sábado, 11 de abril de 2009

POR QUE SOU VASCAINO?




POR QUE SOU VASCAINO?

“SER VASCAÍNO É, ACIMA DE TUDO, UMA QUESTÃO DE INTELIGÊNCIA E SABEDORIA!”
(Adalberto Claudino Pereira)

1898 - A FUNDAÇÃO

O século XIX estava com os dias contados.
Prudente de Morais, o terceiro presidente de nossa República, encerrava o seu mandato. O Rio de Janeiro, Distrito Federal, com pouco mais de 500 mil habitantes, era o lugar preferido de jovens que participavam de saraus e recitavam poesias. Nesse ambiente cultural, o remo era um dos únicos esportes com algum destaque na cidade. Aos domingos, uma pequena e educada multidão se agrupava nos arredores do Passeio Público e da Rua Santa Luzia para ver, nas águas limpas da Baía de Guanabara, competições entre os barcos de clubes e seus remadores.

Nessa época, quatro jovens - Henrique Ferreira Monteiro, Luís Antônio Rodrigues, José Alexandre d `Avelar Rodrigues e Manuel Teixeira de Souza Júnior - , cansados de viajar a Niterói para remar com barcos do Club Gragoatá, decidiram fundar uma agremiação de remo.

Depois de uma reunião na casa de um deles, à Rua Teófilo Ottoni 90, o número de interessados aumentou, e os encontros foram transferidos para o Clube Recreativo Arcas Comercial (Rua São Pedro). A idéia era conseguir a adesão de caixeiros portugueses, que gostavam de esportes e não tinham dinheiro para o ciclismo, em voga na época.

Chegara a hora da fundação. Com 62 sócios assinando presença, no dia 21 de agosto de 1898, no Clube Dramático Filhos de Talma (Rua da Saúde, 293) nascia um gigante chamado Club de Regatas Vasco da Gama. A reunião foi presidida por Gaspar de Castro, que convidou para secretariá-lo Virgílio Carvalho do Amaral e Henrique Teixeira Alegria.

Minha admiração pelo Clube de Regatas Vasco da Gama começou lá pelos anos 50, quando havia um jogador chamado Ademir Menezes, cujo futebol era bastante elogiado e isso fez com que eu passasse a admirá-lo.

Muito novo, ainda criança, eu não conhecia a história do Vasco, mas em 1959, em Campina Grande, comecei a jogar futebol e justamente no Vasco da Gama do Monte Santo. Meu amor pelo Vasco tomou grandes proporções.

Os anos passaram e eu sempre vascaíno. Foi algo especial que nasceu em mim. Interessante é que, na mesma época em que comecei a admirar o Vasco da Gama, também passei a admirar o Corinthians Paulista, justamente por um jogador chamado Baltazar, conhecido como “cabecinha de ouro”. Era natural as crianças torcerem por um clube impulsionados pela simpatia por determinados jogadores.

Esses dois clubes brasileiros encontraram em mim um grande torcedor. Alguns amigos perguntavam como ficaria eu quando os dois se encontrassem, mas eu sempre respondia que o Vasco da Gama estava em primeiro lugar. É aquele tal negócio de você só saber de quem gosta mais num momento como esse, quando o seu coração fala mais alto. E no meu só havia espaço para o Vasco.

Para minha alegria, passei a ler mais sobre o "Gigante da Colina" e descobri o quanto ele representa para a história do Brasil. Foi aí que vi que nenhum outro clube brasileiro tem uma história tão emocionante e cheia de tanta coragem. Só um clube como o Vasco da Gama tem tanto brilho ao ponto de causar invejas. Sim! Porque ser contra o Clube da Cruz de Malta é, antes de tudo, ser contra a própria história.

Para dar mais ênfase a esta declaração de amor ao meu VASCÃO DA GAMA, orgulho-me ao transcrever o seguinte:

A História gloriosa do Club de Regatas Vasco da Gama está repleta de fatos importantíssimos. Nosso Clube tem escrito uma das mais belas páginas do desporto brasileiro. Tornou-se uma tarefa das mais difíceis escolhermos dentre tantos feitos algum que pudesse vir a ser a abertura da história vascaína. Acabamos por pinçar, em meio a tantos acontecimentos relevantes, o ato praticado pelo Dr. José Augusto Prestes, Presidente do Vasco em 1924, que não permitiu que o nosso Clube se sujeitasse às coações no sentido de excluir dos seus quadros os atletas negros bem como os de origem humilde. Reproduzimos, a seguir, a carta magistral do nosso então Presidente, um documento com a marca do pioneirismo, independência e, acima de tudo, justiça social, que caracterizam o Club de Regatas Vasco da Gama.

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261

Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos

As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado

(a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente

Os vascaínos elegeram o primeiro presidente não-branco da história dos clubes esportivos em atividade no Rio. Numa época em que o racismo dominava o esporte, Cândido José de Araújo, um mulato que não dispensava a elegância de um cravo branco na lapela, fez uma gestão exemplar, apresentando o Vasco como um clube aberto e sem preconceitos.

Assim, o Clube de Regatas Vasco da Gama, demonstrando ser uma agremiação voltada para o sentimento de cidadania, não se deixou levar pelas ameaças da entidade maior do futebol carioca (AMEA). Não se acovardou, a exemplo de outras equipes que “negociaram” seu caráter, para satisfazer os cartolas” cariocas.

Lutar em favor dos jogadores pobres e negros foi uma iniciativa corajosa e mais que isso: humana. Fatos como este engrandece um clube que, como retribuição a sua idoneidade e a sua ética esportiva, foi perseguido pelos seus adversários e pela própria imprensa.

Quem não se orgulha em torcer por um clube de tamanha envergadura moral? Quem não se orgulha em torcer por um clube que tem a bandeira mais bonita do Brasil e o um símbolo histórico como o Vasco da Gama?

Eu não seria tão feliz sendo torcedor de outros clubes, cujas histórias não apresentam motivos honrosos para servirem como opções, a não ser inspirações fúteis em outros clubes estrangeiros.

O Clube de Regatas Vasco da Gama já nasceu com um nome histórico. Já traz do berço o sabor da honra e da glória. Diante de tudo isso, eu costumo dizer que SER VASCAINO É, ACIMA DE TUDO, UMA QUESTÃO DE INTELIGÊNCIA E SABEDORIA.

Mas a história do Clube de Regatas Vasco da Gama não para por aí. O Estádio de São Januário, palco de importantes acontecimentos político-sociais, passou a ser chamado de “A COLINA HISTÓRICA”. Foi nele que o então presidente Getúlio Vargas fez uma dos seus mais históricos pronunciamentos.

1948 - VASCO CONQUISTA PRIMEIRO TÍTULO INTERNACIONAL PARA O BRASIL

Com a volta de Ademir ao time, um título muito especial estava reservado para o ano de 1948. O Vasco, como campeão do Distrito Federal de 1947, foi convidado pelo Colo Colo para disputar o Torneio dos Campeões Sul-Amaericanos, no Chile. Jogando contra grandes times de sete países do continente, em turno único, todos contra todos e contando pontos corridos, os cruzmaltinos não deram chances aos adversários e trouxeram o caneco para casa de forma invicta.

A conquista começou a ser desenhada na segunda partida, em que o Vasco aplicou um irreparável 4x0 no temido Nacional, do Uruguai, do artilheiro Atílio Garcia. Pintou em cores vivas quando a equipe de São Januário arrancou um empate em 1x1 com o time da casa. E virou realidade no heróico 0x0 contra o River Plate de Di Stéfano que marcara 27 gols no campeonato argentino daquele ano. Nesse jogo, que entrou para a história do Vasco, Barbosa pegou um pênalti e o árbitro anulou um gol do Vasco.

Esta conquista representou o primeiro título internacional do futebol brasileiro, seja de clube ou seleções, o que reforça o pioneirismo do Clube de São Januário.

Acho que este resumido histórico é suficiente para mostrar aos “inimigos” do Vasco os motivos pelos quais este é o clube do meu coração. O ódio, a raiva, a ira, o despeito dos adversários nunca serão suficientes para remover de mim este amor de mais de 50 anos. Abomino quaisquer comentários que partam dos insignificantes adversários do honrado e corajoso CLUBE DE REGATAS VASCO DA GAMA.

Aliás, o Vasco já está acostumado com as perseguições, desde a sua fundação, por rejeitar qualquer tipo de preconceito contra os favelados e as pessoas de cor. O Vasco é muito grande para resistir aos ataques daqueles que, coniventes com os atos desumanos contra os menos favorecidos, tornam-se pequenos e frágeis para enfraquecê-lo.

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