença,
considerando-se o uso das formas analíticas
para os graus dos adjetivos. No latim literário, por exemplo, ao comparativos e os superlativos eram
formado de maneira sintética, ou seja, por sufixos. Assim, enquanto no latim
clássico se dizia DULCIOR, enquanto que no vulgar dizia-se MAGIS ou PLUS DULCE
(muito doce). A forma Magis teve predominância na Península Ibérica.
Naturalmente, o superlativo seria DULCÍSSIMUS no latim clássico, enquanto no
latim vulgar seria usado MULTU DULCE (muito doce), na sua forma analítica.
IV – Há também diferença na sintaxe,
ou seja, enquanto no latim clássico a função sintática das palavras na frase era exprimida através de desinências conhecidas como CASOS (veremos
mais na frente), no latim vulgar procurava-se eliminá-las, evidenciando as
relações entre as palavras por meio de preposições. Considerando a palavra
LIVRO como sujeito (o livro), teríamos, no latim clássico LÍBER (nominativo), e
no latim vulgar ILLU ou UNU LIBRU.
No período clássico, o alfabeto
latino contava vinte e três (23) letras:
A-B-C-D-E-F-G-H-I-K-L-M-N-O-P-Q-R-S-T-U-X-Y-Z.
Vale a pena lembrar que as letras Y e
Z só apareciam em transcrições de palavras gregas. Por isso, muitos não as
consideravam como letras latinas.
Outro registro que queremos fazer é
referente às vogais latinas: A-E-I-O-U. Elas são pronunciadas como em
português. Já o Y tem o som aproximado ao U francês (tem um som entre o I e o
próprio U, com o tradicional “biquinho” francês).
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
LIÇÃO 01
Durante a evolução do Latim para o
Português vamos encontrar algumas alterações, que serão chamadas de
METAPLASMOS. Lembramos que estas alterações são apenas fonéticas, com as
palavras conservando seu significado. Esses Metaplasmos aparecem de quatro
maneiras distintas:
a)
Por aumento (prótese, epêntese e
paragoge);
b)
Por supressão (aférese, síncope,
apócope e crase);
c)
Por transposição (metátese,
hipértese, sístole e diástole);
d)
Por transformação (vocalização,
consonantização, nasalização, assimilação, dissimilação, sonorização,
palatização, assibilação, ditongação, redução, apofonia e metafonia).
Vejamos
alguns exemplos:
Metaplasmos
por Aumento
a)
Aumento por prótese: Stare >
estar; Spiritu > espírito; Scutu >
escudo.
b)
Aumento por epêntese: Stella > estrela; Humile >
humilde; umeru > ombro.
c)
Aumento por paragoge: Ante >
antes.
Metaplasmos por Supressão
a)
Por aférese: Acume >
gume; Attonitu > tonto; Episcopu >
bispo; Horologiu > orologio > relógio; Apoteca > abodega >
bodega.
b)
Por síncope: Legale >
leal; Legenda > lenda;. Malu
> mau; Bondadoso > bondoso;
Tragicocomédia > tragicomédia; Formicicida
> formicida.
c)
Por apócope: Mare >
mar; Amat > ama; Male
> mal.
d)
Por crase: Pede > pee > pé;
Colore > coor > cor; Nudu > nuu > nu; Outra+hora > outrora;
De+este > deste; De+intro > dentro.
Metaplasmos
por Transposição
a)
Por metátese: Pro >
por; Semper > sempre; Inter
> entre.
b)
Por hipértese: Capio >
caibo; Primariu > primairo > primeiro; Fenestra > festra >
fresta.
c)
Por sístole: Pantânu >
pântano; Campâna > campa; Idólu
> ídolo.
d)
Por diástole: Límite >
limite; Pônere > ponere; Tênebra >
tenebra.
Metaplasmos
por Transformação
a)
Por vocalização: Nocte >
noite; Regnu > reino; Multu
> muito.
b)
Por consonantização: Iam > já; Iesus
> Jesus; Uita >
vida; Uacca > vaca.
c)
Por nasalização: Nec >
nem; Mihi > mim; Bonu >
bom.
d)
Por desnasalização: Luna > lua
> lua; Bona > bõa > boa; Ponere > põer > por.
e)
Por assimilação: Ipsu >
isso; Persona > pessoa; Mirabilia > maravilha; Per+lo > pello
> pelo; Auru > ouro; Lacte > laite > leite; Assibilare >
assibiar > assobiar; Amam-lo > amam-no; Nostro > nosso; Persicu >
pêssego; Captare > cattar > catar; Ipsa > essa.
f)
Por dissimilação: Liliu >
lírio; Memorare > membrar > lembrar; Rotundo > rodondo >
redondo; Aratru > arado; Cribru > crivo; Rostru > rosto.
g)
Por sonorização: Capio >
caibo; Lupu > lobo; Sapui > soube; Civitate > cidade; Maritu >
marido; Pacare > pagar; Aqua > água; Amicu > amigo; Aquila > águia;
Vicinu > vizinho; Facere > fazer; Profectu > proveito; caballu >
cavalo; Populu > pobo > povo.
h)
Por palatização: Vinea >
vinha; Aranea > aranha; Seniore > senhor; Juniu > junho / Palea >
palha; Folia > folha; Juliu > julho / Video > vejo; Hodie > hoje;
Invidia > inveja / Pluvia > chuva; Implere > encher; Clave > chave;
Flama > chama; Inflare > inchar / Oculu > oclo > olho; Apicula >
apecla > abelha; Tegula > tegla > telha; Scopulu > scoplo >
escolho / Pisce > peixe; Passione > paixão; Miscere > mexer; Russeu
> roxo / Cerevisia > cerveja; Basiu > beijo; Ecclesia > igreja.
i)
Por assibilação: Capitia >
cabeça; >Lentiu > lenço; Belitia > beleza; Ratione > razão (o T se pronuncia C ou Z)/ Audio > ouço; Ardeo > arço / Lancea
> lança; Minacia > ameaça; Judiciu > juízo; Gallicia > Galiza.
j)
Por ditongação: Malo > mao
> mau; Sto > estou; Do > dou; Arena > área > areia.
k)
Por redução: Fructo > Fruito
(forma arcaica) > fruto; Lucta >
luita (forma arcaica) > luta; Auricula > orelha.
l)
Por apofonia: In+aptu >
inepto; In+barba > imberbe; Sub+jactu > sujeito.
m)
Por metafonia: Debita >
dívida; Tosso (verbo tossir) > tusso; Cobro (verbo cobrir) > cubro;
Tepidu > tíbio.
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
No Latim temos seis casos, cada um
deles com funções sintáticas distintas. Os seis casos são:
a)
NOMINATIVO, com a função
sintática de Sujeito;
b)
VOCATIVO, com a função sintática
do próprio Vocativo em português;
c)
GENITIVO, com a função sintática
de Adjunto Adnominal Restritivo;
d)
DATIVO, com a função sintática de
Objeto Indireto;
e)
ABLATIVO, com a função sintática
de Adjunto Adverbial;
f)
ACUSATIVO, com a função sintática
de Objeto Direto.
É preciso observar que em Latim não
se usa pronomes (singular ou plural), uma vez que a própria declinação já
coloca o sujeito com seus respectivos complementos. Por exemplo:
Puella est pulchra = A menina é bela
Neste caso, Puella (menina) é o
sujeito da oração e está no singular. Ora, se a palavra tem a função de
sujeito, automaticamente ela está no Nominativo. Se está no Nominativo
singular, sua terminação é A.
Por outro lado, a palavra Pulchra
(bela) é o adjunto Adnominal da oração e está concordando com MENINA, no
singular. Logo, se ela é um Adjunto Adnominal, logicamente está no Genitivo. Se
está no Genitivo singular, sua terminação é A.
Vejamos, agora a mesma frase no
plural:
Puellae sunt pulchrae = As meninas
são belas.
Neste caso, a terminação do Nominativo
Plural é AE. A mesma terminação vai para o Genitivo plural (AE).
Bem! Você perguntaria: - Como vou
saber a declinação
Na primeira declinação, o Genitivo
singular termina em AE.
AS DECLINAÇÕES:
Em Latim, existem cinco (5)
Declinações.
Todas as palavras que tem o GENITIVO
singular em AE pertencem à Primeira Declinação. As desinências da 1ª Declinação
são as seguintes:
Nominativo singular >
A - Nominativo plural >
AE
Vocativo singular >
A - Vocativo plural >
AE
Genitivo singular >
AE - Genitivo plural >
ARUM
Dativo singular >
AE - Dativo plural > IS
Ablativo singular >
A - Ablativo plural >
IS
Acusativo singular >
AM - Acusativo plural >
AS
OBS.: Volte um pouco
e dê uma lida nos casos e suas funções sintáticas, para que você entenda este
caso com mais facilidade. Procure aprender bem os casos e as declinações.
A seguir, continuação
desta aula com as outras declinações. Até lá!
FIM DA PRIMEIRA LIÇÃO
-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-
LIÇÃO 02
Dando sequência ao nosso estudo,
vamos conhecer as desinências da 2ª Declinação, cujo Genitivo singular termina
em I. logo, qualquer palavra que traga essa desinência no genitivo singular,
pertence à 2ª Declinação, como podemos ver nos exemplos: ROMANUS – Romani /
LIBER – Libre / VIR – Viri / BELLUM – Belli.
Você deve ter notado nos exemplos
algumas palavras com terminações diferentes. É que existem um grande número de
palavras da 2ª declinação que fazem o seu Nominativo em US (romanus-i;
dominus-i; servus-i, etc.0
No entanto, existe um número menor de
palavras, cujos nominativos terminam em
ER, mas que também pertencem à 2ª declinação. São exemplos as palavras
LIBER-libri; AGER – agri; PUER – pueri, etc.
•
Muitas
palavras da língua portuguesa têm derivações prefixais latinas. Vejamos
algumas:
•
Ab+dicar
(do latim abdicare) = renunciar;
•
Ab+jurar
(do latim abjurare) = jurar contra;
•
Abs+ter
(do latim abstinere) = privar de alguma coisa;
•
Abs+trair
(do latim abstrahere) = separar;
•
A+versão
(do latim aversio) = grande repugnância; antipatia;
•
Ad+junto
(do latim adjunctus) = próximo; unido;
•
Ad+venticio
(do latim adventicius = que vem de fora; estranho.
•
VEJAMOS
ALGUNS PREFIXOS LATINOS
•
Ab > (Separação;
afastamento) Ab+duzir (abducere) = desviar; afastar.
•
Abs > (Separação;
afastamento) Abs+conso (absconsus) = escondido; difícil de compreender;
•
A > (Separação;
afastamento) A+nimar (animare) = dar vida; dar ânimo;
•
Ad > (Aproximação;
direção) Ad+vogado (advocatus) = assistir, representar alguém;
•
Ar > Ar+rebanhar
(rapinare) = ajuntar; reunir;
•
As > As+sentir
(assentire) = consentir, concordar;
•
Ante > (Anterioridade) Ante+braço (ante+brachium) =
parte entre o cotovelo e o pulso;
•
Circum(n) > (Movimento em
torno) Circun+vagar (circumvagare) = andar em torno; dar voltas;
•
Cis > (a maioria do
grego KIS) > (Posição aquém) Cis+terna (cisterna) = reservatório para água.
•
OS
RADICAIS LATINOS
•
AGRI
> ager, agri > campo > agri+culto (tura);
•
AMBI
> ambo > ambos > ambi+destro;
•
ARBORI
> arbor, oris > árvore > arborí+cola;
•
AVI
> avis, avis > ave > avi+fauna;
•
BIS/BI
> bis > duas vezes > bis+avô/bí+pede;
•
CALORI
> calor, oris > calor > calorí+fero;
•
CRUCI
> crux, ucis > cruz > cuci+fixo;
•
CURVI
> curvus, a, um > curvo > curvi+líneo;
•
EQUI
> aequuos, a, um > igual > equi+distante;
•
FERRI,
O > ferrum, i > ferro > ferrí+fero / ferro+via;
•
IGNI
> ignis, is > fogo > igní+vomo (vomita
fogo)
•
LOCO
> locus, i > lugar > loco+motiva;
•
MORTI
> mors, mortis > morte > mortí+fero;
•
MULTI
> multus, a, um > muito > multi+forme;
•
OLEI/OLEO
>
oleum, i > azeite, óleo > oleí+geno/oleo+duto;
•
ONI
>
omnis, e > todo > oni+potente / onis+ciente;
•
PEDI
> Pes,
Pedis > pé > pedi+lúvio;
•
PISCI
> piscis,
is > peixe > pisci+cultor;
•
PLURI
> plus,
pluris > muitos, vários > pluri+forme;
•
QUADRI/QUADRU
> qualtuor
> quatro > quadri+motor; quadrú+pede;
•
RADIO
> radius,
ii > raio > radio+grafia;
•
RETI
> rectus,
a, um > reto > reti+líneo;
•
SEMI
> semi
> metade > semi+circulo; semi+árido;
•
SESQUI
> sesqui
> um e meio > sesqui+centenário;
•
TRI
> tres,
tria > três > tri+color;
•
UNI
> unus,
a, um > um > uní+ssono;
•
VERMI
> vermis,
is > verme > vermí+fugo; vermi+cida.
COMO SEGUNDO ELEMENTO DA COMPOSIÇÃO
•
CIDA
> que
mata > regi+cida; sui+cida;
•
COLA
> que
cultiva ou habita > vití+cola; arborí+cola;
•
CULTURA
> ato
de cultivar > api+cultura; pisci+cultura;
•
FERO
> Que
contém ou produz > aurí+fero; flamí+fero;
•
FICO
>
que faz ou produz > bené+fico; frigorí+fico;
•
FORME
>
que tem forma de > cunei+forme; flori+forme;
•
FUGO
> que
foge, que faz fugir > centrí+fugo; febrí+fugo;
•
GERO
> que
contém; que produz > armí+gero; belí+gero;
•
SONO
> que
soa > horrís+sono; unís+sono;
•
VORO
> que
come > carní+voro; herbí+voro.
•
OBS.:
Na língua portuguesa, estas palavras recebem o nome de sufixos.
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
•
VERBO
SUM = SER (Verbo Irregular)
•
Sum – Es – Est – Summus – Estis –
Sunt.
(presente)
•
Eram – eras – erat – eramus –
eratis – erant. (Imperfeito)
•
Ero – eris – erit – erimus –
eritis – erunt. (Futuro do Imperfeito)
•
Fui – fuisti – fuit – fuimus –
fuistis – fuerunt. (Perfeito)
•
-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-
•
VERBO
AMARE
= AMAR > 1ª conjugação
•
Amo – Amas – Amat – Amamus –
Amatis – Amant. (Presente do Indicativo) AMO
•
Amabam – Amabas – Amabat –
Amabamus – Amabatis – Amabant (Imperfeito) AMAVA
•
Amabo – Amabis – Amabit –
Amabimus – Amabitis – Amabunt (Futuro do Presente) AMAREI
•
Amavi – Amavisti – Amavit –
Amavimus – Amavistis –Amaverunt (Perfeito) AMEI – TENHO AMADO
•
VERBO
LEGERE = LER
- 3ª conjugação
•
(Lego, is, legi, lectum, ere)
•
Lego – legis – legit – legimus
– legitis – legunt
(presente)
•
Legebam – legebas – legebat –
legebamus – legebatis – legebant. (Imperfeito)
•
Legam – leges – leget – legemus –
legetis – legent. (Futuro)
•
Legi – legisti – legit – legimus
– legistis – legerunt. (Perfeito)
•
VERBO
LAUDARE =
LOUVAR (1ª Conjugação)
•
Laudo – Laudas – Laudat – Laudamus – Laudatis –
Laudant. (Presente
do Indicativo) - LOUVO
•
Laudabam – Laudabas – Laudabat – Laudabamus –
Laudabatis – Laudabant. (Imp.
do Indicativo) LOUVAVA
•
Laudabo – Laudabas – Laudababit – Laudabimus –
Laudabitis – Laudabunt. (Fut.
do Presente) LOUVAREI
•
Laudavi – Laudavisti – Laudavit – Laudavimus –
Laudavistis – Laudaverunt. (Perfeito)
Louvei / Tenho louvado.
OBS.: Outro fato que
precisamos destacar é o não uso dos pronomes pessoais (eu – tu – ele(s) – nós –
vós – eles) em alguns casos do Latim,
com o podemos notar nas conjugações dos verbos. Isso não significa dizer que
eles não existem no Latim. Vamos conhecê-los!!!
Em primeiro lugar, precisamos saber
que o PRONOME é a palavra que substitui ou pode substituir o SUBSTANTIVO.
Então, vamos conhecer os Pronomes Pessoais Latinos:
SINGULAR
Nominativo EGO -
TU (não tem)
Vocativo (não tem) -
TU (não tem)
Genitivo MEI - TUI - SUI
Dativo MIHI - TIBI - SIBI
Ablativo ME -
TE - SE
Acusativo ME -
TE - SE ou SESE
PLURAL
Nominativo - NOS - VOS - (não tem)
Vocativo - (não tem) - VOS -
(não tem)
Genitivo - NOSTRUM ou NOSTRI -
VESTRUM ou VESTRI - SUI
Dativo - NOBIS - VOBIS - SIBI
Ablativo -
NOBIS
- VOBIS - SE
Acusativo - NOS - VOS - SE ou SESE
Observações:
1 - Note que no singular
e no plural do CASO RETO não existem
Vocativos nas 1ª e 3ª pessoas e Nominativo nas 3ª pessoas. Já no singular
e no plural do CASO OBLÍQUO existem Pronomes em todos os casos.
Vejamos esses
exemplos:
Me laudant =
Louvam-me > Verbo transitivo direto.
Mihi parente =
Obedecem-me > Verbo transitivo
indireto.
Veja que, em
Português ME, TE, NOS, VOS servem para objetos diretos e indiretos. Em Latim,
as formas são diferentes.
PRONOMES
DEMONSTRATIVOS
Em Latim, os pronomes
demonstrativos se apresentam nas formas: Masculino, Feminino e Neutro, como
podemos ver no quadro seguinte:
MEU -
MEUS - MEA -
MEUM
TEU -
TUUS - TUA - TUUM
SEU -
SUUS - SUA
- SUUM
NOSSO -
NOSTER - NOSTRA
- NOSTRUM
VOSSO -
VESTER - VESTRA
- VESTRUM
SEU -
SUUS - SUA - SUUM
Preste atenção nestas
expressões com a palavra IPSE (pronome
demonstrativo): “IPSE CAESAR” (O próprio
Cesar) – “TRIENNIO IPSO MINOR” (Justamente
três anos mais moço).
O próprio – a própria
– ele próprio – ela própria – eu próprio – tu próprio.
•
Vejamos alguns exemplos simples,
para nos familiarizarmos com o Latim:
•
1 – Poeta linguam Graeciae amat. (O poeta ama a língua da Grécia).
(Poeta linguam graeciae amat)
•
POETA está no nominativo
singular. Logo, é o sujeito da oração. (o poeta)
•
LINGUAM está no acusativo. Logo,
é o Objeto Direto da oração. (a língua)
•
GRAECIAE está no Genitivo
singular. Logo, é o Adjunto Adnominal da oração. (da Grécia)
•
AMAT é o verbo da oração e está
na 3ª pessoa do singular, referindo-se ao poeta.
•
OBS.:
Geralmente, em Latim, o verbo vem no final da frase.
•
2 – Maria mater
Jesu est. (Maria é a mãe de Jesus)
•
Maria (suj.) / Mater (comp. nom.) /
Jesu (comp. adnominal.)
•
3 – Agricolae amant
campum. (os agricultores amam o campo)
•
Agricolae (suj.) / Campum (obj. dir.)
/ Amant (verbo amare)
•
4 – Agricolas
laudamos. (saudamos os agricultores)
•
Agricolas (obj. dir.) Laudamus (verbo
laudare)
•
5 – Victoriam
nuntiamus. (anunciamos a vitória)
•
Vitoriam (obj. dir.) Nuntiamus (verbo nuntiare)
•
6 – Regina
ancillarum. (ó rainha das escravas)
•
Regina (vocativo) Ancillarum (adj.adn.)
•
7 – Ancilla
reginae. (ó escrava da rainha)
•
Ancilla (vocativo) Reginae (adj. Adn.)
•
8 – Regina
nautarum. (ó rainha dos marinheiros)
•
Regina (vocativo) Nautarum (adj. Adn.)
•
9 – Poetae (dat.)
victoriae (gen.). (ao poeta da vitória)
•
Poetae (obj. ind.)
Victoriae (adj. Adn.)
-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-
QUE
TAL CANTARMOS O HINO NACIONAL BRASILEIRO EM LATIM!!!
•
HYMNUS
BRASILIENSIS
I
•
Audierunt Ypirangae ripae
placidae,
•
Heroicae gentis validum clamarem,
•
Solisque libertatis flammae
fulgidae,
•
Sparsere Patriae in caelos tum
fulgorem.
•
Pignus vero aequalitatis
•
Possidere si poluimus brachio forti
•
Almo gremio en libertatis,
•
Audem sese offert ipsi pectus morti!
•
O cara Patria, Amoris atria,
•
Salve! Salve!
•
Brasília, somnium tensum, flamma
vivida,
•
Amorem ferem spemque ad orbis
claustrum,
•
Si pulchri caele alacritate
limpida,
•
Splendescit almum, fulgens,
Crucis plaustrum.
•
Ex propria gigas positus natura,
•
Impavida, fortisque, ingensque moles,
•
Te magnam praevidebunt jiam futura.
•
Tellus dilecta, Inter similia
•
Arva, Brasilia, Es Patria electa!
•
Natorum parens alma es inter
lilia,
•
Patria cara, Brasilia
•
In cunis semper strata mire
splendidis,
•
Sonante mari, caeli albo
profundi,
•
Effulgie, o Brasilia, flos Americae,
•
A soli irradiata Novi Mundi!
•
Ceterisque in arbe plagis
•
Tui rident agri florum ditiores;
•
“Tenent silvae en vitam magis,
•
Magis tenet tua sinu vita amores.”
•
O cara Patria, amoris atria,
•
Salve! Salve!
•
Brasilia, aeterni amoris
fiat symbolum,
•
Quod affers tecum,
labarum stellatum.
•
Em
dicat aurea viridisque flammula
•
Ventura pax decusque superatum.
•
Si vero tollis Themis clavam fortem,
•
Non filios tuos videbis
vacillantes,
•
Aut, in amando te, timentes
mortem.
•
Tellus dilecta, Inter similia
•
Arva, Brasilia, es Patria electa!
•
Notorum parens alma es inter lilia,
•
Patria cara, Brasilia!
FIM DA AULA 02 -
ATÉ A PRÓXIMA AULA!